Conferência transmitida para o encontro com
Jair Bolsonaro e Jeffrey Nyquist em Nova Iorque
Transcrição de Eduardo Bueno
(não revista pelo autor).
Nota de Olavo de Carvalho: Não
conheço o autor da transcrição.
Boa tarde a todos.
Muito obrigado ao André Khan e
aos demais organizadores desse evento; obrigado ao Jair Bolsonaro e ao Jeffrey
Nyquist por estarem presentes, e por fazer essa gentileza. Sobretudo, parabéns
aos organizadores por não terem permitido a entrada de repórteres, porque a
imprensa brasileira se transformou em um grupo de organizações criminosas,
dedicadas especialmente à calúnia e à difamação. O mais curioso é que alguns
tentam atingir o candidato Jair Bolsonaro através da minha pessoa, porque acham
(sei lá de onde tiraram a ideia) que sou o ideólogo da campanha dele, a qual
desconheço por completo (não tenho a menor ideia do seu programa político). Já
declarei pessoalmente que irei votar nele, e isto por dois motivos apenas:
primeiro, ele é um dos poucos (se houver outros) políticos honestos no Brasil,
já que ser ladrão na política brasileira (no Parlamento, nos ministérios) se
tornou uma obrigação moral – coisa que o Jair Bolsonaro tem descumprido
vergonhosamente; em segundo lugar, porque ele é a única candidatura nacional.
Eu até tenho uma certa apreciação pessoal pelos outros dois candidatos, Ciro
Gomes e João Dória. Acontece que este repete, igualzinho, o discurso
multicultural do poder globalista, e aquele já mostrou, já confessou, já
admitiu publicamente estar vinculado ao Partido Comunista Chinês. Então,
acabou: só há três candidatos, sendo dois “importados” – e, portanto, vou votar
no candidato nacional. E isto é tudo o que sei do Bolsonaro – e é mais do que o
suficiente para votar nele, não sendo preciso nem admitir como hipótese o votar
nos outros dois.
Eu vou fazer a conferência em
português, já que a maioria presente é de brasileiros. Mas farei algumas
interrupções para que o nosso amigo Alessandro Cota traduza para o inglês, em
favor do Jeffrey Nyquist.
O que irei dizer aqui não é
novidade para a maior parte dos meus alunos. Em 1989, na Casa do Estudante do
Brasil (uma organização carioca), fiz uma conferência, sob o título O Fim do
Ciclo Nacionalista, na qual eu enfatizava que o traço predominante e mais
constante da cultura brasileira era a busca da identidade nacional. Isto começa
no tempo do Romantismo, no começo do século XIX, com aquilo que os autores de
então chamavam de “busca da cor local”. Em 1870, um grande romancista
brasileiro – o maior deles -, Machado de Assis, já assinalava a onipresença
desse fenômeno no ensaio que publicou, intitulado O Instinto da Nacionalidade.
Mais tarde, no ano de 1922, houve a chamada Semana de Arte Moderna, que foi uma
revolução modernista no Brasil, mas de um modernismo marcado exclusivamente
pela ênfase nacionalista, pelo abandono das ligações com a literatura
portuguesa, pela afirmação do material folclórico e etnográfico nacional. Nos
anos 1930, houve mais um surto nacionalista, com o chamado Modernismo do
Nordeste, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, entre outros. A maior parte
dos grandes intelectuais brasileiros (como Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre,
Raymundo Faoro, dentre outros) teve, no problema da identidade nacional, o foco
de todos os seus estudos, de toda a sua visão do mundo. Até um certo desprezo
pela temática não nacional marcou a literatura e o pensamento brasileiros, ao
ponto de romancistas que escreviam histórias que se passavam em outros países
serem muito criticados por isto, como aconteceu com o grande romancista José
Geraldo Vieira. Para que se possa entender a estranheza desse fenômeno, basta
imaginar os americanos criticarem Ernest Hemingway por escrever histórias que
se passavam na França, na Espanha, ou em Cuba; ou os ingleses criticarem Joseph
Conrad porque suas histórias se passavam na África, na China, ou em outro lugar
qualquer. Esta ênfase nacionalista brasileira chegou a ser caricaturada num
romance de Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma: Policarpo era um
entusiasta da nacionalidade a ponto de achar que deveria ser abandonada a
língua portuguesa para se falar o tupi-guarani, a língua dos índios.
Toda esta ênfase nacionalista
da cultura brasileira se traduz também na política, como a constante busca da
afirmação e da independência nacionais. E o grande problema do Brasil é que ele
desperta para o cenário internacional, e começa a ter alguma importância ali,
precisamente na época em que as identidades nacionais estavam em refluxo. Já
nesta época, nos anos 1980, havia regiões inteiras do Brasil que estavam sob
ocupação de ONGs internacionais, em terras onde o ingresso de brasileiros era
proibido. Logo, estávamos praticamente sob ocupação internacional, e não havia,
de fato, na sociedade, uma reação suficiente contra isto.
Este é, então, o problema
principal, para o qual desejaria chamar a atenção, especialmente do candidato
Bolsonaro. Isto porque, no caso de ser eleito presidente (o que acredito que
acontecerá), ele enfrentará, sendo um candidato nacionalista, um patriota voltado
à defesa dos interesses nacionais, resistências medonhas do mundo inteiro. Por
isto mesmo o encontro dele com o Jeffrey Nyquist é algo que deve ser celebrado,
porque o Jeffrey é uma das pessoas que mais conhece este esquema globalista e a
sua intervenção contra as soberanias nacionais.
A existência e o poder
crescente do esquema globalista, voltado à destruição das soberanias nacionais,
é um fato reconhecido pelos estudiosos das mais diversas orientações
filosóficas e ideológicas que se possa imaginar. No meu debate com o professor
Aleksandr Dugin (conselheiro de Vladimir Putin), nós dois estávamos de acordo
quanto à existência, às dimensões e ao poder deste esquema internacional, e só
divergimos na interpretação pessoal quanto ao esquema em si. O meu livro O
Jardim das Aflições é, em parte, um estudo sobre a evolução da ideia de império
no mundo, notando que a concepção de império vai se tornando cada vez mais
vasta e mais abrangente. Pelas dimensões de hoje, o Império Romano é um
território relativamente pequeno e limitado. Não deixa também de ser uma
satisfação ver que um autor notoriamente comunista, como Antonio Negri,
descreve o fenômeno atual do império global em termos bem parecidos com os
meus. Em suma: o único lugar em que se nega a existência do esquema global de
poder é a mídia brasileira. É evidente que o grau de incultura e de ignorância
necessário para isto transcende as dimensões do próprio globo terrestre.
No debate com o professor
Dugin, eu tentei explicar que não havia somente um poder global (negando,
assim, a ideia dos “donos do mundo”), mas sim três esquemas globalistas
abrangentes em disputa, que ora se combatiam, ora colaboravam uns com os
outros. O primeiro e mais antigo é evidentemente o esquema islâmico, cuja
existência remonta há mais de um milênio, com o sonho do Califado universal. O
segundo é o esquema comunista russo-chinês, cuja formulação remonta às
primeiras décadas do século XX; este esquema se caracteriza pela sua imensa
flexibilidade estratégica. Por exemplo, no tempo da Primeira Guerra, o
movimento comunista era francamente internacionalista, era já assumidamente
globalista; depois da Segunda Guerra Mundial, este movimento descobriu que
podia tirar proveito dos partidos e movimentos nacionalistas do terceiro mundo,
jogando-os contra os poderes ocidentais, especialmente contra os Estados Unidos
– e isto marcou profundamente a história brasileira, porque a esquerda
nacional, especialmente a do Partido Comunista, sempre enfatizou mais o que
chamava de “anti-imperialismo”, do que a criação do socialismo. Um dos
candidatos nesta presente eleição, Ciro Gomes, ainda é representante deste
velho tipo de nacionalismo de esquerda. Mas não se pode confiar na sinceridade
de um nacionalismo incentivado pelo Partido Comunista Chinês. A partir dos anos
60, a esquerda internacional mudou completamente de discurso ideológico, ao
praticamente abandonar a ideia da revolução proletária e da ditadura do
proletariado, criando, no lugar, o discurso da proteção às minorias. Ao mesmo
tempo, os grandes poderes econômicos de dimensão global (os megabilionários e
suas megafortunas) descobriram que esse discurso em favor das minorias era um
poderoso instrumento para a dissolução e destruição das soberanias nacionais. E
isto criou a presente situação, na qual tem-se as grandes fortunas mundiais
fomentando movimentos de esquerda, o que, evidentemente, cria também uma
situação muito ambígua, em que há uma esquerda elitista e uma direita populista
(nos EUA, tal situação é muito clara). E, aparentemente, esta será a situação
que se repetirá no Brasil com a candidatura Bolsonaro contra os outros dois
candidatos.
No entanto, seria um grande
erro compreender a estratégia globalista em termos puramente ideológicos. As
fontes do discurso globalista e multiculturalista são múltiplas e de diferentes
origens ideológicas. Ou seja, a antiga ideia de um bloco ideológico monolítico
de esquerda já está dissolvida. Esta mudança ideológica veio paralelamente com
uma mudança estrutural do movimento comunista mundial. Já nos anos 70, um relatório,
muitíssimo bem feito, da RAND Corporation assinalava a substituição da antiga
estrutura hierárquica (a antiga linha de comando) do movimento comunista, por
uma organização mais flexível, que chamaram de “redes”. Já não se tratava,
portanto, de assegurar a unidade ideológica e disciplinar do movimento
comunista, mas, ao contrário, de aproveitar, numa estratégia unificada, uma
variedade de discursos ideológicos e de movimentos até conflitantes entre si.
Isto equivalia a uma exploração estratégica e sistemática do caos ideológico.
Para se ter uma ideia, o discurso globalista e multiculturalista tem fontes tão
diferentes quanto as obras do próprio Karl Marx, as de Martin Heidegger, e as
obras, sobretudo, de Rene Guénon (que formam, talvez, a mais corrosiva crítica
da civilização Ocidental que alguém já produziu, embora ele fosse obviamente um
homem conservador, de direita). Nos movimentos direitistas (tanto liberais,
quanto conservadores), é possível ver que ainda existe muita ignorância a
respeito do assunto, porque insistem em combater o movimento comunoglobalista
com a mesma linguagem e a mesma retórica do velho anticomunismo.
Uma característica bastante
disseminada do discurso globalista e multicultural é a exploração sistemática
de qualquer tipo de insatisfação psicológica ou emocional existente, e não
apenas da antiga insatisfação econômica dos povos. Destacam-se aí,
evidentemente, as insatisfações de tipo sexual, que praticamente acompanham a
humanidade desde a origem dos tempos. Por exemplo, todo movimento homossexual e
transexual surge daí. E é evidente que este tipo de insatisfação se torna mais
autoconsciente e mais pronunciado nas classes mais altas do que nas mais
baixas. Se alguém estudar a história dos séculos passados, verá que a vida
sexual da humanidade sempre foi muito pobre. Por exemplo, nos Estados Unidos,
durante a época da ocupação do território, havia muito mais homens do que
mulheres – portanto, a possibilidade de insatisfação era enorme. Mas à medida
que a sociedade progride, e que o capitalismo cria uma riqueza abundante, as
insatisfações de tipo emocional e psicológica começam a se destacar, justamente
porque os problemas econômicos fundamentais estavam resolvidos – como bem o
observou o filósofo espanhol Julián Marías, em um ensaio publicados nos anos
50, o qual morava, na época, nos Estados Unidos. Como essas insatisfações
crescem, sobretudo, nas classes mais altas e nas mais letradas, é evidente que
a esquerda internacional, na medida em que assume esta causa como sua, torna-se
a representante das classes superiores. Isto quer dizer que houve uma inversão
da composição sociológica da esquerda e da direita.
Sabe-se que, por outro lado,
as insatisfações de tipo sexual são ilimitadas. Tão logo começa-se a prestar atenção
nelas, quando já se está liberado da carga econômica e da carga do trabalho
pesado, elas não têm mais fim. De modo que as reivindicações, as exigências, as
queixas nesta área vão se alargando e crescendo à medida que o tempo passa.
Isto tem um aspecto cômico na sigla dos movimentos que defendem tais
interesses: LGBT (XPT…) – não há limites. Esses movimentos começaram com as
reivindicações de certos direitos dos homossexuais, como o direito a um
tratamento digno na sociedade, que é a coisa mais óbvia do mundo – e que
ninguém nega. Depois houve a incorporação dos transexuais, com os quais
criou-se um problema: todas as pessoas serão obrigadas a aceitar, como
mulheres, os homens que se apresentem vestidos como tais – e, com isto,
entra-se naquela famosa piada de Groucho Marx (“afinal, você vai acreditar em
mim, ou nos seus próprios olhos? ”). Então, o sujeito vê um homem vigoroso (do
tamanho de Arnold Schwarzenegger), mas que está usando um sutiã, e é obrigado
por isto a tratá-lo por “senhora”. Assim, para evitar um desconforto para uma
minoria ínfima, é criado um desconforto cognitivo intolerável para a maioria.
Houve uma época em que coisa
semelhante se observava nas reivindicações de tipo racial. Por exemplo,
dizia-se que a associação da cor negra àquilo que é sinistro, perigoso fosse
uma manifestação racista. Isto, não obstante eu ter demonstrado que o
simbolismo da cor negra era exatamente o mesmo nas culturas africanas,
especialmente na Ioruba. Também, nos Estados Unidos, certas palavras tornaram-se
ofensivas: começou com a palavra nigger,
depois também a palavra black se
tornaria ofensiva – e assim a coisa vai crescendo. A promessa dos esquemas
multiculturalistas e globalistas – de proteger as minorias contra qualquer tipo
de desconforto psicológico, por mais evanescente que seja – cria certamente um
desconforto psicológico para a maioria.
A adoção deste discurso leva
naturalmente à adoção de incongruências mentais que raiam à psicopatia pura e
simples. Por exemplo, hoje os grupos gayzistas e transexualistas, dentre
outros, são aliados dos imigrantes (especialmente, islâmicos) na luta contra o
Ocidente; o mesmo acontece com o movimento negro. Isto implica em que dois
fatos têm de ser soterrados e tornados invisíveis. O primeiro deles é que as
doutrinas racistas antinegros foram uma invenção islâmica, já no século XI, ao
passo que, no Ocidente, não se vê surgir nenhuma doutrina explicitamente
racista antes do século XVIII – o que foi assinalado por Eric Voegelin, na sua
obra A História da Ideia de Raça -, porque o racismo ocidental já aparece com
pretensões científicas; portanto, é impossível que ele aparecesse antes de
haver um conceito pretensamente científico de raça. O segundo fato que tem de
ser escondido e soterrado é que, em todo o contexto islâmico, o homossexualismo
é considerado não apenas um pecado, mas um crime hediondo, o qual é punido com
a morte. Do mesmo modo, um violentíssimo preconceito anti-homossexual vigorou
em todo o mundo comunista durante boa parte do século XX. Eu pessoalmente cheguei
a presenciar este fenômeno na Romênia, onde, apesar da queda do comunismo,
ainda havia, e estava em vigor, uma lei que tornava homossexualismo crime
(motivo pelo qual só fiquei conhecendo dois homossexuais lá, ambos
brasileiros).
Isto tudo dá uma ideia da
confusão proposital da ideologia multiculturalista, a qual, por sua vez, cria
uma atmosfera totalmente diferente da do antigo comunismo doutrinário. Um dos
elementos que se tornaram importantes dentro dessa ideologia foi a defesa da
pedofilia, que surge quase ao mesmo tempo da gritaria universal contra os
padres pedófilos. Estatisticamente, o clero católico é uma das comunidades no
mundo em que existem menos pedófilos. Mas a defesa da pedofilia aparece já
abertamente na década de 70. Em 1977, havia três pedófilos, presos na França, e
praticamente toda a intelectualidade esquerdista se mobilizou em defesa deles.
Louis Aragon (poeta oficial do Partido Comunista), Jean-Paul Sartre, Simone de
Beauvoir, Philippe Sollers – enfim, toda a intelectualidade esquerdista correu
para defender os criminosos. Na mesma época, o mais famoso líder da rebelião
estudantil de 1968, Daniel Cohn-Bendit , publicou um artigo no qual descrevia
poeticamente as delícias de ser desnudado por uma garotinha de cinco anos. Nos
Estados Unidos, o famoso Relatório Kinsey praticamente criou os novos padrões
de conduta sexual, adotados desde os anos 1950-60; Alfred Kinsey (ele próprio,
um pedófilo praticante), nas suas “pesquisas”, pagava criminosos pedófilos para
que fizessem sexo com crianças menores de idade, e para que descrevessem as
suas experiências. Não se pode esquecer que todas aquelas “pesquisas” foram
financiadas pela Fundação Rockefeller – um dos pilares do globalismo hoje em
dia. Também não se pode esquecer que a comunidade na qual se observou o maior
número de casos de pedofilia no mundo foi entre os assistentes sociais da ONU,
atuantes na África.
Este complexo de
reivindicações emocionais, que, por definição, não tem fim, é um dos elementos
fundamentais do caos gerado propositada e estrategicamente pela chamada Nova
Ordem Mundial. É claro que a adesão a esse tipo de discurso ideológico
necessariamente reduz o nível de inteligência dos seus adeptos. Isto porque
eles se acostumam com a incongruência não só entre afirmações distintas, mas
com o total descompasso entre o seu discurso e a sua experiência real. O tipo
de militância, seja ela formal, seja informal, que adere a essas ideias é
observada, sobretudo, na classe média alta para cima, entre pessoas que têm
algum tipo de formação universitária, mas que não chegam a ser intelectuais
(são semi-intelectuais). A classe jornalística é um exemplo. Isto quer dizer
que, nos últimos vinte anos, o jornalismo se tornou quase que inteiramente
ficcional, o que torna quase impossível discernir nele entre o que é uma
desinformação planejada, e o que é uma simples expressão da ignorância e
confusão mental da classe jornalística.
E esta é a situação com que o
candidato Jair Bolsonaro vai se defrontar não somente durante a sua campanha
(como, aliás, já está se defrontando, haja vista a quantidade impressionante de
mitos e lendas urbanas que circulam), mas, sobretudo, se ele for eleito.
Situação similar é evidentemente encontrada pelo próprio presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump. Mas, no Brasil, há um fator agravante: mais de quarenta
anos atrás, a adoção do método de alfabetização socioconstrutivista gerou uma
geração sem fim de analfabetos funcionais. As últimas pesquisas revelam que 50%
dos formandos das universidades (pessoas que estão no último ano, prestes a se
formar) são analfabetos funcionais. E pode-se imaginar o que é um analfabeto
funcional, recheado de insatisfações eróticas e emocionais, escrevendo sobre a
candidatura Bolsonaro – tudo é absolutamente imaginário.
Mas este problema não afeta só
a população universitária. Há vários anos, os estudantes brasileiros do ensino
médio tiram os últimos lugares nos testes internacionais, e ficam abaixo dos
alunos da Zâmbia, do Paraguai, da Serra Leoa, entre outros. Para ver como o
analfabetismo funcional não afeta somente os estudantes, mas também os seus
professores e dirigentes espirituais, em um dos anos em que os estudantes
brasileiros tiraram o último lugar no PISA, o então Ministro da Educação
pronunciou a seguinte frase: “Poderia ter sido pior”. Ou seja, para os alunos
brasileiros, seria preciso criar um lugar especial, abaixo do último. Uma outra
pesquisa recente, abrangendo quarenta países, demonstrou que em todos eles o QI
médio da população havia subido ao menos um pouco – à exceção do Brasil, em que
ele havia decrescido mais de vinte pontos.
É claro que a adesão a
discursos tão incongruentes e absurdos só é possível mediante uma autopersuasão
histérica. O psiquiatra polonês Andrew Lobaczewsk, no livro Ponerologia:
Psicopatas No Poder, considerado um dos livros mais importantes do século XX,
demonstrou que, quando uma elite de psicopatas (ou seja, de pessoas sem senso
moral nenhum) chega ao poder, eles espalham em volta não a psicopatia, mas sim
a histeria. É de se imaginar o que pode ser do destino de um país regido por
psicopatas, com a ajuda de multidões de colaboradores histéricos. O que define
o histérico é o fato de ele não acreditar no que vê, mas sim no que ele mesmo
diz. Foi assim que eu vim a ser transformado em ideólogo de uma candidatura
cujo programa desconheço.
Então, este é mais ou menos o
panorama psicológico que Bolsonaro vai encontrar na Presidência. Eu afirmo que
votarei nele porque não gosto dele o suficiente, pois, se eu gostasse, teria
dito para ele ficar em casa e não se candidatar, ou, pelo menos, torceria pela
sua derrota, o que não vou fazer. Era isto o que eu tinha a dizer. Muito
obrigado a todos.
Texto: Olavo de Carvalho, Mídia Sem Máscara, 17-10-2017
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Poooxaaa!
ResponderExcluirA que ponto chegamos!
Se não for ladrão já esta bom.
...já que ser ladrão na política brasileira (no Parlamento, nos ministérios) se tornou uma obrigação moral ...
Pobre país,triste povo!
Paizote