terça-feira, 28 de março de 2017

[Atualidade em xeque] Terceiro ano e contando...

José Manuel

Parece que o nosso povo ainda não entendeu muito bem o que se passa, haja vista a baixíssima presença nas manifestações de ontem, 26 de março. Enquanto isso, no mesmo dia, milhares saíam às ruas na República Dominicana, protestando contra a presença e as propinas da Odebrecht no país.

Quem me conhece sabe, em especial neste momento político que atravessamos, que não sou exatamente um adepto de uma intervenção militar, seja em que governo for, em que país for refutando inclusive postagens em redes sociais sobre o assunto, apesar de ter absoluta convicção, pois vivenciei a época, de que o período 1964/1985 foi o mais profícuo que o país já teve em 126 anos de república. 

Venho pregando abertamente ser a favor de uma mudança urgente e radical em nosso regime presidencialista de governança, que já vem provando há mais de um século não ser o ideal, muito pelo contrário, ser o principal culpado pelo estado degradado em que o país se encontra neste momento.

Sou totalmente a favor de um parlamentarismo republicano e que jamais se entregue a chave do cofre de um país pobre, política e intelectualmente, como o nosso, a psicopatas, políticos de ocasião, políticos semianalfabetos, populistas, políticos sem uma graduação superior, técnica ou humanas, pois, caso contrário, é um desastre completo, como nos dois casos mais recentes.

Uma vez com a chave desse riquíssimo cofre na mão, esse tipo de gente faz o que quer com o dinheiro alheio (do povo) e ainda se acha no direito de não dar a menor satisfação aos que os elegem, exatamente por conhecer os seus eleitores e saber que estão lidando com vaquinhas de presépio.

Foi o caso dos gastos público-particulares da impichada Dilma, das hospedagens em hotéis cinco estrelas em suítes presidenciais, jantares em restaurantes de luxo, quando chefes de Estado, por praxe diplomática, se hospedam em embaixadas. E por aí vai, se for enumerar o que essa mulher gastou sem ordem nossa, fora os aviões para lá e para cá, gastos pessoais, personal cabeleireiro etc., não paro mais de escrever.

Os gastos público-privados para a manutenção dos alegados exércitos do Lula, MST, Cut, vagabundos de ocasião e outras aberrações, como ônibus de luxo chegando lotados às grandes cidades para as manifestações mortadela, distribuição de diárias a manifestantes profissionais pagos, são os exemplos mais vivos do que acontece quando se entrega a chave do cofre a esse tipo de gente.

Hoje o parlamentarismo está presente em vinte e cinco países, os quais são os que têm melhor qualidade de vida, melhor desenvolvimento tecnológico, maiores PIB no planeta e onde não se vêm barbaridades como as que se cometem aqui, servindo de um belo exemplo a ser seguido. O Brasil, que viveu 42 anos no sistema parlamentar monárquico, desde 1889 não teve jamais um período tão longo de estabilidade.

A Lava Jato está entrando no terceiro ano, sem a mínima condição de vislumbre do final da linha e já explode mais um escândalo podre, fruto da mistura putrefata entre políticos, funcionalismo público e empresários do setor de carnes, que ainda vai nos mostrar coisas que já sabemos, mas que infelizmente temos que aguardar, como, por exemplo, imensas fazendas de gado no Norte, em áreas impunemente desmatadas, que apareceram de repente, da noite para o dia.

Os maiores frigoríficos brasileiros, isso é público, é só pesquisar, em menos de quinze anos compraram indústrias gigantes nos EUA, Inglaterra, Irlanda, Austrália, e hoje são os maiores fornecedores de carne do mundo.

Nem a Argentina, em séculos de tradição exportadora de carne com excelência, conseguiu semelhante proeza em tão pouco tempo.

Os frigoríficos são de longe os maiores doadores de campanhas eleitorais do país, e se torna interessante verificar em dados públicos a evolução das contribuições. Vejamos o que diz a Wikipédia, numa rápida pesquisa sobre apenas um frigorífico:

Em 2002 a doação eleitoral foi de apenas R$ 200 mil.
Em 2006, quatro anos depois, pulou para R$ 19,7 milhões. 
Em 2010 quatro anos após foi para R$ 83 milhões. 
E em 2014 as doações sempre do mesmo, chegaram a R$ 391,8 milhões.

Espetacular o crescimento dessas doações sem paralelo em nossa história e em apenas doze anos, o que configura uma evolução financeira extraordinária para tão breve período.

Mais interessante ainda são os períodos em que os fatos ocorreram que coincidem com as grandes aquisições internacionais, a partir de 2005, fato digno de nota.

E esse escândalo explodiu pouco antes do que já estava sendo aguardado para emergir, com a delação da Odebrecht. São escândalos cadenciados que, pelo visto, não vão ter fim, face ao que o país e o seu povo legaram à nação com esse tipo de permissividade durante décadas, sem punição.

Não podemos esquecer de que se existe corrupção é por que existem corruptos e corruptores, e se eles existem livre e impunemente é porque o povo de certa forma é conivente, deixando de fiscalizar o que se passa no seu país.

Afinal, povo, literalmente é um conjunto de pessoas que falam a mesma língua, tem costumes e interesses semelhantes, história e tradições comuns, e por isso, um amálgama de sociedades, civis, públicas, religiosas e militares.

Há, evidentemente, em todos os tempos, população e povo. Os dois termos designam a mesma coisa apenas na fase inicial da história humana, a da comunidade primitiva, quando não existem classes: povo é então toda a população. A divisão do trabalho assenta em condições naturais e não em condições sociais; assenta nas condições de sexo e idade: o homem realiza determinado trabalho; a mulher, outro; o velho, outro. É uma divisão natural: não torna alguns elementos mais ricos do que os outros, nem mais poderosos. Mas quando a sociedade se desenvolve, surgem as classes sociais e, com elas, a divisão social do trabalho: uns trabalham, outros usufruem do trabalho alheio. A partir desse momento povo já não é o mesmo que população: os termos começam a designar coisas diferentes. E não há, a partir de então, critério objetivo para definir o conceito de povo que não esteja ligado ao conceito da sociedade dividida em classes.
Nelson Werneck Sodré - Conceito de povo

Começo a ter dúvidas e ao mesmo tempo receio se a Lava Jato e o Ministério Público Federal conseguirão ter êxito no combate à corrupção, não pela confiabilidade dessas instituições, mas pela complexidade, emaranhado e tamanho da metástase em que o país está envolvido, e se não acabaremos chegado a algo mais forte, por causa disso.

O caso deste último escândalo da carne, no meu ponto de vista, foi o pior até agora, pois configura uma postura totalmente ineficiente do Estado frente a uma coisa sagrada, a alimentação e saúde dos seus cidadãos, e a confiança por eles depositada tanto no Estado como órgão fiscalizador, assim como no fabricante dos produtos descobertos adulterados.

Medidas severas terão que ser tomadas de uma vez por todas, e a participação mais ativa do povo deve ser considerada como prioridade.

Acabo de ler uma paródia, um texto irônico de autor desconhecido, que aqui vou reproduzir, mas que neste momento muito para lá de uma brincadeira, de uma ironia, nos coloca para repensar o nosso momento.    

É RIDÍCULO TER SAUDADES DO GOVERNO MILITAR.
Como alguém, em sã consciência, pode ter saudades de um governo que tinha, apenas, doze ministérios? Prova inequívoca que o país não era bem administrado.

Como confiar em presidentes que morreram pobres? Um homem que ocupa o cargo máximo de uma nação, sem fazer fortuna, prova que não sabe aproveitar oportunidades, nem gerir o patrimônio próprio. Um incapaz.

Como ser saudoso de uma época de ditadura, onde todos os cidadãos tinham direito ao livre acesso às armas de fogo? E pior, a repressão era tão violenta que, mesmo armados, os cidadãos não se matavam. Isso demonstra o medo da população contra aquele governo bárbaro.

Como respeitar um regime que criou o INSS, o PIS, o PASEP, regulamentou o 13º, instituiu a correção monetária, criou o Banco Nacional da Habitação, o FUNRURAL, construiu mais de 4 milhões de moradias e abriu 13 milhões de vagas de emprego?

Melhor nem falar de infraestrutura. Em 21 anos, conseguiram, apenas, asfaltar 43.000 Km de estradas, construir 4 portos, reformar outros 20, instalar as maiores hidrelétricas do mundo, decuplicar a produção da Petrobrás, criar a Embratel e a Telebrás, implementar dois polos petroquímicos, entre outras coisinhas sem importância.

A educação era ridícula. Pegaram o país com 100 mil estudantes secundaristas e transformaram em 1.3 milhões. Criaram o Mobral, o CESEC, a CNPQ e o programa de Merenda Escolar.

Nestes vergonhosos anos de chumbo, onde o PIB cresceu 14%, as exportações saltaram de 1.5 para 37 bilhões, atingimos a 7ª economia mundial e nos tornamos o 2º maior produtor de navios do planeta. Uma catástrofe!!

Realmente, durante essa página negra da história nacional, pelo visto, apenas os presídios funcionavam. Esses, sim, um exemplo. Neles entraram terroristas, assassinos, assaltantes, guerrilheiros, sequestradores, e saíram deputados, ministros, governadores e, até, dois presidentes. Isso é que é recuperação.
 
Título e Texto: José Manuel – ("FHC diz que sistema político do Brasil se esgotou:  É preciso outro.", Folha de São Paulo em 25-3-2017), 27-3-2017

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2 comentários:

  1. JM, parabéns pelo seu texto! Impressionante, tantas verdades, tenho o mesmo medo, diante da grandiosidade dos desvios do dinheiro público e das corrupções generalizadas, não é só a Petrobras, Fundos, Correios, etc, são muitos os focos a serem ainda descobertos.
    Não sei se a Lava Jato conseguira desvendar tudo isto.
    É preocupante.

    Heitor Rudolfo Volkart

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  2. HÁ DIVERGÊNCIAS QUE PRECISAM SER COLOCADAS.
    JM, a lista aberta ou fechada não modifica o jeito de votar brasileiro porque ainda usamos a tal proporcionalidade e a suplência na liturgia política brasileira.
    Tanto o parlamentarismo como o presidencialismo necessita do voto distrital puro, livre e aberto.
    São 42 países com regimes parlamentaristas, dentre os quais existem poucos honestos e muitos corruptos.
    Bósnia, Etiópia, Grécia, Espanha, Portugal, Itália, Índia, Iraque,Líbano, Paquistão, Tunísia e Turquia entre alguns corruptos.
    Alguns Ditos honestos:
    Reino Unido, Japão, Suécia, Noruega, Dinamarca, Monarquias constitucionais
    Alemanha, Islândia e Finlândia parlamentaristas
    PIB é uma discussão diferente, ou analisamos a União Europeia, ou individualmente.
    USA 18 trilhões
    UE 16 trilhões Sem a Inglaterra 13 trilhões
    Depois viria a CHINA COMUNISTA 10 trilhões
    DOM PEDRO I FOI MONARCA CONSTITUCIONAL COM A CF DE 25 DE MARÇO DE 1824
    O BRASIL ENDIVIDADO EXTERNAMENTE COM PORTUGAL.
    DOM PEDRO II FOI TAMBÉM MONARCA CONSTITUCIONAL
    O INSS FOI CRIADO para fechar o endividamento bilionário com os caixas de pensões.
    O PIS, PASEP foi criado para que o governo diminuísse suas contribuições ao sistema previdenciário.
    O décimo terceiro foi regulamentado, porque um trabalhador que recebia semanalmente, tinham um mês de trabalho remunerado a mais do que os que recebiam mensalmente.
    Um ano tem 52 semanas, 12 meses civis tem 48 semanas.
    Com o advento do PIS, PASEP e INSS, terminaram com a estabilidade e fizeram o FGTS.
    CONSIDERAÇÕES MINHAS...
    Acho o CARNE FRACA, UM ENGÔDO.
    Para baixar o preço da exportação e o de venda interno.
    É muito difícil frigoríficos grandes fazerem dolo aos clientes.
    Os embutidos de frigoríficos pequenos sempre foram dolosos.
    Me dê 10 milhões e eu serei Senador no ACRE.
    Darei 10 mil reais a 100000 eleitores.
    Então sou a favor do sistema americano, se optar pelo orçamento eleitoral público todo mundo recebe a mesma quantia. Se optar pelo privado tem que fazer declaração de todas as doações, e não recebe o público. As doações privadas tem que ser de pessoas jurídicas e físicas, não de empresas.
    Não existe caixa 2.

    fui...
    podem reclamar.






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