Manuel Villaverde Cabral
O Brasil está muito longe de
ter saído do impasse e tanto Lula como o velho PT, em cuja «diferença» se quis
acreditar, só acrescentam dificuldades à busca de uma solução viável e
positiva.
O Partido dos Trabalhadores
(PT) e o seu líder, Lula da Silva, já beneficiaram de mais apoio do que aquele
que tiveram no passado, mas continuam a ter boa imprensa fora do Brasil, em
Portugal concretamente. Há dias atrás, o Professor Boaventura Sousa Santos *,
assinando como Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de
Coimbra, dirigiu aos «democratas brasileiros» uma mensagem
acerca da eventual candidatura de Lula às eleições presidenciais do corrente
ano.
De permeio, como se ainda
estivéssemos no tempo da União Soviética, acusou o «imperialismo
norte-americano» de manobras contra Lula. Não assinala, porém, a «diplomacia paralela» conduzida durante a governação PT pelo
recém-falecido Professor Marco Aurélio Garcia e continuada por Lula depois de o PT ter perdido o poder. Dias depois, o
Professor Arriscado Nunes, também de CES de Coimbra, acusou os juízes
brasileiros de fazerem «pós-justiça» – seja lá o que isso signifique – no
sentido de impedirem Lula de se candidatar de novo a Presidente…
Esta incessante mobilização
dentro e fora do Brasil omite, porém, três coisas fundamentais. A primeira é
que, segundo tudo quanto é possível saber acerca de Lula e do PT, inclusive nas
suas relações com Sócrates e o seu governo, nenhum deles escapa à legítima
suspeita que levou tantos dirigentes «pêtistas» (e dos outros partidos!) à
cadeia por corrupção financeira e político-partidária, desde o chamado
«Mensalão» até ao «Lava-Jacto»! A verdade é que é difícil acreditar que Lula,
com a sua longa experiência, ignorasse o que se passava no Brasil e nas próprias fileiras doPT…
Seja como for, o segundo facto
omitido pela esmagadora maioria dos apoiantes da recandidatura de Lula é que
grande parte dos políticos dos múltiplos partidos que têm vindo a ser
incriminados por corrupção em sucessivos processos participaram do princípio ao
fim na governação «pêtista» com Lula e depois com Dilma. O mais notório de
todos eles é, obviamente, o mais votado partido brasileiro, o PMDB, cujo líder
era nem mais nem menos do que o antigo vice de Dilma e atual presidente da
República, Michel Temer!
O chamado «presidencialismo de
coalizão» em que se continua a viver no Brasil e onde o PT, embora conquistando
a presidência em 2002, esteve sempre, mas sim abaixo de 20% do voto popular, é
a primeira receita para a corrupção e para a ausência de uma política nacional
coerente. Assim viveram felizes os «coligados» dos últimos 15 anos enquanto
houve recursos para pagar as clientelas e, sobretudo, os inimigos que atualmente
se estão a revelar! Todos os eleitores minimamente informados sabem que, apesar
das incompletas reformas prometidas para mais tarde, os resultados partidários
para a Câmara de Deputados e para o Senado pouco ou nada terão que ver com os
resultados da eleição presidencial prevista para outubro de 2018!
Pior do que isso, o presidente
que vier a ser eleito e o partido dele não terão votos suficientes para passar
a legislação relevante como também não disporão dos recursos que Lula e Dilma
chegaram a ter para comprar as fidelidades de apoiantes e adversários! Ora, o que
significa isso? Muito simplesmente que, mesmo no caso de o judiciário deixar
Lula participar na eleição presidencial e na improbabilidade de ele ganhar a
presidência, tudo o resto ficaria na mesma, independentemente do que pensem ou
desejem a «direita» e a «esquerda»…
Com uma diferença decisiva:
nessas circunstâncias, seriam muito poucos os partidos disponíveis para
garantir a continuação do «presidencialismo de coalizão» tal como foi praticado
pelos presidentes do PT. Com sorte, sendo eleito, Lula contaria apenas com os
pequenos partidos à sua «esquerda», os quais não terão votos suficientes para
aprovar a legislação relevante. Seria, pois, a muito curto-prazo, o impasse do
sistema político, administrativo e financeiro do Estado federal e dos próprios
governos estaduais!
No limite do que se lê e ouve
dizer, seria melhor que Lula se abstivesse de lutar pela comparência eleitoral,
deixasse o PT reconstituir-se depois de ter perdido o poder, captasse o apoio
de pequenos partidos «satélites» como o PCdoB ou o PSOL, constituindo uma
plataforma oposicionista coerente a um presidente politicamente reformista e
economicamente liberal… Só que ainda não se está a ver quem!
As apostas de fora do xadrez
habitual são obviamente tentadoras, como o televisivo Luciano Huck, que se diz
patrocinado por Fernando Henrique Cardoso, mas demasiado arriscadas para a
dimensão do problema. Em contrapartida, candidatos eternos como Ciro Gomes, que
já fez parte de inúmeras coalizões, ficam abaixo do risco mínimo… O Brasil está
muito longe de ter saído do impasse e tanto Lula como o velho PT, em cuja
«diferença» se quis acreditar, só acrescentam dificuldades à busca de uma
solução viável e positiva.
Título e Texto: Manuel Villaverde Cabral, Observador,
19-2-2018
* Olha ele aí, encastelado na
Universidade de Coimbra. Nesse “centro de estudos” tem mais militantes da
extrema-esquerda, pagos pelos contribuintes portugueses.
Já escrevi por aqui na
revista, que tenho quase a certeza de que o honoris causa a Lula foi iniciativa
deste antro.
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