Maria João Marques
Tem muita piada que a esquerda
sonsa que dá lições de democracia enquanto quer ignorar a vitória eleitoral de
PSD e CDS queira fugir às responsabilidades históricas da ideologia que PCP e
BE propagam.
Elenco as características mais
salientes de António Costa: a) é um megalómano e b) as suas limitações não lhe
permitem capacidade de aprendizagem. Pelo que julga-se capaz (ele, cuja
competência o fez perder com estrondo eleições fáceis) de domar – da forma que
só conta (oh que conveniente) depois de ser indigitado primeiro-ministro – no
governo ou no parlamento o PCP e o BE. Como se fosse igual ter um vereador
comunista a emitir uma licença para uma festa de uma associação de estudantes e
ter PCP e BE a impor legislação (ou lá se vai o acordo) para incinerar a
iniciativa privada de um setor, a gerar desemprego ou até, quem sabe, como na Venezuela
(esse regime que tanto amam), a ilegalizar o lucro das empresas.
É que, sinceramente, olhando
para PCP e para BE, os nossos problemas mais pequenos são os compromissos com a
NATO ou a permanência no Euro. O BE apoiou os grupos terroristas ETA e IRA.
Estas agremiações estão agora mais recatadas – quem sabe se não por País Basco
e Irlanda do Norte, esses territórios tiranicamente colonizados, terem os
supermercados cheios (ao contrário da Venezuela) – mas organizaram o seu
quinhão de atentados e de mortes de inocentes. Os amigos do BE.
O PCP é um caso ainda mais
interessante. Porque há muito mais para dizer – que o comunismo não é
unidimensional – do que referir os milhões que morreram à fome nas campanhas de
socialização da agricultura de Lenine, Estaline e Mao. Ou requisitar à vitrina
dos crimes contra a humanidade os gulags do ameno clima siberiano e a Revolução
Cultural Chinesa (sintomaticamente chamada de Holocausto Chinês).
Não devemos ser picuinhas a
enumerar as aberrações do comunismo. Há dois autores que recomendo muito:
Orlando Figes para a União Soviética com A People’s Tragedy e The
Whisperers e Frank Dikotter para a China com The Tragedy of Liberation
(reparou na prevalência do termo ‘tragédia’ aplicado ao comunismo, não reparou?
pois) e Mao’s Great Famine (e para 2016 está prometida a obra de
Dikotter sobre a Revolução Cultural).
Em The Whisperers [há
uma tradução portuguesa, Sussurros, da Aletheia], que dá conta da
brutalidade estalinista sobre qualquer dissidente, podemos perceber que o
perigo do comunismo não é só a nacionalização da banca. É a guerra que faz a
qualquer instituição que perigue a hegemonia do partido comunista – por exemplo
as famílias, que tinham de ser vergadas, estilhaçadas, quebradas até colocar os
indivíduos, atónitos com o terror de serem perseguidos, mais fiéis ao partido
comunista que aos familiares.
Na China, esperava-se divórcio
rápido de quem estava casado com alguém que por artes do I Ching de repente se
via como inimigo do povo. Os filhos denunciavam os pais capitalistas e os
colegas direitistas.
Nos dois países a vigilância
era constante e omnipresente, a denúncia cobarde era premiada, qualquer
pecadilho se usava para destruir uma pessoa e os seus.
O mais curioso nas sociedades
comunistas é que com tanta luta de classes produzem as classes sociais mais
rígidas, com uma férrea hierarquia determinada pela proximidade com a cúpula do
partido comunista. Na URSS a aristocracia partidária usufruía de espaçosos
apartamentos em Moscovo, dachas luxuosas nos arrabaldes, estâncias de veraneio
na Crimeia; o resto da população morria (literalmente) de frio em exíguos
apartamentos enregelados. Na China, durante a Revolução Cultural, cunhou-se
mesmo o termo de ‘linha de sangue’ para aferir a classe inescapável a que se
pertencia – determinada pela posição social do patriarca da família em 1949.
Qualquer bom revolucionário só casava dentro das classes vermelhas (as boas). O
amor e o desejo eram luxos burgueses e, tal como os cristãos ultraconservadores
que apenas cedem aos apetites para procriar, o bom chinês casava-se somente
para dar novos revolucionários ao partido.
Um bom filme para entender o
(falhanço do) comunismo é Ninotchka, o filme de 1939 onde Greta Garbo
riu. Frank Zappa opinou que ‘communism doesn’t work because people like to
own stuff’. Com Ninotchka passa-se algo parecido. Quando chega a Paris
escandaliza-se com um chapéu de senhora escultural e pouco prático, exposto
numa montra, e decreta que uma civilização que produz tal coisa está
amaldiçoada. Mas depois da sua famosa gargalhada – que lhe libertou o humor e
até lhe fez perceber que a atração entre uma mulher e um homem envolve mais que
reações químicas corporais – Ninotchka compra o silly hat. E o comunismo
não resulta também por isto: as pessoas gostam de possuir chapéus (e carteiras
e cachecóis e etc.) tontos. De regresso a Moscovo, Ninotchka vive a escassez de
privacidade e a abundância de vigilância na casa que partilhava com outras
famílias, tão bem plasmada em The Whisperers.
Mas dir-me-ão que o PCP já
nada tem a ver com isto, passa à frente, get a life. Errado. É por estar tão
destinado a falhar que o comunismo necessita sempre de estar acompanhado de
repressões laterais. O PCP nunca renegou a sua matriz soviética nem fez
qualquer penitência – e que era devida – pelos crimes do comunismo. Há poucos
anos a deputada Rita Rato afirmava desconhecer o gulag (a ignorância é uma
benção) e ainda hoje o PCP apoia os odientos regimes comunistas que sobrevivem.
Tem de resto muita piada que a esquerda sonsa que agora dá lições de democracia
enquanto advoga que se ignore a vitória eleitoral de PSD e CDS, a mesma
esquerda que faz vida de atirar o epíteto de salazarenta para cima de uma
direita que nada teve a ver com o Estado Novo (de resto o PS é quem melhor
capta as figuras que lá pulularam), queira agora fugir às responsabilidades
históricas da ideologia que PCP e BE propagam.
Má sorte, que há quem tenha
todo o prazer em continuar a acenar com a imoralidade intrínseca ao comunismo.
E a ver vamos se o país pobre que em 1974 e 1975 reagiu violentamente à
possibilidade de ser tiranizado pelo PCP não irá reagir em 2015, muito mais
rico e com muito mais silly hats a perder, de forma igualmente
inesperada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-