José António Saraiva
Este Governo é um dos mais
velhos de sempre, porquê?
Porque a esquerda envelheceu e
está hoje numa posição conservadora, de resistência à mudança.
O PCP, que é um dos pilares do
Governo, vive ainda nos tempos de Salazar – em que Portugal era soberano, em
que as grandes empresas estavam nas mãos do Estado, em que os transportes eram
públicos, em que o Estado era o grande empregador, em que havia uma posição de
desconfiança em relação à iniciativa privada e ao capital estrangeiro.
É este o país em que o PCP e
outros setores da esquerda gostariam de continuar a viver.
A esquerda não quer aceitar
que o mundo mudou.
Não quer perceber que a
globalização alterou tudo.
Hoje, os países estão em
competição uns com os outros, pelo que cada país já não pode fazer tudo o que
quer.
Este Governo diz que vai
acabar com a austeridade.
Ora, o que aconteceu ao último
governante que disse isto (Alexis Tsipras)? Bateu com o nariz no chão e está
hoje a cumprir um 3.º resgate.
E o que aconteceu ao penúltimo
governante que disse isto (François Hollande)? Bateu com o nariz no chão e está
a fazer tudo ao contrário do que prometeu.
António Costa também vai bater
com o nariz no chão.
E não vai ser preciso muito
tempo para isso acontecer.
Porque a estratégia que
definiu está errada.
E se um erro tático não tem
grande importância, porque o seu efeito é localizado, um erro estratégico pode
ser fatal, pois repercute-se em tudo.
Perante a globalização,
Portugal precisa de ter produtos atrativos no estrangeiro e tem de ser atrativo
para os investidores estrangeiros.
Sem isto, não há dinheiro.
Nos últimos anos, o país andou
no caminho certo, ou seja, deu passos no sentido de ser mais competitivo no
mundo global.
Credibilizou-se lá fora
(porque cumpriu aquilo com que se comprometeu no programa da troika), reduziu o
consumo interno e as importações, aumentou imenso as exportações, equilibrando
a balança comercial, e atraiu capital estrangeiro.
Isto implicou um tremendo
esforço.
Em primeiro lugar, um enorme
sacrifício das pessoas.
Em segundo lugar, a
disponibilidade de dois partidos (PSD e CDS) para apoiarem medidas impopulares.
Em terceiro lugar, a
capacidade do Governo para resistir a um clima pré-insurrecional, com greves
constantes, manifestações quase diárias e perseguições a ministros.
Esta estratégia tinha como
objetivo, repito, enfrentar a globalização, tornando o país mais competitivo e
virado para fora.
A estratégia do atual Governo,
porém, é exatamente a oposta.
O Executivo de António Costa
propõe-se virar outra vez o país para dentro, aceitando o aumento das
importações e tornando-o menos atrativo para o investimento estrangeiro.
Na verdade, vão ser revertidas
todas as leis que conseguiram fazer de Portugal um país mais apetrechado para
concorrer no mundo global.
Para começar, as medidas que
visavam conter o consumo vão desaparecer.
E aquelas que podiam estimular
o investimento e atrair capital estrangeiro – desde a redução da TSU até à
ausência de imposto sucessório, passando por certas reformas laborais – vão
andar para trás.
Por outro lado, o princípio de
que é preciso ‘produzir e poupar’, e que a vida é difícil, foi substituído pelo
facilitismo e pela ideia de que o necessário é ‘consumir e gastar’.
Em suma, este Governo projeta
destruir o que deu tanto trabalho a construir – e isso é o que causa mais dó e
pode vir a revelar-se criminoso.
Nos últimos quatro anos,
Portugal empurrou um pedregulho enorme em direção ao cume de uma montanha.
Mas, ao chegar quase lá acima,
vieram uns senhores que disseram: «Esse esforço não interessa nada; vamos
deixar de fazer força».
Ora, se arrastar o pedragulho
até ao cimo da montanha foi dificílimo, o regresso da pedra à base será
facílimo: basta deixá-la rolar pela encosta abaixo.
É muito difícil arranjar gente
para participar nas dificuldades; mas é muito fácil juntar quem queira
participar nas facilidades.
É o que está hoje a acontecer.
Com esta estratégia, o país
vai regredir cinco ou dez anos – e depois será muito mais difícil levar outra
vez a pedra para cima.
Vamos pagar com juros
altíssimos este devaneio.
Título e Texto: José António Saraiva, SOL,
14-12-2015
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-