Cristina Miranda
O défice que nos apresentaram
é uma perigosa bomba relógio. Não há mérito nenhum nos 2,1%. Muito menos
prova que usando outras políticas se consegue os mesmos objetivos
como disse Marcelo. O que há são malabarismos grotescos, diria quase
criminosos, de “chico-espertice tuga” que escondem o maior embuste, depois
de Sócrates, fundamentado em mentiras, patranhas e ilusões para o iletrado
cidadão. Uma falta de respeito por toda uma Nação a quem se pede constantemente
sacrifícios fingindo ser pelo bem de todos. Uma mentira abençoada pelo PR que
nos deveria fazer corar de vergonha. Infelizmente.
Comecemos pelo dito feito
histórico que não o é: em 1989, Cadilhe, então ministro das Finanças de Cavaco
Silva, alcançava exatamente o mesmo déficit. Mas claro que os jornalistas “não
se deram conta” e por isso, nunca fizeram contraditório. Esta é a mentira útil
da propaganda para cegar sobre a realidade. Transmitir um
sucesso falso para criar um bem-estar na população que aguente, pelo menos, até
às autárquicas.
Agora vamos às ditas contas:
estão a ver os mágicos que tiram coelhos das cartolas? Os coelhos estão mesmo
lá dentro? Pois. Não estão mas parecem estar. Esse é o princípio
utilizado nestas contas de Centeno. Não é preciso que o seja, mas sim,
que o pareça. E parece que o défice reduziu quando o vemos pomposo e com cara
de anjinhos a dizer à boca cheia que não houve malabarismos nem habilidades apenas fruto de muito trabalho. Ora, caso para dizer que se houve “muito trabalho” foi na
“árdua” tarefa de “esconder debaixo da carpete” tudo o que faz subir o tão
almejado déficit. Vamos ver como?
É simples: contabilizam-se
todas as receitas extraordinárias, não autorizadas, que provocam uma
diminuição pontual do défice, as “one-off” e metem-se na gaveta as despesas
extraordinárias, estas sim, autorizadas, que o aumentam. Assim, e ao contrário
do estabelecido nas regras contabilísticas da UE, utiliza-se para
efeitos de redução, receitas pontuais não repetíveis, como a venda dos F16
(0,1% PIB), o PERES (cerca 600 milhões 0,4% PIB), reavaliação de ativos (170
milhões 0,1% do PIB), cativação indevida dos lucros que o BdP teve com a
compra de dívida da Grécia e que não foi devolvido à Grécia (0,1% do PIB),
devolução pela CE de 302 milhões de euros pagos por Passos Coelho em Julho de
2011 como caução aos empréstimos da Troika ( 0,2% do PIB), cativações de
despesas públicas (410 milhões 0,25% do PIB). Ora, se somarmos este
valor, 1,15%, ao défice oficial temos um aumento para 3,2%. Se a isto juntarmos
ainda os cortes de mais de 1000 milhões em investimento público e a poupança de
350 milhões em juros proporcionado pelo anterior executivo, esse valor subiria
para 3,6%. Isto enquanto por outro lado se beneficia por não levar ao défice despesas
pontuais, como intervenção em bancos, essas sim, totalmente aceites
pela UE.
A realidade vai-nos explodir
nas mãos quando todas as instituições do Estado em sofrimento financeiro
obrigarem a desembolsar as verbas necessárias para não colapsarem; o peso das
reversões e aumento de dívidas sem planeamento só para cumprir promessas
eleitorais caírem TODAS nas contas; quando já não for possível aguentar mais o
acumular de horas extras por falta de pessoal graças à redução para 35h na
função pública. A bomba vai estoirar quando o BCE deixar de comprar dívida
soberana por via da inflação registada na UE que ajuda a fingir que só pagamos
4% de juros quando na verdade, sem BCE, seriam de 6 a 6,5%. Quando a CE detectar o embuste…
É mentira que com novos
governos e novas políticas se constrói o mesmo caminho. Quando se trata de
gerir, as regras são sempre as mesmas: nunca gastar acima do que se produz. E
quando se gasta mais do que se pode, o caminho de regresso nunca se faz abrindo
cordões à bolsa.
A geringonça abriu a Caixa de
Pandora. Resta-nos aguentar com o impacto.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
27-3-2017
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