José Manuel
Escrever o quê neste imenso
bananal sem futuro? Não há o que escrever de alegria, mas muito de tristeza,
pois tudo já foi falado, escrito e o alcance do eco é tão ou mais difícil do
que uma ida a Marte. Porém, a duras penas, tenho que cumprir o meu contrato
milionário de exclusividade com o editor, afinal, o meu único leitor aguarda
ansiosamente pelos meus textos, entra semana sai semana.
Como os bananais daqui são bem
diferentes, bem mais exóticos do que a maioria dos de fora, certa vez vi um
filme sobre um bananal na Costa Rica, que me deixou de boca aberta tal a
sofisticação no cultivo da preciosa fruta.
Primeiro, mais parecia um
Jardim botânico com arruamentos limpos, sem nenhum resquício da famosa palha
bananeira. Segundo, os cachos de bananas eram todos ensacados ainda no pé, até
alcançarem o tempo ideal de maturação. Depois, a forma personalizada, os
cuidados na retirada dos cachos e a higienização das frutas antes de serem
embaladas para a exportação.
Pasmo, foi como fiquei em
saber que a banana pode ser uma fruta muito apetitosa, se bem tratada, desde
plantinha.
Nós também somos, além de
bananas, como as bananas. Sadias, se formos bem cultivados, bem podados, não
jogarmos nossas palhas no chão, sermos ensacados (educados) até à maturidade,
tivermos saneamento básico para uma boa higienização, poderemos ser, sem
dúvida, exportados com um alto grau de sofisticação e aceitação no mercado de
trabalho, tanto nacional como internacional.
Só que os nossos bananais são
exóticos, confusos, os arruamentos são cheios de entulhos, os frutos apodrecem
cedo pela falta de cuidado básico e quando chegam a ser retirados para uso
comercial, em geral estão em mau estado devido às aves e ao sol inclemente,
logo, com qualidade péssima. Mas os carnavais que acontecem nos bananais, não,
são riquíssimos, com qualidade primorosa.
São dias e dias de folia e
bananas ao trabalho. Ninguém tem cuidado com os frutos, mas a folia, essa, não
pode deixar de ser muito bem cuidada. Os trabalhadores dos nossos bananais, não
conseguem entender que a venda dos frutos perfeitos é bem melhor e lhes trará o
pão nosso de cada dia, no futuro, do que o abandono do bananal por uma festa
que não lhes trará benefício algum.
Povo interessante este, que
vive embananado, mas não quer mudar de vida e é capaz de juntar milhares de
peões nos carnavais dos bananais a troco de nada, normalmente de um
endividamento no futuro, mais filhos para mal e mal sustentar, mas não é capaz
de fazer o mesmo, encher os bananais, para exigir dos capatazes que os
exploram, a dialogar, mudar de atitude na relação patrão/empregado, mudar o
regime de governo, mudarem a gestão das colheitas, exigirem melhores condições
de trabalho e, quem sabe?, sonhar um dia com a Costa Rica.
Entra ano, sai ano, essa
situação vem se repetindo há 125 anos desde que os capatazes começaram a serem
eleitos por voto popular. Votos comprados muitas vezes a preços de banana, que
é a nossa moeda de troca.
Agora no dia 26 de março,
resolveram ir novamente para as ruas entulhadas dos bananais, para reclamar dos
que os exploram. Já fizeram isso várias vezes e no sufoco quase emergencial
conseguiram tirar a um custo altíssimo para o seu bem-estar e do bananal, um
capataz que lhes vivia dando banana, mentindo, mentindo e lhes roubando as
bananas.
Vão trocar seis bananas
d'água, por meia dúzia de bananas prata e, claro, continuar sob o chicote do
capataz-mor.
Quantas vezes mais esses peões
têm que ser alertados de que o sistema de capatazes, que os vem espoliando, que
os mantém na miséria, enquanto vivem na Casa Grande em fartura e à custa de
suas miserabilidades, tem que acabar?
Quantas vezes mais temos que
alertar a esses pobres peões bananeiros, que o que eles necessitam é de um
gestor (primeiro-ministro) formado em universidade específica, não político, e
que consiga gerenciar tecnicamente este enorme e rico bananal?
Quantas vezes mais precisamos
dizer para eles que os capatazes são para ser mantidos à distância, de
preferência pendurados em retratos na Casa Grande?
Será muito difícil, a quem a
vida inteira comeu e viveu levando banana, perceber que só uma mudança radical
no sistema gerencial dos seus bananais, os levará a ser como a Costa Rica,
pequeno país com apenas quatro milhões e oitocentos mil habitantes, país em que
não existe exército desde 1948, e que o dinheiro economizado pela inexistência
de despesas militares é direcionado, em sua maioria, à educação e à saúde.
Possui 96% de sua população alfabetizada com uma expectativa de vida de 78
anos. O país ocupa o quinto lugar no mundo em desempenho ambiental, e o seu IDH
(Índice de desenvolvimento Humano) é o sétimo melhor da América Latina.
Atualmente, a Costa Rica
caminha para ser uma das maiores referências em sustentabilidade no mundo,
tendo a possibilidade de se manter um país ativo apenas com fontes de energia
renováveis.
Em tempo, a capital da Costa
Rica é San José [foto], cidade essa que projeta o país no cenário internacional
emprestando o seu nome e tendo sido sede da elaboração do Pacto de San José da
Costa Rica, mais conhecido como a Convenção Americana dos Direitos Humanos de
1969.
A capital do país também é
sede da Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão competente para julgar
as graves violações de direitos humanos ocorridas nos países signatários, tendo
como clássicos exemplos, o caso da guerrilha do Araguaia e, no momento
presente, o caso deste bananeiro que aqui escreve, que após ter trabalhado
trinta e dois anos em uma empresa, ainda aguarda, por culpa dos governos
bananeiros, mas já homologado pela justiça, os salários atrasados por quase
nove anos, ter o último recurso julgado. No momento sobrevivo, aos setenta
anos, como tutelado pela justiça, em processo provisório e preocupante, depois
de muita luta e comendo bananas.
Título e Texto: José Manuel, - certamente a Corte
Interamericana, é como o bananal do filme, limpo, honesto, cuidadoso e nos
devolverá os frutos da nossa luta, ensacados, maturados e sadios. 6-3-2017
Colunas anteriores:
Viramos sim, a república dos BANANAS!
ResponderExcluirAqui apesar dos apelos, não é uma república de bananas.
ResponderExcluirEstá muito mais para a república dos hipócritas, onde proliferam ratos em busca de migalhas.
Talvez pombos de praças públicas esperando alguns trouxas para lhes alimentar.
Cagando e poluindo a praça com uma das 80 doenças que transmite.
É muito difícil um GATO morrer de leptospirose, pois, ele mata com as patas e não come os animais doentes.
Já, os cães morrem de leptospirose pois matam com mordidas.
Adoro os cães, mas ladram e se defendem com a boca.
Nesse ponto devemos ser GATOS, matar com nossas mãos, nas urnas.
Temos de parar de transmitir a leptospirose.
Matar os ratos como gatos.
Quanto a corte interamericana, ela só pode julgar casos que a última instância de um país já tenha definido o resultado.
fui...
Mais uma vez obrigado pela sua resposta ao meu artigo.
ResponderExcluirAgora gostaria de posicioná-lo melhor sobre a Corte Internacional.
Primeiro, temos tido contato com a Corte e em seu último contato solicitou mais " elementos " comprobatórios.
Segundo, não se esqueça de que estamos nos instantes finais em duas ações, uma a Tarifária, a outra a Civil, possivelmente ainda este ano teremos ou uma ou outra resolvida.
A Corte não indeniza. A Corte uma vez comprovada a violação dos direitos humanos, o que ocorreu conosco e, ao termos as sentenças a nosso favor, isso ficará comprovado, ela age junto ao signatário da convenção para que os envolvidos sejam indenizados pelo país violador.
Um abraço
JM