Luís Naves
No Brasil, alastra
a contestação às elites políticas e oligarquias económicas, num movimento
que pode levar o regime a mudanças drásticas. A corrupção do PT, partido que
esteve no poder na última década e meia, é inaceitável. Apesar de tudo, foi
surpreendente ver como a nossa comunicação social amestrada procurou nos
últimos dias branquear o maior escândalo político de que há memória numa
democracia (corrupção em larga escala, incompetência, nepotismo, obstrução à
justiça, desfaçatez, cinismo, hipocrisia).
Lula e o PT apoderaram-se de
riquezas públicas, compraram votos e distribuíram o bolo pelas clientelas que
os iriam manter indefinidamente no poder, isto enquanto faziam o discurso
cínico da defesa revolucionária dos direitos dos pobres. Tudo isto não tem
ponta que se lhe pegue, mas há uns comentadores que preferem culpar os juízes,
colocam reticências à eventual destituição da presidente (vamos lá com calma),
descobrem golpes de Estado e detectam milionários nas multidões que ocupam as
ruas. São os mesmos que reclamam sempre pelo direito à indignação, que pedem a
demissão imediata de governantes locais e apontam o dedo à mínima
irregularidade de um político que lhes desagrade.
É evidente que o Brasil terá de
superar a obstrução à justiça, livrar-se dos bandidos, destituir a presidente
Dilma (que não governa e nunca reparou nos milhares de milhões que saíam da
Petrobras). O Brasil precisa de reformar a sociedade e o sistema político, isso
não será nada fácil. Tal como a Argentina se livrou dos peronistas, os
brasileiros conseguirão livrar-se do PT, mas é preciso não subestimar a maldade
e a estupidez desta gente: é a própria democracia que está em perigo, sendo
necessário escolher entre a actual farsa e o esforço de reformar o sistema. Não
escrevi antes sobre a crise brasileira, pois havia na blogosfera nacional
autores mais lúcidos do que eu, a fazer o serviço público que os jornais não
quiseram fazer, nomeadamente Francisco José Viegas, Rui a., Eduardo Pitta e Luís Menezes Leitão, entre outros.
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