Moiani Matondo
Isabel dos Santos [foto], nas suas
vestes de poderosa mulher de negócios, deu mais uma entrevista no seu autoexílio
londrino. Desta vez, foi com a tradicional agência de notícias Thomson-Reuters.
Que fique desde já registado:
não é a oposição, nem nenhum ativista ou membro da sociedade civil quem escolhe
a imprensa estrangeira global para fazer declarações sobre Angola. É a própria
Isabel dos Santos.
Concedida à jornalista,
Allessandra Galloni, a entrevista – de tom macio – contém vários aspectos
dignos de nota.
Aquele que mais nos interessa
analisar são as declarações sobre a Sonangol, que, sem qualquer espécie de
contraditório, têm sido replicadas por todo o lado.
Isabel dos Santos descreve uma
nova era para a Sonangol, pintando um quadro que nada tem a ver com a
realidade.
Começa por dizer que quando
foi nomeada presidente do Conselho de Administração da Sonangol enfrentou uma
tarefa enorme, pois o barril de petróleo estava a US$ 25,00, o que representava
uma queda de 40% das receitas da empresa, deixando um grande encargo financeiro
por superar.
O que Isabel não explicou foi que,
entretanto, o barril de petróleo está acima dos US$50,00, ou seja, o seu preço
duplicou. Naturalmente, a folga financeira da Sonangol modificou-se
drasticamente. Ou não?
Isabel informou também a
entrevistadora de que procedeu a uma grande redução de custos.
Mas não esclareceu que a maior
parte da redução de custos resultou do adiamento de pagamentos (ver Maka
Angola, por exemplo aqui) ou de incumprimentos contratuais que resultaram em pesadas ações
judiciais, superiores a dois biliões de dólares, como é o caso da Cobalt (ver aqui).
Depois, Isabel fala de um
diagnóstico completo da empresa, que terá realizado antes de introduzir
mudanças, abordando as principais competências da força de trabalho para
garantir que esta tivesse o talento certo.
Não se conhece esse
diagnóstico nem, sobretudo, os seus resultados e respectivas propostas de
mudança. A reestruturação de uma empresa da dimensão da Sonangol não é trabalho
da presidente do Conselho de Administração e de um núcleo de consultores. É
obviamente trabalho de todos os quadros da empresa, que têm de
ser envolvidos, sob pena de tudo falhar, como ensina a literatura de gestão.
Além do mais, uma vez que
Isabel não divulga a sua visão nem os seus objetivos em termos de números
financeiros, como poderemos nós saber se ela teve ou não sucesso?
A General Electric, uma das
principais companhias do mundo, tem um novo CEO, John Flannery, que anunciou
uma grande reestruturação da empresa. Um dos aspectos essenciais é que, a 13 de
novembro, o novo CEO irá apresentar publicamente as metas financeiras atualizadas
e apresentar a sua visão para a empresa.
Isabel dos Santos apresentou
alguma visão e algumas metas financeiras a atingir? Não. Ora, é precisamente
sobre essa visão e sobre essas metas que devíamos estar a conversar. Não sobre
platitudes genéricas sem substância.
As palavras de Isabel dos
Santos são um insulto à inteligência, porque não passam de generalizações e de
adornos retirados dos manuais de gestão:
“Foi muito emocionante quando
designámos novos membros do conselho, sentimos uma sensação de missão. Algo que
poderíamos tornar… um desafio emocionante”, podemos ler, entre muitas outras
frases vãs. Depois, Isabel acrescenta que o que queria era fazer uma mudança de
cultura dentro da organização: “Mais rigorosa em torno das despesas; excelência
em tudo o que fazemos; mais transparência (…).” “Nós temos de administrar esta
empresa de forma transparente.”
Dizer isto ou pintar uma
paisagem com uma casinha e um sol é a mesma coisa. Qualquer criança o faz.
Administrar de forma
transparente é saber para onde a empresa vai. Quais são os números que se
pretende atingir. É quantificar.
Administrar de forma
transparente é criar uma cadeia de comando clara e conhecida, não utilizar um
suposto representante da presidente do Conselho de Administração, um estranho à
empresa chamado Mário Leite da Silva, para dar as ordens em seu nome.
Administrar de forma
transparente é prestar contas periodicamente. É saber quanto Isabel dos Santos
paga aos consultores estrangeiros que contratou para a Sonangol. Transparência
é Isabel dos Santos explicar o motivo por que as suas empresas privadas –
UCALL, Candando, Wise Intelligence Solutions e outras – sugam dinheiro da
Sonangol. É as empresas de referência prestarem contas por trimestre ou
quadrimestre. Da Sonangol conhece-se o Relatório e Contas de 2016, que foi
apresentado em junho de 2017 e… nada mais.
Isabel gere a Sonangol à
distância, através de consultores estrangeiros, e isso não funcionará sem o pai
na presidência, que transformava a sua arrogância e mimos em poder. Gere-se uma
empresa no terreno, em Luanda, a motivar os trabalhadores, a liderar a gestão e
a informar o público. Isabel dos Santos, porém, desde que se autonomeou
presidente da Comissão Executiva da Sonangol Pesquisa & Produção (núcleo
duro das operações da petrolífera nacional), não põe lá os pés.
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 21-10-2017
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