Em
sua carta, Lula se diz um fiel observador das leis e homem que respeita o
Judiciário. Se é assim, por que ele e seu partido chamam de “golpe” um processo
de impeachment que está ancorado na Constituição, nas leis e que teve seu rito
definido pelo Supremo? O mesmo Supremo ao qual ele apela agora em busca, diz,
de Justiça?
Reinaldo Azevedo
Divulgou-se na noite desta
quinta uma “carta aberta” assinada por Lula em que, com medo de ser preso, ele expressa o seu
respeito às instituições e, em particular, ao Poder Judiciário, diz-se vítima
de injustiça, resume o seu perfil de democrata inatacável e, como de hábito,
lembra a sua origem pobre como mais uma evidência de seu exclusivismo moral.
Lixo.
Ao redator, dou os parabéns.
Quem terá sido? Certamente o exército de advogados opinou, mas alguém conferiu
unidade de estilo. Acho que a revisão é de Luiz Dulci. É muito mal formado, mas
é bem informado. Até já leu bons poetas — o que, como se vê, também não salva
ninguém.
Lula diz que sua intimidade
foi violada. Depende do que pretende afirmar com isso. De fato, isso aconteceu
porque o sigilo telefônico estava quebrado. Mas ilegal, sabem seus advogados, o
procedimento não foi porque havia autorização judicial.
Já escrevi no blog e reitero:
a reserva quanto ao que veio a público está relacionada àquela parte das
gravações feita depois da suspensão da quebra de sigilo. O resto, os defensores
de Lula sabem bem, está dentro das normas. De toda sorte, certamente essa
parcela não coberta pelo intervalo da quebra não será usada como prova em
juízo.
Sergio Moro pode suspender o
sigilo de uma investigação? Pode. Está na sua competência? Sim. Tem autoridade
para tornar público o que está nos autos? Tem. Depende da relevância do que lá
vai.
Se Lula conversa com a
presidente da República e se esta lhe envia um termo de posse para que ele use
“apenas se necessário”, a questão, lamento, não é privada, mas pública. Se o
ex-presidente diz a um prefeito que só ele próprio tem condições de pôr a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal no seu devido lugar, também essa
não é matéria individual, mas que diz respeito à coletividade. Afinal, ele foi
nomeado ministro, não?
Se Lula, feito o condestável
da República, pede a um advogado amigo seu que pressione Rodrigo Janot,
procurador-geral, a investigar Aécio Neves e deixa claro que esse procurador
lhe deve a eleição — ou teria chegado em terceiro lugar —, também isso não é
matéria privada. Se, num bate-papo com Jaques Wagner, logo depois de falar com
a própria presidente, sugere que se façam gestões junto a ministros do Supremo
para ver atendidos a seus pleitos, isso nos diz a todos respeito.
Os leitores sabem que sempre
digo tudo o que penso. Há conversas que vieram a público que, de fato, não têm
o menor interesse. O que Eduardo Paes pensa da forma física de Dilma ou o juízo
de valor que faz do trabalho de Pezão, convenham, são irrelevantes para o
Brasil e a Lava Jato. Podem adensar o anedotário político e pronto. Não vai
além disso. A divulgação de tal trecho era, a meu ver, desnecessária.
O Lula da carta, redigida por
advogados com receio de que seu cliente seja acusado de obstrução da Justiça —
e me parece que tal acusação é procedente —, pinta um homem absolutamente
conformado com os pressupostos do estado de direito.
Infelizmente, o Lula que
conversa com Sigmaringa Seixas diz, com todas as letras, que está com o saco
cheio de formalidades e cobra do amigo uma interferência informal junto a
Janot.
Acho justo que Lula reclame
dos vazamentos. Ocorre que ele o faz hoje; lembro que, quando estava na
Presidência e tal procedimento atingia adversários seus, ele mandou brasa: quem
não quisesse a Polícia Federal na sua porta, que andasse direitinho…
É evidente que vazamentos têm
de ser coibidos — e não cabe à imprensa ser dona do sigilo. Mas não é menos
evidente que eles não determinam a qualidade ou a verdade da informação que se
divulga. Nota à margem: as gravações não são vazamentos.
Será mesmo?
Em sua carta, Lula se diz um
fiel observador das leis e homem que respeita o Judiciário. Se é assim, por que
ele e seu partido chamam de “golpe” um processo de impeachment que está
ancorado na Constituição, nas leis e que teve seu rito definido pelo Supremo? O
mesmo Supremo ao qual ele apela agora em busca, diz, de Justiça?
Esse Lula supostamente
pacífico e respeitador das instituições estará na Paulista, nesta sexta,
comandando uma súcia que tem a ousadia de chamar de golpista um processo legal
e legítimo. E é ele que vem falar em nome do respeito às leis?
Esse mesmo Lula que faz ares
de ofendido permitiu que o partido, que segue o seu comando, e o próprio
governo, que agora está sob os seus cuidados, lhe preparassem uma cerimônia de
posse em que a imprensa foi hostilizada de maneira vergonhosa. Os brucutus que
se manifestavam num espaço que pertence, por excelência, à institucionalidade
se opunham, isto sim, é à liberdade de informação.
Não venha agora se dizer um
extremoso defensor das leis quem expressa a convicção, em conversa com a
própria presidente da República — e com a anuência desta —, de que os tribunais
estão acovardados e de que algo precisa ser feito.
Não venha agora se dizer um
subordinado do estado de direito aquele que se declara em guerra, comparando-se
ao general comunista vietnamita Vo Nguyen Giap e que, apelando a uma linguagem
incrivelmente chula, industria o ataque de mulheres de seu partido a um
procurador que o investiga. E o faz apelando a questões que dizem respeito à
vida pessoal do outro.
O Lula dessa carta aberta não
passa de uma tentativa fraudulenta de responder à fala muito dura de Celso de
Mello, decano do Supremo, que se posicionou em nome do tribunal, lembrando que
ninguém, nem o Sumo Pontífice do Petismo, está acima da lei.
Esse Lula caroável e servil às
leis é uma farsa. O Lula de verdade manda tomar no c… qualquer um que decida
enfrentá-lo, ainda que segundo os mais estritos limites legais. O Lula de
verdade anunciou que comparece nesta sexta a um ato que vai chamar de “golpe” o
cumprimento da lei e da Constituição.
O falso Lula da carta está com
medo que o verdadeiro Lula das gravações vá para a cadeia.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
18-3-2016
Relacionados:
** A Carta Aberta de Lula **
ResponderExcluirLula chega a ser surpreendente baixando de modo destemperado e prepotente, o nível da ética e da moral em seus arroubos desmedidos, atraindo para si, como não poderia deixar de ser, uma inevitável aura de sombria negatividade! E suas vaquinhas de presépio, coitadas, se desdobram na missão impossível de tentar salvar sua pele! Bem feito, pela covardia e medo de cortarem o cordão umbilical que os ligam aos nefastos presidentes; estão se dirigindo, pela incapacidade e vontade de se libertarem, para o fundo do poço!! "Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado"..., nos orienta um ensinamento que vem lá do Céu! Lula que se julga acima da lei, já está amarelando, tentando consertar através de uma humilde Carta Aberta, os estragos que fez ao atacar arrogantemente o Poder Judiciário. Talvez seja tarde demais, a imprudência irresponsável pela arrogância que lhe é peculiar, jogou sementes num terreno fértil. A colheita será obrigatória!
Embora ninguém fale nos débeis aposentados do INSS, repito que, em silêncio, somos os maiores cidadãos desagravados e vingados! Lula e Dilma estão provando do mesmo veneno que nos empurram goela abaixo há treze anos, sofrendo agora, amargamente, uma "perseguição" e um "massacre" de que tanto se queixam! Quem com ferro fere, com ferro será ferido... Perseguiram e massacraram impiedosamente os aposentados e, agora, arcando com a "Lei do Retorno", estão sendo perseguidos e massacrados!!!
Um abraço todos.
Almir Papalardo.
Prezados, esta carta, redigida por Cardozo é tão falsa quanto nota de três reais, este Advg também é falso, este está querendo limpar a M que lula fez nas gravações, estas são verdadeiras, este é o lula verdadeiro que manda enfiar... Manda tomar...
ResponderExcluirDiz que no STF os homens não têm saco... Pede auxílio à uma mulher então, e dizendo que são covardes, isto e outras tantas mais, isto sim é o lula, ele próprio mostrou o que eu já sabia!!!
Abraços!
H Volkart