É claro que é preciso investigar
quem tem de ser investigado. Ignorar, no entanto, o timing da operação é fazer
papel de bobo
Reinaldo Azevedo
Bem, bem, bem… Quem acompanha
o jogo político de Brasília de muito perto, lá de dentro mesmo, assegura que
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, estava, sim, irritado com o que
considerou estardalhaço da dita fase “Catilinárias” da Operação Lava Jato (um
nome infeliz, já
expliquei por quê), mas não estava nem surpreso nem perplexo. Até, ao
menos, que a corda não arrebente, Cunha trata cada investida de que é alvo como
a prova dos noves de que estava certo e de que sempre houve uma conspiração
contra ele a unir Palácio do Planalto e Rodrigo Janot.
Perplexo de verdade, surpreso
pra valer e, mais do que irritado, furioso, aí quem estava era Renan Calheiros
(PMDB-AL), presidente do Senado. Desde que fechou um acordão com o Planalto,
ainda na reta final da avaliação que fez o TCU das contas do governo, Renan
vinha se julgando imune às investidas da Lava Jato. Quando teve as suas
conversas de cúpula no Palácio do Planalto, saiu com a certeza de que era um
aliado.
E vinha se comportando com uma
subserviência altiva realmente encantadora. Altivez subserviente, leitores, é
um estilo que demanda alguma dificuldade. Pede do ator algum preparo, certo
treino. Todos vimos, no fim de semana passado, Renan a sugerir que uma comissão
do Senado poderia simplesmente recusar o processo contra Dilma. Tratava-se,
obviamente, de uma invenção. É claro que não pode. O caput do Artigo 86 da
Constituição não deixa. Lá fica evidente que o Senado, nessa matéria, não tem
“querer”.
Renan também fez eco à
gritaria do governo e prometeu manobrar com a Lei de Diretrizes Orçamentárias
para impedir o recesso do Congresso. Apresentava-se como a âncora de Dilma…
Nesta terça, viu-se tragado
pela tal fase “Catilinárias”. Parece que a Lava Jato o meteu entre os aliados
de Catilina, o Cunha dessa história, contra a destruição da República, não é?
Justo ele! Tão bonzinho com o governo! Tão compreensivo! Tão altivamente
subserviente. Renan concluiu, com o poeta, que, dada a forma como trabalha a
petezada, a única firmeza está na inconstância. O ministro Teori Zavascki não
autorizou busca e apreensão na casa e no escritório de Renan, mas três aliados
seus e um agregado passaram por constrangimentos. Contra Renan, há nada menos
de seis inquéritos. Caiu a ficha! O senador descobriu que não está blindado.
Tão logo Cunha se encontre com o seu destino, ele entra na fila.
Coincidências não existem
É claro que, nesse universo,
coincidências não existem. Na lista dos políticos engolfados pela fase
Catilinárias, há até um ex-ministro do PSB (Fernando Bezerra) e um deputado do
Solidariedade (Áurio Lídio, RJ), mas não é preciso ser muito sagaz para
concluir que o alvo é o PMDB. E que a coisa estoura um dia antes de o Supremo
decidir o rito do impeachment e de as esquerdas irem às ruas em defesa de
Dilma. O nome da operação poderia ser mais extenso, assim: “Vocês acham que o
país pode ser governado pelo PMDB? Então vejam aí”.
Rodrigo Janot é, sem dúvida, o
mais esperto dos procuradores-gerais que passaram pelo cargo em muitos anos.
Também ele, com mais discrição do que Renan, consegue exercitar a subserviência
altiva. Esse homem é um prodígio e merece um estudo de caso. Pensem na natureza
do petrolão e vejam a que partido pertencem os políticos mais enrolados. Pensem
na natureza do petrolão e depois olhem a razia que o MPF produziu nesta terça
no… PMDB! Ora, o que se tem aí é uma advertência: “Ah, vocês querem Michel
Temer? Esse é o PMDB, ó… Vocês vão ver”.
Um tonto logo indagaria se
estou sugerindo que MPF e PF deixem de fazer o seu trabalho para não dificultar
a transição do governo Dilma para o governo Temer. Eu não! Como sempre, só
estou sugerindo que a medida da eficiência que tem o MPF com Eduardo Cunha seja
empregada também nos outros casos. Ora, contra Lula, reitero, não há nem um
inquérito. Tenham paciência! Essa foi, sem dúvida, pelo timing, a mais vistosa
colaboração de Janot contra o impeachment.
Nesta quarta, os manifestantes
do MCTO — Movimento dos Com-Tetas Oficiais — poderão bradar todo o seu ódio
contra os peemedebistas, enquanto assegurarão a inocência de Dilma, a lisura de
sua administração, as múltiplicas conspirações que estariam em curso contra um
governo operário…
Ocorre que as coisas são um
pouco mais complicadas do que parecem à primeira vista. Se a investida contra o
PMDB busca desmoralizar o partido como alternativa de poder, é evidente que
também contribui para unir correntes que haviam se distanciado em função,
justamente, da interferência do governo. Já afirmei e estou convicto disto:
Dilma estaria melhor sem esse presentão de aniversário de Janot. É o tipo de
mimo que sai pela culatra.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
16-12-2015
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Prezados, este ilustre chefe do MPF, é um Advogado do Governo!!
ResponderExcluirMuito sabiamente investiga só o que interessa, blindando o governo. Só investigará o Renan, após ele, Renan, salvar a Dilma do Impeachment, no Senado!
Vocês verão!! Os PLs e MPs e outras Leis, que o governo queria, ele já conseguiu, ele é bom nisto, no Senado, só falta o Impeachment, aí o Renan, cai!!
Por que não cai Agora? Isto é outra Vergonha!!
Volkart