terça-feira, 22 de dezembro de 2015

100 anos depois, a nova batalha de Verdun: Dilma, Lula, PT vs PMDB, Temer, Renan e Cunha

Cesar Maia

1. A Batalha de VERDUN foi a mais longa nas histórias das guerras. Ocorreu em 1916, de fevereiro a dezembro. De um lado a linha de trincheiras da França e do outro a linha de trincheiras da Alemanha, ambas com aproximadamente 1 milhão e 200 mil soldados cada. No total morreram 1 milhão de soldados em proporções iguais. Depois de 10 meses, as duas linhas estavam no mesmo lugar. Ficou conhecida como a Máquina de Trituração. Os dois exércitos em batalha foram desintegrados com perda de cerca de 50% dos combatentes: ninguém venceu a Batalha de VERDUN.

2. A batalha do impeachment de Dilma é a versão política da Batalha de VERDUN. O presidente da Câmara de Deputados constituiu uma sólida maioria parlamentar e posicionou-a inicialmente com independência ao poder executivo e em seguida em franca oposição. O Procurador-Geral foi mobilizado e passou a investigar Cunha, trocando informações com o MP da Suíça, conseguindo, numa varredura, identificar seu nome por trás de uma gestora de conta. A imagem de Cunha foi atingida, comissão de ética convocada. Ele deu o troco, impondo derrotas sucessivas à Dilma.

3. O vice-presidente Michel Temer, avaliando a dinâmica da opinião pública e do processo de impeachment, passou a se credenciar como solução política para a crise, como uma alternativa de governo de união nacional. Numa segunda fase, formalizou a ruptura com a "carta desabafo". Em seguida, Dilma, com seu grupo, iniciou a campanha Delenda Temer. Vazou decretos assinados por Temer que teriam também infringido a lei de responsabilidade fiscal. E jogou a isca na boca de um senador do PSDB que, ingenuamente, “suitou” para a imprensa. O senado votou determinando ao TCU que faça essa auditoria. Simultaneamente, mais vazamentos de uma hipotética "doação" a Temer. Temer perdeu a áurea de alternativa consensual à crise.

4. A Câmara de Deputados impôs uma contundente derrota e constrangimento à Dilma, oferecendo uma tramitação do impeachment via chapa alternativa e votação secreta. A comunicação de Dilma criou a batalha virtual Dilma X Cunha aproveitando o desgaste de imagem do presidente da Câmara de Deputados. Nesse clima, o STF chamou a si a decisão sobre o rito do impeachment. Um dos ministros situou claramente que o rito iria além do abstrato e tinha o comportamento autoritário do presidente da Câmara de Deputados -decidindo desde a mesa- a chapa alternativa e o voto secreto. O STF desconstituiu a sessão da câmara que elegeu a comissão especial de avaliação do pedido de impeachment.

5. Renan Calheiros demonstrou que numa votação por maioria simples ele lideraria a decisão no Senado. Dilma, em sua estratégia anti-impeachment, optou por se associar a Renan e exercer sua influência para que a investigação sobre Renan guardasse -pelo menos- um tempo de enquadramento maior que o de Cunha. O ministro-relator do STF na Lava-Jato autorizou a busca e apreensão nas residências e escritórios de Cunha, mas não de Renan. Apenas quebra de sigilo telefônico e bancário. Mas no fim de semana denúncias contra Renan, em delação premiada, voltaram a colocá-lo na boca do vulcão. O procurador-geral pediu ao STF a destituição de Cunha da presidência da câmara e suspensão de seu mandato para não atrapalhar as investigações. Ficou para fevereiro pós-recesso. 
Título e Texto: Cesar Maia, 22-12-2015

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