quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ONU: uma septuagenária com pouco a festejar

Rodrigo Constantino 


Hoje é aniversário da ONU, que completa 72 anos. Soube por Nizan Guanaes, que escreveu em sua coluna na Folha uma homenagem parabenizando a entidade. Mas será que há mesmo muito a festejar? O publicitário reconhece “erros”, mas acha que eles devem ser resolvidos de dentro.

Aproveitou para criticar a decisão de Trump, de retirar os Estados Unidos da Unesco, que comparou ao ato de uma criança mimada que retira a bola para os demais não jogarem. Mas e quando os outros estão fazendo bullying ou chutando a canela do dono da bola? Deve ele bancar o otário?

Tenho vários textos sobre a ONU, sobre o que ela se transformou. Dos belos sonhos românticos do passado, restou apenas uma burocracia engessada e uma retórica vazia, que serve de palco para regimes nefastos antiamericanos e antissemitas. Por que Estados Unidos e Israel deveriam bancar essa farra ideológica?

Resenhei um ótimo livro de Dore Gold, diplomata israelense, sobre os descaminhos da ONU, uma “torre de Babel” que perdeu completamente sua clareza moral, sua objetividade, sendo conquistada por lideranças que representam justamente o oposto daqueles valores que estiveram em sua origem e são, teoricamente, sua razão de ser.

Nizan Guanaes, que vive na bolha “progressista”, sequer se dá conta dos principais problemas da ONU. Ao elogiar sua nova diretora-geral, Audrey Azoulay, que foi ministra da Cultura na França, eis o que o publicitário diz:

Azoulay vem de família judia marroquina, é socialista e filha de banqueiro. Mulher, francesa, marroquina, judia, socialista, filha de banqueiro, ela traz em si todas as intenções e contradições da natureza humana presentes na Unesco.

A Unesco, a ONU e outras grandes instituições mundiais são centro de pecadores como Pedros e Franciscos. Elas são organizações lindas, falhas e humanas. Mas é trabalhando dentro delas que vamos construir esse tão difícil e tão sonhado mundo melhor. (Meus grifos)

Socialista e filha de banqueiro? Não é contradição alguma: é a cara da esquerda caviar, da elite “progressista” culpada, da própria ONU e de seu braço “educacional”, a Unesco. Construir um mundo melhor? Isso é slogan do Fórum Social Mundial, um antro de comunistas!

É pura retórica, um discurso vazio que serve, na prática, para implementar o globalismo, um modelo centralizador de poder, que mata a soberania nacional e subtrai a liberdade dos indivíduos. Onde estão os resultados concretos para avaliarmos, para compararmos com os enormes custos de se manter tais estruturas?

Joel Pinheiro, em sua coluna também na Folha de hoje, fala do show do U2 e do ativismo de seu líder, Bono, como algo do passado, de uma era romântica que sonhava com pacifismo por meio de “amor”, inspirada em figuras como John Lennon (comunista). Para ele, Trump é o futuro. Percebe-se certa tristeza ao constatar que tudo aquilo não passou de ilusão:

Os tempos mudaram. O conflito está de volta e as bombas atômicas ficam. Nada de união global no caldo multiculturalista. Agora as identidades se afirmam. Cada um pensa primeiro em si: o meu país, o meu povo, a minha fé, a minha raça. Se não nos colocarmos em primeiro, quem o fará? Todos exigem o que é seu de direito. E quem, se não nós, definirá a extensão desse direito? Altruísmo é coisa de iludidos e ilusionistas.

[…]

Trump e sua muralha —os grandes inimigos— são nomeados. Infelizmente, apenas “amor” e o sentimento de superioridade moral não vencerão essa batalha. Trump hoje é visto como sincero, mais sincero do que o politicamente correto de Bono. O discurso da união global parece hipócrita. Mais do que ajudar os marginalizados da terra, ele serve para envaidecer e “empoderar” uma elite já inimaginavelmente poderosa e esmagar o povo —financeira e espiritualmente. Será?

Talvez seja por isso que essa banda tão igualitária tocou a primeira parte do show num pequeno palco dentro da “red zone”, setor exclusivo da pista com ingressos a mais de R$ 1.000 (mas parte da renda vai para a fome na África!). Os telões estavam desligados, de modo que os reles mortais da pista comum não puderam vê-los tocar hits como “Pride (In the Name of Love)”. Começaram os murmúrios. Nós também temos direito! Quem eles pensam que são? Durou pouco. Logo o U2 subiu ao palco principal, os telões mais incríveis que já se viu foram ligados e, por duas horas, fomos todos um só, acreditamos que o amor era o caminho e que roqueiros podiam salvar o mundo. Pena que acabou. 

Joel assume uma premissa forte e questionável: a de que esses românticos de esquerda eram e são efetivamente altruístas. Meu Esquerda Caviar mostra o contrário, incluindo o próprio Bono e seu U2, que na hora de maximizar seus lucros, já milionários, fogem até da Irlanda, seu país natal, em busca de menores impostos. Pimenta no olho dos outros é refresco.

E eis o grande mal dessa turma toda: quer “salvar o planeta”, construir um “mundo melhor” sem muito esforço, sem tirar do próprio bolso, só com palavras bonitinhas lançadas ao vento em eventos luxuosos bancados pelo trabalhador de classe média ou mesmo pobre. Tudo em nome do combate à pobreza, claro.

ONU, Unesco, Bono, Obama, Fórum Social Mundial: é tudo bolha da elite culpada ou cabide de emprego para oportunista de plantão, salvo raras exceções. “[A]creditamos que o amor era o caminho e que roqueiros podiam salvar o mundo. Pena que acabou”, lamenta Joel em sua conclusão. Eu faço um reparo: pena que ainda não acabou. Longe disso. É essa visão romântica e infantil que ainda alimenta o globalismo. 
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 24-10-2017

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