Alberto José
No começo de 1950, o Maracanã
estava sendo construído na estação Derby Club da Central do Brasil. Nos trens
do ramal de Deodoro viajavam jovens professoras Oficiais do Exército, fardadas,
que iam e vinham da Vila Militar.
O passageiro que chegava na
Central, pegava confortáveis ônibus ingleses (Leyland) ou norte-americanos (GM)
para ir para a Zona Sul.
Para ir a São Paulo, às 23
horas, o passageiro podia embarcar no confortável trem de aço, chamado Vera
Cruz, com refinado serviço de bordo e café da manhã. Chegava em São Paulo, na
Estação da Luz, às 8h da manhã.
Para Belo Horizonte, um trem
idêntico, Santa Cruz, também saia da Central.
A segurança pública era feita
pela recém-criada Rádio Patrulha, que eram os veículos Ford canadenses
equipados com radiofonia, que deu origem ao nome.
Para as intervenções
"mais pesadas" em conflitos, havia veículos vermelho e preto,
denominados Socorro Urgente, que hoje é conhecido como Tropa de Choque.
Havia também, uma polícia
política, muito violenta chamada Polícia Especial, sediada onde era o morro de
Santo Antônio, ao lado do Mosteiro de Santo Antônio, no centro do Rio.
Onde hoje estão os prédios
Avenida Central e a Caixa Econômica existia um fabuloso hotel, de linhas
clássicas, tipo Copacabana Palace onde, no andar térreo, sob o hotel havia uma
grande praça onde os bondes se cruzavam e havia também muitas lojas de
presentes, sucos e sanduíches.
Para ir a Niterói ou Paquetá
era necessário pegar a barca na Praça XV, no Rio.
Certa vez, eu estava na barca
indo para Paquetá e comecei a ouvir tiros de canhão; então, eu vi que não era
tiro mas eram várias arraias – do tamanho de um carro – saltando sobre as águas
da limpíssima Baía da Guanabara, pois ainda não havia favelas nem rios
poluídos!
De vez em quando, uma barca a
vapor explodia no meio da travessia.
Em 1959, por conta do mau
serviço da família Carreteiro, que explorava o transporte, houve uma revolta
popular que destruiu quase todas as instalações e a mansão dos Carreteiro em
Niterói (nessa época o povo ainda não levava desaforo prá casa).
Para ir até o areal chamado
Barra – o Recreio não existia – o cidadão seguia pela Avenida Niemeyer e depois
alugava um barco para ir até a praia do Joá.
No Carnaval, todos os bairros
tinham coreto com banda de música da Prefeitura. O grande baile era o Baile do
Municipal. Os mais cotados, com muitas mulheres era o High Life, o baile da
Esso e o do Fluminense! Nessa época, não havia assalto com arma de fogo – que
era muito cara – os assaltos eram com navalha, faca e furador de gelo!
No Natal, todos compravam
presentes na loja mais animada, imbatível, que era a MESBLA, na rua do Passeio
onde ainda existe uma torre com o relógio que tocava músicas de Natal! Parecia
uma loja de filme americano. Todos iam lá, pois apresentavam shows e teatro
infantil durante o expediente. Vendiam também lanchas e automóveis importados.
A grandiosa Mesbla acabou como a Varig, liquidada por um escroque!
Nos anos 50, a televisão
estava começando em São Paulo. Na rua onde eu morava, à noite, todos se
aglomeravam em frente à casa de um vizinho para assistir pela TV novela ao
vivo, diretamente de São Paulo. Ele era da Marinha e trouxe dos EUA uma TV
Zenith, 23 polegadas, que ainda não havia no Brasil.
Outra coisa que não havia era geladeira
e máquina de lavar roupa. Só quem morou fora do Brasil podia trazer a sua GE,
Frigidaire, etc. O meu tio era muito rico, ele foi uma das primeiras pessoas a
importar uma geladeira de oito pés. Por causa disso, eu fiquei dois dias
abaixado contando os pés da geladeira - só achava quatro – pois eu ainda não
conhecia essa medida norte-americana!
Ter uma lavadeira exclusiva
era um sinal de "status" e toda a semana a lavadeira recolhia a roupa
usada depois de fazer o "ról", que era a lista da roupa para lavar.
Na minha casa, a geladeira era
uma grande caixa de madeira onde era colocada pedra de gelo com serragem, para
não degelar. Quando o governo liberou a importação, compramos uma GE importada!
Para chegar ao Aeroporto
Santos Dumont, precisava atravessar um extenso matagal de quase um metro de
altura. No Aeroporto já havia aqueles grandes painéis pintados, e as empresas
eram Panair do Brasil, Aerovias Brasil, Real, NAB Navegação Aérea Brasileira,
Lóide Aéreo, Aero Geral, Cruzeiro do Sul, VASP, etc. quase toda semana havia um
acidente pois a tecnologia da época já estava no limite.
No Santos Dumont, onde hoje é
a Polícia Federal Marítima havia uma estação de Hidroaviões da Panam, que
depois ficou com a Panair. Por isso, para São Paulo e Belo Horizonte a maioria
preferia ir de trem. O Correio Aéreo (FAB) promovia um voo semanal de C-47 para
levar crianças com coqueluche. Eu fui curado da doença no segundo voo.
No Galeão, operavam os voos
internacionais com a Aerovias Brasil (DC-4 para Miami), Panair do Brasil (Constellation
para Europa e Oriente Médio), Lufthansa (Constellation), KLM, SWISSAIR, IBERIA,
AEROLINEAS (com DC-6), a PANAM operava o luxuoso Boeing 377 que esteve
envolvido em cerca de 20 acidentes, o pior deles sobre a Amazônia. Não lembro
se a TAP já operava naquela época. A Varig parece que ainda era restrita ao sul
do país.
Em 1952, o fato mais comentado
foi o Crime do Sacopã onde um bancário foi supostamente assassinado pelo
Tenente Bandeira, Oficial Aviador, que foi condenado e depois absolvido em
outro julgamento pois diziam que o verdadeiro assassino foi o filho de um
ministro do governo!
Ladeira do Sacopã, 1952, foto: O Globo |
Então, o salário mínimo era
Cr$ 1.190,00 e o dólar valia cerca de Cr$ 35,00 (cruzeiros)! O governo era o de
Getúlio Vargas, os Deputados e Senadores "matavam o tempo" pegando as
vedetes na Cinelândia ou paquerando na porta da Confeitaria Colombo, ali perto.
Título e Texto: Alberto José - testemunha ocular da
história, 22-10-2015
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Excelente o seu comentário, de quando este país era civilizado.
ResponderExcluirSó esqueceu de dizer que o Rio de Janeiro chegou a ter 430 quilômetros de trilhos de bondes ou a maior rede da América latina e uma das maiores do mundo
Agora vem uns idiotas com esse papo furado de VLT, e esquecem de fazer a rota praça XV aeroporto Santos Dumont, direto, dois pontos de chegada e saída de turistas, fora os coitados que chegam à praça terão que fazer a curva do vento, ou seja ir até à Rio Branco depois até à beira mar, para depois então chegar ao Santos Dumont.
Coisas de aloprados que só querem ver os seus futuros políticos, sem se importar com a população. Coisas de incivilizados.
José Manuel