João Bosco Leal
É muito comum a tendência de
só trilharmos por caminhos conhecidos, já experimentados por outras pessoas,
pois assim deixamos de cair onde outros já caíram ou sofrer o que já foi
sofrido por alguém.
Esse é o caminho mais fácil a
ser seguido para aqueles que não querem correr riscos, principalmente
financeiros. Raros são os que se arriscam a investir seu patrimônio - ou mesmo
parte dele - em algo ainda não experimentado por outros.
Entretanto, isso nos torna
mais um na multidão, sem perspectivas de conhecer ou criar algo novo, realmente
diferente. Só os que saíram das trilhas comuns foram capazes de repensar,
viver, provar e criar coisas totalmente desconhecidas.
Provavelmente todos já
sonharam em ter uma ideia revolucionária, que mudasse algo e ainda rendesse
muito dinheiro, mas aqueles que realmente podem ser chamados de inventores
estão sempre pensando além do seu tempo, procurando maneiras de tornar
atividades corriqueiras mais práticas e muitas vezes essa busca é tão intensa
que alguns nem se preocupam ou não conseguem se beneficiar financeiramente de
seu invento.
Em 1947, depois de ser ferido
durante a segunda guerra mundial e ter de ficar um tempo no hospital, o soldado
Mikhail Kalashnikov, da então União Soviética, aproveitou seu tempo para
projetar uma das melhores armas de combate já criadas, a AK-47. Com mais de 100
milhões de rifles circulando por aí, Kalashnikov deveria estar na lista dos
homens mais ricos do mundo.
Tudo o que o soldado recebeu
foi um bônus de agradecimento pelos serviços prestados, pois o governo
comunista não pagava os "inventores" na época em que a arma foi
criada. Cinquenta e dois anos depois, em 1999, a Izhevsk Machine Shop conseguiu
patentear a arma e Mikhail deixou de ganhar centenas de bilhões com o seu
projeto.
Todos os homens que deixaram
marcas na história da humanidade, promovendo profundas alterações no
comportamento de todos os que os sucederam - como Alberto Santos Dumont com seu
Hangar com portas de correr, o avião e o ultraleve; Alexander Graham Bell com
seu telefone e o alto-falante; Alfred Nobel com sua dinamite; Denis Papin e sua
panela de pressão; Ferdinand Carré e o refrigerador; Henry Ford com a linha de
produção em série; Thomas Edison com a lâmpada elétrica, o fonógrafo e a
iluminação elétrica e, atualmente, Ivan Getting com seu fantástico GPS e Bill
Gates e Steve Jobs com seus sistemas operacionais -, foram pessoas que
repensaram, inventaram, e, com isso, transformaram o modo de vida de bilhões de
pessoas.
Como dizia Malcolm Muggeridge,
"Não se esqueça de que apenas os peixes mortos nadam a favor da
corrente".
Um caminho sem curvas, desvios
ou obstáculos, sempre será o mais seguro e confortável, mas certamente não
levará a um lugar que proporcionará novas descobertas. Os caminhos já traçados,
só nos levam a lugares onde outros já estiveram.
Em todas as áreas, sejam elas
políticas, econômicas ou sociais, para que algo seja mudado é necessário que
ele seja repensado, questionado, até que surjam ideias que possibilitem sua
alteração ou uma nova criação, um novo modelo.
Só correndo riscos e enfrentando caminhos ainda inexplorados, podemos
mudar nosso destino e criar algo desconhecido, realmente novo.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal, jornalista, escritor e
empresário, 31-10-2015
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