Lucas Berlanza
Sabemos que muitas das pautas
a que se submetem o “Jornalismo militante” e os meios de difusão de ideias e
produções culturais no país vêm de cima, oriundas das maquinações ideológicas
das esquerdas esclerosadas dos países desenvolvidos – os intelectuais e
magnatas do Partido Democrata dos EUA, por exemplo. Mas há que se reconhecer
que uma certa arrogância brasileira se impõe quando adaptamos essas retóricas
doentias ao universo tupiniquim.
É o caso da agenda das “Fake
News” (notícias falsas). No programa Canal Livre do domingo (02/04), a emissora
Band convidou Leandro Karnal para discorrer sobre os dramas da “pós-verdade” –
mais uma patifaria conceitual que serve para sustentar teses de interesse
daqueles grupos, segundo a qual os sentimentos e emoções, isto é, o reino do
subjetivo, importam mais para as pessoas nos dias correntes do que as informações
objetivas na avaliação dos fatos, e as redes sociais estariam colaborando para
isso. Supostamente existiu uma era de precisa objetividade em que as pessoas
não rejeitavam teimosamente os fatos na hora de dar vazão às suas crenças e
fanatismos, e em que só imperavam as informações cristalinas e expressões da
“pura verdade”; os teóricos só se esqueceram de dizer quando foi essa era, da
qual não se tem registro.
De todo modo, não assisti à
entrevista, nem tive qualquer interesse em fazê-lo. Limitei-me a acompanhar o
vídeo introdutório, que costuma fazer comentários gerais para traçar uma
perspectiva sobre o tema a ser abordado pelo convidado do programa, desta vez
narrado pelo âncora Fábio Pannunzio – o mesmo que, em uma demonstração de
péssima postura profissional, discutiu em entrevista via rádio com o vereador
do DEM de São Paulo, Fernando Holiday, e praticamente não permitiu que ele
respondesse a perguntas sobre a acusação de caixa 2.
Pannunzio comentou que as
redes sociais estão sendo chamadas à responsabilidade pela proliferação de
notícias falsas e que “o Brexit e a eleição de Donald Trump são apenas alguns
exemplos de decisões tomadas com base em falsas informações”. Agora vejamos
como são as coisas; aí está por que falamos em arrogância brasileira. Que a
afirmação faz parte de uma agenda perigosíssima, apenas repercutida aqui e não
criada no Brasil, de controle do fluxo de informações falsas, que pode dar
vazão à pura e simples censura em nome do politicamente correto – o que tem
amplíssima vocação totalitária -, isso já foi exaustivamente sustentado com
razão por outros blogueiros e colunistas, como o Luciano Ayan, da página
Ceticismo Político.
Aqui nos concentramos
particularmente no seguinte: Pannunzio apresenta alguma demonstração
estatística de que uma “informação falsa” levou britânicos e americanos a
tomarem suas decisões, vale dizer, soberanas e democráticas? Donald Trump não
foi acusado de toda sorte de mentiras, como de ter debochado de um deficiente
físico – o que ficou mais do que provado que não aconteceu? Não teria sido ele,
com todos os seus defeitos, a vítima da proliferação de mentiras na GRANDE
MÍDIA no período eleitoral americano? Onde é que está a base para uma pequena
introdução em forma de reportagem jornalística no Brasil fazer uma afirmação pedante
como essa sobre as escolhas de outros povos?
A Band pelo visto soube bem
abordar o tema das “Fake News”, porque pontificou uma informação sem base
alguma, que poderia muito bem, por critérios bastante razoáveis, ser enquadrada
como tal; mas se a Band quer falar em “informações falsas” e “pós-verdade”
(repetimos: ilusões que encantam as emoções e fazem com que seus adeptos
dispensem a racionalidade e objetividade), por que não olhar para o próprio
Brasil? Por que não olhar para o PT e para a reeleição de Dilma Rousseff?
As pessoas por muito tempo –
alguns até hoje – apoiaram um governo que adotou uma matriz econômica gastadora
e inflacionária, que se jactou de sua “heterodoxia”, de resistir à “crise”, de
receber no país apenas o impacto de uma “marolinha” do distúrbio internacional,
que vendeu para o povo a “fé inabalável” em que os prognósticos dos economistas
eram uma miragem e em que os adversários tucanos eliminariam os “programas
sociais”. Milhões de brasileiros tiveram a falta de lucidez ou informação
suficiente para acreditar.
O resultado, todos sabemos.
Então, Band e Pannunzio deveriam se perguntar: quem diabos somos nós para dar
aulas ao mundo anglo-saxônico sobre como eles deveriam votar e resolver suas
demandas? Que currículo de ceticismo saudável nós temos para apresentar antes
de censurar a credulidade irrefletida dos outros? Como diria o filósofo: “fala
sério”!
Título, Imagem e Texto: Lucas
Berlanza, Instituto Liberal, 7-4-2017
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