José Gomes Ferreira
A propósito da recuperação do
controlo público do capital da TAP, António Costa afirmou secamente que a
execução do programa de Governo não está sujeita à vontade de particulares que
resolveram assumir resolveram assinar um acordo com o Estado português em
situação precária, com o Governo em vésperas de eleições legislativas. Mais,
acrescentou que a reversão será feita com acordo ou sem acordo com os privados.
A gravidade destas declarações
não encontra paralelo na história recente de Portugal. Com duas simples frases
é passado um atestado de inutilidade à palavra dada pelo Estado através de um
Governo legitimamente eleito, o anterior.
A cumprir-se a determinação do
atual Primeiro-Ministro, das três uma:
- ou a reversão do negócio se
faz unilateralmente, o que só poderá ocorrer por expropriação ou nacionalização
gerando avultados pedidos de indemnização;
- ou se faz por acordo
decorrente da aceitação pelos privados de avultadas compensações;
- ou o Governo recorre aos
tribunais e espera longamente por uma decisão que, se lhe for favorável, também
gera devolução de financiamentos e reparação de danos.
Em qualquer dos cenários, os
contribuintes perdem sempre por duas vias: têm de assumir pesadas indemnizações
e ficam com uma empresa falida nas mãos, onde têm de pôr mais capital e
liquidez para não fechar de imediato.
Perda maior, quem está de fora
a olhar para um país que prometia ser cada vez mais atrativo para o
investimento estrangeiro, começa a pensar em passar ao largo. E quem cá tem
investimentos começa seriamente a pensar em fugir a sete pés.
Somemos esta perspetiva a uma
oposição feroz da Comissão Europeia a qualquer tentativa de recapitalização
pública da TAP sem um radical plano de reestruturação com despedimentos em
massa e fecho de linhas aéreas e temos grossa tempestade vinda de Bruxelas a
caminho de Lisboa.
As nuvens já começaram a adensar-se
no horizonte com a publicação de um relatório discreto da Comissão Europeia
onde se pode ler que Portugal não tem margem nenhuma no défice para aumentar
despesa pública e desta forma incentivar a economia.
Este recado surge numa altura
em que o novo Governo devolve salários e subsídios, aumenta pensões e corta
sobretaxas de IRS por escalões.
Mais, surge numa altura em que
se revertem os mecanismos de suspensão da contratação coletiva, se reintroduz a
semana das 35 horas de trabalho, se reintroduzem feriados e se revertem outras
concessões de transportes.
Quer o programa de Governo
socialista que seja assim.
Quer o Primeiro Ministro que
seja assim.
Querem o Bloco de Esquerda e o
PCP que seja assim.
Bruxelas começa a deixar de
querer que seja assim.
Primeiro vai estalar o verniz
das receções iniciais nas cimeiras.
Depois vão cair raios e
coriscos de Bruxelas sobre Portugal.
A começar na TAP.
Pobres trabalhadores excelentes
que mereciam bem melhor sorte.
Título e Texto: José Gomes Ferreira, SIC Notícias, 18-12-2015
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