sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Aqueles gajos

João Taborda da Gama

À minha volta é só gente de esquerda, não tanta como a minha mãe gostaria, é certo, mas claramente a maioria da família, colegas e amigos. E vivo muito bem com isso, boas companhias, mesmo nas campanhas.

Volta e meia, como aconteceu no sábado, um amigo, dos verdadeiros, pergunta "como é que tu consegues apoiar aqueles gajos?", com ênfase no tu e no aqueles. Gajos é a coligação. Quem diz "os gajos" não gosta mas respeita-os, quem diz "estes gajos" não gosta mas vai votar neles, mas quem diz "aqueles gajos"... despreza-os.


Como é que consigo apoiar aqueles gajos?

Assim de repente:
aqueles gajos foram os gajos que fizeram a lei dos compromissos, que reduziram os tempos de pagamento do Estado e dos municípios às empresas, que criaram um mecanismo para evitar a falência de municípios, que criaram as condições para que os municípios reduzissem a sua dívida, o que são transformações profundas também de um ponto de vista da relação entre Estado e cidadãos, desde logo por incutirem aquela ideia esquecida de que as obrigações são para cumprir;

foram aqueles gajos que não se meteram no BES, não que eu concorde com todas as decisões, mas não se meteram e isso é uma escolha que os distingue de outros gajos;

foram aqueles gajos que reformaram o arrendamento, depois de tantas falsas partidas;

foram aqueles gajos que puseram ordem nas fundações privadas (para o que havia de dar a esses perigosos liberais...);

foram aqueles gajos que fomentaram o turismo, com campanhas inteligentes, que regularam o alojamento local;

foram aqueles gajos que estimularam um bom empreendedorismo (que devia ser ainda menos dependente do Estado);

foram aqueles gajos que baixaram o preço do gás natural, que modernizaram o regime elétrico português com as regras do autoconsumo e da pequena produção, passos pouco visíveis mas que abrem o caminho à revolução que aí vem da produção distribuída.

Claro que aqueles gajos não fizeram tudo bem, das confusões na justiça ao empurrar com a barriga do problema da dívida do setor empresarial do Estado. Mas já alguns gajos fizeram tudo bem?

Ah, e já me esquecia, foram aqueles gajos que cumpriram o programa da troika, foram aqueles gajos que não precisaram de segundo resgate nem de programa cautelar.

E foram aqueles gajos que, depois de tudo isto, puseram o país a crescer e a confiança das pessoas e das empresas a subir. Como se diz no futebol, metade do trabalho está feito. Na segunda parte vai ser preciso fazer o dinheiro chegar ao bolso das famílias. A segunda parte vai ser menos dura, mas muito difícil. Que gajos queremos ver em campo, aqueles ou outros? 
Título e Texto: João Taborda da Gama, Diário de Notícias, 2-10-2015

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