Aparecido Raimundo de Souza
Vamos imaginar, caros amigos, ainda que hipoteticamente falando, ou
melhor, escrevendo, tivesse pegado fogo, não na Boate Kiss, na pacata e
bucólica Santa Maria, lá no Rio Grande do Sul, onde na noite do dia vinte e
sete de janeiro de dois mil e treze (há exatos quatro anos atrás), perderam a
vida duzentas e quarenta e duas pessoas e outras seiscentos e oitenta saíram
feridas, mas, grosso modo, no Congresso Nacional, em Brasília, ou em outro
puteiro qualquer do Planalto central, tipo a Câmara dos Deputados, ou o
intocável e majestoso Supremo Tribunal Federal.
Suponhamos, de igual forma, ainda no campo do hipoteticamente (porque não existe outra
maneira de se pensar em ajuntamento de uma porção de pilantras e vagabundos
reunidos num só espaço ao mesmo tempo), senão nesses três lugares, Congresso,
Câmara e STF, evidentemente com a maioria dos seus ocupantes, deputados,
senadores, ministros, enfim, essas figuras grotescas e jocosas, caricatas e
escarniosas presentes, trabalhando duro, de oito horas da manhã às oito da
noite, com intervalo de uma hora para mandar para dentro as marmitas com arroz,
feijão e ovos cozidos, para ganharem uma mixaria no final do mês.
Chega a ser vergonhoso, senhoras e senhores, o que nossos deputados
ganham, nossos senadores e ministros. Coitados! Dá pena, chega a cortar a alma.
Em linha paralela, os Zés Mosquitos, os Pedros Bundas Moles, as Marias Vadias e
as Sandras da Vida, enchem as burras, embolsando um salário vultuoso, de quase
noventa mil reais. Não deveríamos fazer isso com nossos parlamentares. É uma
vergonha para o país.
Voltando ao foco do texto: o incêndio da boate Kiss. Imaginem, amadas e
amados, um infortúnio dessa envergadura, uma desgraça sem precedentes, uma
adversidade catastrófica que traduzisse uma comoção não só aqui, outras
paragens, mundo afora. Fantasiem com carinho, todos os (quinhentos e noventa e
um) deputados trabalhando, vamos pegar essas nobres criaturas para cristo, a
fim de ilustramos nosso artigo, cumprindo horários, assim como vocês, seus
vizinhos, irmãos, conhecidos etc., etc...
De repente, do nada, pegasse fogo (porque um dos parlamentares levado
pelo clamor da vitória), por saber que um de seus projetos, mais um ‘para foder
os pobres’, foi aprovado pela maioria, e o desmiolado resolveu acender um
sinalizador disparando de sua cadeira em direção ao teto.
Tentem desenhar na memória, aquelas cenas da Kiss em Santa Maria tomando
conta de uma dessas casas de Mãe Joana, no caso em tela, a farra da
“deputaiada”.
Apavorados, com certeza, esses miseráveis começariam a correr, em direção
à porta de saída, pois a casa estava cheia e o fogo se alastrando de modo
devastador. Concebam, amadas e amados, em suas cabeças, nesta hora, não o
interior da Kiss, mas a casa acima citada, completamente tomada pelas chamas.
Em alvoroço canino, representantes do PTB, PSB, PMDB, PV, PC do B, não
importa, as siglas, aglutinados, como baratas tontas, sem distinção de raça,
credo, sexo, diferenças políticas, esses larápios unidos pelo mesmo elo,
fodidos e sem saída furriscados (o mesmo de agrupados), na mesma canoa. A
galera, em peso, à cata de uma derradeira saída, a salvação da pele.
Nesta hora, não valeria as diferenças, as brigas, os votos contra, as
picuinhas... os henhenhens. Os engravatados e intocáveis se dariam as mãos,
uniriam as forças, para salvarem as próprias vidas e tirarem seus rabos das
seringas para não virarem churrascos de mãe. Nosso perdão ao povo gaúcho. Nenhuma forma de sacanagem ou insinuação
maldosa ao grande e saudoso Teixeirinha e o seu imortal “Coração de luto”.
Em meio a impetuosidade do fervor, o deputado Tiririca gritando, “o que é
isso abestado” passaria a mão num extintor, apontaria para as chamas, contudo,
o troço, como nada nesse país de merda, funcionaria. Outro deputado, desta vez,
do partido verde fosco, correndo junto com colegas, para os WCs, se trancaria
numa fuga inútil para se ver livre da fumaça cada vez mais densa e pesada.
No banheiro das damas fato idêntico mesmo instante ocorria. Uma deputada
do PC do B, mijava tranquilamente. Ao ouvir aquela algazarra muvucosa vinda de
algum lugar fora dos cagatórios, levantaria, correndo, a bunda da privada, e,
na pressa, tropeçaria no salto alto de seus sapatos de couro legítimo e, em
vista disso cairia de boca, no chão, cujo piso reluzia sua imagem aparvalhada.
No final da tragédia, dos nossos quinhentos e noventa e um
representantes, quatrocentos foram com passagem só de ida para o inferno.
Viraram pó. Pelo chão do Congresso, corpos espalhados e mutilados pelo
escabroso fogaréu, lembravam os ataques terroristas de onze se setembro às
Torres gêmeas do Word Trade Center em Nova Iorque.
Os seguranças da casa (e suas caras porcas de traseiros moles), na hora
da confusão, não deixaram ninguém sair, seguraram as portas, porque pensaram
que os deputados estavam de sacanagem, ao gritarem fogo, fogo, fogo e
implorarem por socorro.
No geral, cenas tristes. Indescritíveis. Gente morta, queimada, por todos
os cantos, deputados sem calças, mulas sem cabeças, outros, as cuecas
abarrotadas de dinheiro, meia dúzia com contas de motéis, cartões de crédito,
telefones celulares de última geração, e as finíssimas agendas abarrotadas de
números de putas para um programinha à custa de nossos minguados caraminguás,
depois do horário laboral.
Mesmo saco de mafagafos, do lado de fora, dezenas e dezenas de canais de
televisão, estações de rádio, transmitindo ao vivo o evento sinistro. Jornalistas se aglomerando, uns contra os
outros, objetivando entrevistar alguma vítima. Cinegrafistas pendurados em
árvores, outros disfarçados com os trajes da Gurizada Fandangueira para
captarem a melhor imagem.
Em suma, a multidão de penetras querendo ver, falar, pegar, tocar,
abraçar, os deputados. A polícia, em
face dessa barafunda cercou o prédio. Ninguém entra ninguém sai, nem mosca ousa
pousar. Um jornal sensacionalista acende um pavio de última hora informando que
“os ratos de esgotos foram encurralados pelo fogo dentro de suas respectivas
ratoeiras...”.
As perguntas que ficam no ar, bailando nas cabeças dos brasileiros
(especificamente nas cacholas daqueles cidadãos) que têm vergonha na cara. O
que vocês fariam? Regaçariam as mangas e salvariam esses vermes? Por acaso as
senhoras e os senhores se arriscariam para alforriar da tragédia um dos nossos
ilustres e famigerados punguistas e safardanas?
Vislumbrado por outra ótica. Será que a delegacia local “agilizaria”
satisfatoriamente o inquérito, punindo o responsável, sem imprimir
delongas? O delegado cumpriria as leis
com todos os seus rigores? As indenizações às famílias dos famigerados, perdão,
dos falecidos, se arrastariam por quanto ou mais anos? Os senhores leitores têm a palavra.
Aguardamos respostas e comentários.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De
Fortaleza, no Ceará. 10-4-2017
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