Jacques de Guillebon
Avaliando o número de vítimas
contemporâneas, poderíamos julgar que os seus carrascos são uma legião. De
jeito nenhum. O autor de todas as atrocidades que devastam o planeta, arruína
as existências, provocam loucuras, medos e psicoses é um só. Como um pai
perante a sua família numerosa.
É o doce “fucking white male”
dos nossos amigos americanos, sim, o homem branco heterossexual, cisgênero,
cristão de preferência. Contra ele, no tribunal, multidão de reprovados, de
esquecidos, de dominados: feministas, homossexuais, transgêneros, vegans,
minorias étnicas, muçulmanos, crianças, inteligências artificiais, todos e
todas com um dedo vingador o culpam de ser o organizador das suas
infelicidades.
Pensem: ele, o homem branco,
deu-lhes nações, medicamentos, uma gramática, catedrais e prefeituras, sábios,
constituições, meios de transporte e de comunicação, uma agricultura, um
comércio, armas também, filósofos, escritores, pintores, músicos, estruturas
familiares, universidades. A apropriação
cultural foi total. Eles se renderam, de boa vontade. E é isto que eles
reprovam e acusam o homem branco.
Que a razão seja uma mistura de
Édipo com rivalidade mimética girardiana (do
filósofo René Girard) salta aos nossos olhos. No entanto, esta
banalidade do homem não desarma os seus acusadores. As suas reivindicações têm
raízes muito antigas, pelo menos cinquenta anos para algumas, mas elas ganharam
um novo fôlego por ocasião da eleição do estúpido e obtuso Trump, encarnação
hiperbólica de todos os seus ódios. Pão abençoado para os empreiteiros de
demolições. Péssimo tempo para os encaixes perfeitos.
No entanto, nunca se viu o
dominador se desculpar tanto. O homem branco habituara-se a abrir a porta às
mulheres. Na prática atualmente: deixam-no abrir a porta, mas ele não entra.
Nem na universidade, nem nos conselhos de administração, nem nas Assembleias.
Novo Merlin preso no círculo
de Viviane, é como prisioneiro da sua própria magia que o antigo ordenador do
mundo acabará o seu destino. Certamente, vão conservar alguns exemplares, a modo
de poder descarregar os nervos. Mas está assegurado, pelo menos na cabeça desta
massa disforme, que usufrui da sua deformidade que chama de indefinição – indefinição
de toda a espécie: indefinição no teu gênero, indefinição na tua língua, indefinição
na tua história, indefinição no teu sexo e indefinição no teu cu – que o reino
do homem branco acabou. O leão morreu esta noite. As hienas brigam pelos seus
restos.
Título e Texto: Jacques de Guillebon, l’Incorrect, nº 2, outubro 2017
Tradução: JP
'França, o novo Líbano': escritor diz que França 'perdeu a guerra' contra muçulmanos
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