Cesar Maia
1. O processo de globalização não é privativo da economia. Da mesma
forma, a cultura. E, claro, da mesma forma, a política. O mercado de marketing
político comprova isso. As experiências adquiridas por publicitários em
campanhas eleitorais num país são contratadas por candidatos de outros países.
Na América Latina isso é geral. Na Europa, essa mobilidade também é ampla, mas
com as naturais restrições de língua.
2. Nos últimos dias, candidatos de direita e centro-direita
venceram as eleições em Portugal, Polônia, Guatemala e em Bogotá. Na Argentina,
a votação de Macri surpreendeu até mesmo a sua campanha e parte para o segundo
turno como favorito. A extensão desses fatos e a diversidade das situações e
tantos outros casos nos últimos anos permite pensar que se trata de uma
ascensão globalizada da direita nas expectativas do eleitorado.
3. Um fator comum a todos esses casos foi a corrupção política. O
vencedor do segundo turno na Guatemala – um comunicador de TV – com seus 70% de
votos, contra a candidata da esquerda, usou o slogan: “Nem ladrão, nem corrupto”.
E “a política pode ser feita sem corrupção.”
Em Portugal e Guatemala os
anteriores chefes de governo foram presos por corrupção. (Em Portugal trata-se
do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, do Partido Socialista). Em Bogotá, o
ex-prefeito de esquerda foi afastado por irregularidades. Na Polônia, os dois
primeiros lugares foram dos partidos de direita e centro-direita.
4. Na Argentina, os escândalos que envolveram o governo de Cristina
Kirchner foram o tema eleitoral. A economia em crise profunda, com inflação de
30%, PIB estagnado, Banco Central sem reservas, dólar paralelo quase 80% maior
que o oficial, inacreditavelmente, não foi tema de campanha. Taxistas em Buenos
Aires repetiam: não queremos um governo como esse de Dilma, aqui. O foco era a
corrupção.
5. Um corte nos temas que levaram os eleitores a optar pela direita
e não pela esquerda foi a corrupção política. Mas nesses anos todos para trás,
os escândalos afetaram os políticos de direita e os governos de direita. Então
por que a direita política surge como uma alternativa? A resposta pode ser
encontrada em conversas coloquiais com as pessoas nas ruas, nas praças e em
reuniões.
6. A percepção é que a corrupção na direita é de responsabilidade
individual de políticos. Talvez pela inorganicidade dos partidos brasileiros
mais à direita, o foco se dirige às pessoas dos políticos. No caso da esquerda
nos governos, é como se fosse uma corrupção orgânica das direções partidárias e
não apenas de um ou outro político ou dirigente. E os fatos ajudam a reforçar
esta percepção. O Brasil é um exemplo, destacado entre outros.
7. Os destaques na imprensa reforçam isso: o PT faz parte das
manchetes continuamente. Os demais partidos surgem nas manchetes, mas o foco é
individual nos políticos e não no coletivo. As redes sociais comprovam e
reforçam esta percepção. Vídeos e memes não só destacam políticos do PT, assim
como o próprio PT, como o personagem principal.
8. Quando Dilma, no precipício da crise econômica e moral, chama um
economista de direita, ajuda a reforçar esta percepção. O PT – e sua estrela – em
todas as mobilizações e campanhas eleitorais sempre destacou a sua marca. Esse
foi um multiplicador positivo na oposição. Agora, no governo, com os escândalos
envolvendo ex-presidentes e tesoureiros, ministros, líderes do PT, a percepção
da corrupção partidária passou a ser um multiplicador negativo.
Ilustração: Lézio Junior |
9. E, pelo menos em 2016, não haverá tempo para reversão dessa
percepção. E não é da natureza do PT esconder a sigla atrás do número. Até pode
ser feito numa cidade menor. Mas nas maiores, especialmente com cobertura da
TV, é impossível, pois o foco maior do PT e Lula é 2018. No Rio querem coligar
com o PMDB. Assim escondem o partido e deixam o campo livre para seus
candidatos a Vereador. Isso ocorrerá em outras cidades maiores.
Título e Texto: Cesar Maia, 29-10-2015
Tese inteligente tecida por César Maia. Se a corrupção da esquerda é orgânica e não individual fica entendido que o foco principal é o poder pelo poder. Os eleitores já perceberam isso e preferem agora a direita onde a corrupção é menos escandalosa por ser do indivíduo e de fácil identificarão... Um corrupto no Japão, por exemplo, é imediatamente afastado do governo, sem consequências maiores para a administração. Aqui no Brasil a corrupção orgânica da esquerda é de difícil debelação, só uma faxina geral dará novo impulso para o rumo certo.... Portanto, à direita tem suas chances agora...
ResponderExcluirValdemar