Luciano Henrique
Dentre os aspectos mais
desanimadores da direita atual, encontra-se a arrogância de compreender seu
oponente de esquerda não como um implementador de totalitarismo, mas como um
“coitadinho enganado”. A ilusão, criada desde os tempos de Ludwig Von Mises –
quando ele escreveu a Mentalidade Anticapitalista, com uma
condescendência infantil com os doutrinadores socialistas -, também se deve em
parte a Michael Oakeshott. (São autores com ideias muito interessantes, mas
jamais conseguiram se livrar desse lapso mental imperdoável)
Criando em sua mente um
socialista que não existe na realidade, um direitista desde tipo não entra em
embate com adversários reais, mas com projeções de si próprio. Assim, como ele
está interessado em discutir “teses sobre economia”, mente para si próprio ao
achar que seu oponente tem a mesma intenção.
Na realidade, ele quer
unicamente o poder totalitário para seus líderes, sabendo que os mais espertos
deles receberão uns bons trocados.
Este tipo de direita parece
acreditar lutar contra a esquerda, mas na verdade a auxilia. Neste ponto, vale
ler o ótimo texto de Octávio Henrique, “O comunismo não é uma utopia: ensaio sobre mais uma cegueira direitista”.
Não é difícil encontrar,
internet afora, páginas e indivíduos declaradamente de direita que, ao terem de
entrar na arena da política contra a esquerda, se embananam e, seja por excesso
de bom mocismo artificial, seja por preciosismo petulante, acabam por perderem
excelentes chances de desferirem bons golpes na esquerda e, ao invés de
atacarem-na sem dó, incorporam um tom arrogante e partem para a discussão quase
abstrata de conceitos pelos quais a população tem, na realidade, zero de
interesse.
Um caso marcante é quando o
direitista médio, do alto de sua aparente falta de sangue nas veias, passa a
discursar longa e insossamente sobre como as ideias estatizantes vendidas pelos
esquerdistas, isto é, o socialismo e o comunismo, não passam de utopias
baseadas em abstrações acerca de um ser humano ideal ainda por vir.
Chamam, pois, os esquerdistas
de “utópicos”. Chamam, pois, o ideário esquerdista de “utopia”. Mal sabem,
porém, o serviço que prestam à esquerda, visto que, no fundo, o comunismo NÃO É
uma utopia.
Se formos às origens do
significado de utopia, inevitavelmente temos de encarar Utopia, obra em
que o renomado filósofo inglês Thomas Morus se utiliza de um duplo
literário para misturar coerentes críticas ao absolutismo inglês de sua
época (século XVI) com a desonesta proposição de um sistema de sociedade
aparentemente perfeito baseado na coerção estatal, na regulamentação extrema da
vida privada e na manipulação descarada dos padrões de moralidade pública por
parte do Estado, tratado por Morus, ainda que lateralmente, como uma espécie de
Deus, posto que não há qualquer resquício de crítica séria à sociedade de
Utopia na obra em si (i.e., mais de 100 páginas de louvor a fantasias
estatizantes).
Com isso, e com a contribuição
de vários pensadores de alto calibre, “utopia” deixa de significar apenas “não
lugar/ lugar impossível” e passa a ter como significado, no inconsciente
coletivo, “sociedade ideal, mas impossível, proposta por alguns inocentes
iludidos”.
Chamar esquerdistas de
“utópicos” é, portanto, o mesmo que dizer que são idealistas, no sentido de
que, apesar de incorrerem em erro, são apenas pobres bem-intencionados que não
querem o mal a ninguém.
Que esquerdista, em sã
consciência, teria a mesma piedade arrogante com o ideário
“liberal-conservative”, por exemplo?
Além disso, se uma utopia é
uma impossibilidade lógica, dar ao comunismo esse rótulo é jogar com, e não
contra, o discurso da esquerda. Se o comunismo, segundo esses direitistas, é
mera utopia, que razão teriam para negar o discurso esquerdista
padrão de que URSS, China, Coreia do Norte, Iugoslávia, Checoslováquia,
Alemanha Oriental, Vietnã, Camboja e outros não experimentaram “socialismo de
verdade”?
Deve-se, sendo de direita ou
não, ter muito claro em mente que o socialismo não foi ficção, mas realidade, e
das mais distópicas, isto é, daquelas que mostram que o fim de toda Utopia, que
teria sido o fim do living hell imaginado por Morus, é a
perpetuação do morticínio nefasto em nome de ficções mais nefastas ainda.
Óbvio que qualquer estudioso
de política sabe de tudo o que aqui foi registrado, mas o fato é exatamente que
os alvos mais numerosos do discurso político não estudam política a ponto de
enxergarem a pilantragem total dos utópicos. O que o cidadão comum que discute
política quer, na verdade e no fundo, é um discurso fácil de entender e mais fácil
ainda de reproduzir para aqueles que tentará convencer de suas ideias.
Negar essa essência do
homem-massa para posar de superior perante “tudo isso que está aí” não é ter
boas ideias. Entrar no jogo linguístico da esquerda ao discutir política e
discursar com insuportável arrogância para as massas também não. Tais
comportamentos devem ser descritos com apenas duas palavras: burrice criminosa.
Eu já utilizei este exemplo
várias vezes, mas vamos a ele de novo.
Imagine que você é um gerente
de segurança da informação querendo proteger sua organização de phishing,
um método de roubar informações falsas a partir do envio de e-mails falsos que,
se clicados, levarão o usuário a um site suspeito. Queira ou não, você possui
dois inimigos na organização: os fraudadores, que utilizam o email de phishing,
e pessoas de sua própria organização que não saibam compreender que o phishing
é uma fraude. O pior é quando estes últimos continuam insistindo na tese de que
o phishing, se chegou à sua caixa de email, provavelmente veio “por engano”,
mesmo que já tenham sido alertados disso.
Pessoas assim serão incapazes
de criar uma precaução mental para não clicar no e-mail fraudulento. Com isso,
seus cérebros não terão a condição de apreender as noções básicas de
conscientização sobre segurança. O resultado não é apenas “teórico”, mas
prático: essas pessoas serão fontes úteis para que os hackers invadam sua rede
a partir do envio do e-mail de phishing. Os fraudadores contarão com a
incapacidade mental criada por esta própria pessoa. Geralmente o fazem por
teimosia e arrogância. Leia mais sobre o phishing:
Phishing é um tipo
de golpe eletrônico cujo objetivo é o furto de dados pessoais, tais como número
de CPF e dados bancários. E-mails estranhos com mensagem de depósitos ou de
sorteios de prêmios são muito comuns hoje em dia. Geralmente, esses e-mails
contam com um link malicioso que leva a uma página sem sentido.
No mundo corporativo, não há
outra solução que não exigir que as pessoas mudem suas próprias mentes. Caso
contrário, a demissão é inevitável. Na ocasião em que isso acontece nas
corporações, o gerente de segurança da informação implicitamente deixará claro:
“Você está realmente querendo levar à frente a ideia de que estes e-mails de
phishing são reais e que as pessoas devem clicar neles e até tomá-los como
’emails que vieram por engano’? Vamos ver então quem vence esta contenda: se
nós, da segurança, ou se você.”
Como não podemos tomar essa
providência no debate público, poderíamos dizer que aqueles que chamam o
socialismo de “engano” ou “tese que fracassou” são mentirosos. É certo que
muitos não mentem intencionalmente, mas reproduzem as mentiras inseridas em
suas mentes por ideólogos socialistas que morrem de rir de sua ingenuidade.
Uma sugestão para tratamento
deste problema é adotar, em qualquer interação, ou participação nas redes
sociais, o constrangimento do formador de opinião que trate o opositor como
coitadinho enganado.
Exemplo de diálogo:
X: A Dilma é uma trapalhona na economia!
Y: Deixe de ser hipócrita!
X: O quê?
Y: Você sabe que ela detonou a economia intencionalmente. Está querendo enganar a quem?
X: É por isso que ela errou…
Y: Mentira tua! Ela fez certinho o que ela devia fazer. Ela não é “trapalhona”. O projeto de poder dela está indo conforme os planos. Está querendo escondê-los?
Y: Deixe de ser hipócrita!
X: O quê?
Y: Você sabe que ela detonou a economia intencionalmente. Está querendo enganar a quem?
X: É por isso que ela errou…
Y: Mentira tua! Ela fez certinho o que ela devia fazer. Ela não é “trapalhona”. O projeto de poder dela está indo conforme os planos. Está querendo escondê-los?
Enfim, nitidamente muitos da
direita não são desonestos, mas compraram as ilusões de
desonestos como se fossem reais. Assim, deveriam pagar o preço. Este é um
primeiro ponto para a pressão, começando pelos formadores de opinião
republicanos em geral. Pode parecer radical? Sim. Estamos rotulando essas
pessoas em seu caráter? Não. Mas esta teimosia não pode ficar barata. Toda
pessoa de direita que possui uma crença inserida em sua mente por esquerdistas
desonestos é como se fosse um fiador, e deve ser responsabilizado pelo que
propaga.
Título e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 19-12-2015
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