domingo, 22 de outubro de 2017

As peripatetices de Isabel dos Santos

Moiani Matondo


Isabel dos Santos [foto], nas suas vestes de poderosa mulher de negócios, deu mais uma entrevista no seu autoexílio londrino. Desta vez, foi com a tradicional agência de notícias Thomson-Reuters.

Que fique desde já registado: não é a oposição, nem nenhum ativista ou membro da sociedade civil quem escolhe a imprensa estrangeira global para fazer declarações sobre Angola. É a própria Isabel dos Santos.

Concedida à jornalista, Allessandra Galloni, a entrevista – de tom macio – contém vários aspectos dignos de nota.

Aquele que mais nos interessa analisar são as declarações sobre a Sonangol, que, sem qualquer espécie de contraditório, têm sido replicadas por todo o lado.

Isabel dos Santos descreve uma nova era para a Sonangol, pintando um quadro que nada tem a ver com a realidade.

Começa por dizer que quando foi nomeada presidente do Conselho de Administração da Sonangol enfrentou uma tarefa enorme, pois o barril de petróleo estava a US$ 25,00, o que representava uma queda de 40% das receitas da empresa, deixando um grande encargo financeiro por superar.

O que Isabel não explicou foi que, entretanto, o barril de petróleo está acima dos US$50,00, ou seja, o seu preço duplicou. Naturalmente, a folga financeira da Sonangol modificou-se drasticamente. Ou não?

Isabel informou também a entrevistadora de que procedeu a uma grande redução de custos.
Mas não esclareceu que a maior parte da redução de custos resultou do adiamento de pagamentos (ver Maka Angola, por exemplo aqui) ou de incumprimentos contratuais que resultaram em pesadas ações judiciais, superiores a dois biliões de dólares, como é o caso da Cobalt (ver aqui).

Depois, Isabel fala de um diagnóstico completo da empresa, que terá realizado antes de introduzir mudanças, abordando as principais competências da força de trabalho para garantir que esta tivesse o talento certo.

Não se conhece esse diagnóstico nem, sobretudo, os seus resultados e respectivas propostas de mudança. A reestruturação de uma empresa da dimensão da Sonangol não é trabalho da presidente do Conselho de Administração e de um núcleo de consultores. É obviamente trabalho de todos os quadros da empresa, que têm de ser envolvidos, sob pena de tudo falhar, como ensina a literatura de gestão.

Além do mais, uma vez que Isabel não divulga a sua visão nem os seus objetivos em termos de números financeiros, como poderemos nós saber se ela teve ou não sucesso?

A General Electric, uma das principais companhias do mundo, tem um novo CEO, John Flannery, que anunciou uma grande reestruturação da empresa. Um dos aspectos essenciais é que, a 13 de novembro, o novo CEO irá apresentar publicamente as metas financeiras atualizadas e apresentar a sua visão para a empresa.

Isabel dos Santos apresentou alguma visão e algumas metas financeiras a atingir? Não. Ora, é precisamente sobre essa visão e sobre essas metas que devíamos estar a conversar. Não sobre platitudes genéricas sem substância.

As palavras de Isabel dos Santos são um insulto à inteligência, porque não passam de generalizações e de adornos retirados dos manuais de gestão:

“Foi muito emocionante quando designámos novos membros do conselho, sentimos uma sensação de missão. Algo que poderíamos tornar… um desafio emocionante”, podemos ler, entre muitas outras frases vãs. Depois, Isabel acrescenta que o que queria era fazer uma mudança de cultura dentro da organização: “Mais rigorosa em torno das despesas; excelência em tudo o que fazemos; mais transparência (…).” “Nós temos de administrar esta empresa de forma transparente.”

Dizer isto ou pintar uma paisagem com uma casinha e um sol é a mesma coisa. Qualquer criança o faz.

Administrar de forma transparente é saber para onde a empresa vai. Quais são os números que se pretende atingir. É quantificar.

Administrar de forma transparente é criar uma cadeia de comando clara e conhecida, não utilizar um suposto representante da presidente do Conselho de Administração, um estranho à empresa chamado Mário Leite da Silva, para dar as ordens em seu nome.

Administrar de forma transparente é prestar contas periodicamente. É saber quanto Isabel dos Santos paga aos consultores estrangeiros que contratou para a Sonangol. Transparência é Isabel dos Santos explicar o motivo por que as suas empresas privadas – UCALL, Candando, Wise Intelligence Solutions e outras – sugam dinheiro da Sonangol. É as empresas de referência prestarem contas por trimestre ou quadrimestre. Da Sonangol conhece-se o Relatório e Contas de 2016, que foi apresentado em junho de 2017 e… nada mais.

Isabel gere a Sonangol à distância, através de consultores estrangeiros, e isso não funcionará sem o pai na presidência, que transformava a sua arrogância e mimos em poder. Gere-se uma empresa no terreno, em Luanda, a motivar os trabalhadores, a liderar a gestão e a informar o público. Isabel dos Santos, porém, desde que se autonomeou presidente da Comissão Executiva da Sonangol Pesquisa & Produção (núcleo duro das operações da petrolífera nacional), não põe lá os pés.
Título, Imagem e Texto: Moiani Matondo, Maka Angola, 21-10-2017

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