segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Não, não foi o sistema, o ministro ou o Darth Vader, foram pessoas

Vitor Cunha

O SNS pode ter falta de médicos. O SNS pode ter carências de organização, pode originar horários esquisitos ou pode nem permitir uma formação adequada a internos em lufa-lufa de preenchimento de equipas de urgência. O SNS pode ter médicos a mais. O SNS pode ter médicos a menos.

O SNS pode estar subdimensionado, pode estar sobredimensionado, pode ter péssimos profissionais, pode ter excelentes profissionais, pode resolver problemas de forma extremamente eficaz como também pode criar problemas onde eles não existem.

Nada disso está em discussão e trazer questões salariais para um problema organizacional é, nesta altura, um atentado à família que perdeu um ente querido, para não falar do próprio, que pagou com a vida as discussões oportunistas subsequentes.

O rapaz de 29 anos morreu na urgência do São José porque foi transferido para um hospital que não providenciou a assistência que necessitava. Daí decorrem duas possibilidades:

O chefe da equipa de urgência aceitou a transferência após consultar com o director de serviço de neurocirurgia (ou seu substituto), que assentiu a transferência, tornando o neurocirurgião no agente responsável pela não assistência ao doente;

O chefe da equipa de urgência aceitou a transferência sem consultar com o director de serviço de neurocirurgia (ou seu substituto), tornando-o no responsável pela não assistência ao doente.

De recordar que a subsequente transferência do doente para instituição que pudesse receber, após o erro de terem aceitado a transferência, seria sempre solução – que optaram por não tomar – com probabilidade de sucesso igual ou superior à de o deixarem a morrer à espera de segunda-feira. O terceiro caso possível, o de o doente ter lá ido parar sem passar pelas decisões do chefe da equipa de urgência e do director de serviço de neurocirurgia (ou seu substituto) seria resolvido prontamente transferindo o doente para unidade hospitalar pronta para o receber.

Tudo o resto são cantigas de quem tem lata suficiente para ocultar uma péssima decisão com consequências catastróficas para o doente sob uma capa de palermice que só tem cabimento num país capaz de encontrar em António Costa um primeiro-ministro.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 28-12-2015

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