Alexandre Garcia
Estou de volta das férias em
Portugal. Fazia três semanas que não ouvia falar em assalto, homicídio, bala
perdida. Do aeroporto para casa, senti que havia voltado. O carro não parava de
sacudir, nas irregularidades do asfalto; do carro da frente, alguém jogou pela
janela uma garrafa vazia; ao lado, outro nos ultrapassa produzindo, em sua
aparelhagem de som, um barulho horrível de virabrequim quebrado. É o choque da
volta. Voltei ao país desorganizado, cheio de corrupção e de gente que
considera isso muito normal. Por aqui, a insegurança, a corrupção, os 170
assassinatos por dia têm sido assunto secundário. A moda é expor intimidades,
discutir sexo, cor da pele, entrar nas ondas do politicamente correto, sempre
que houver tempo recreativo, daqueles que não precisam sair de casa de
madrugada para pegar a condução, passar o dia no trabalho ganhando pouco, e que
voltam para casa cansados e prontos para o dia seguinte.
Terminando 2017 pode-se
reconhecer que o governo realizou um segundo milagre econômico. O país estava
no caos quando Dilma foi impedida de continuar. Um ano e meio depois, voltou a
crescer a criar emprego, a ganhar valor real para o salário, com juros
baixando, inflação bem baixa, investimentos de volta, sucesso nas contas
externas, mas ainda precisando diminuir as despesas do estado. O déficit e a
dívida pública são sérios entraves. O estado é inchado, cheio de gorduras e com
pouco músculo, a não ser na capacidade de cobrar impostos. Os serviços públicos
são ruins e quase nada sobra para investir. Os impostos servem para sustentar o
estado.
O governo tenta diminuir o
déficit com uma tímida reforma na Previdência. Mais discreta que aquela que o
então ministro da Fazenda Antônio Palocci recomendou ao presidente Lula que
fizesse, em 2007. As centrais sindicais ameaçaram e o presidente recuou. Agora
o déficit se agigantou e não tem mais jeito. São as mesmas centrais que se
revoltam contra a modernização das leis trabalhistas. Juízes com cacoete de
sindicato, falam em não aplicar a lei, como se eles tivessem mandato de
legisladores. Incrível como se aposta contra o país. Como eu já escrevi aqui:
parece que somos masoquistas.
Agora o que ocupa a classe
política não é com os temas que sufocam a população, como altos tributos,
burocracia, saúde e educação precárias, insegurança pública, dificuldades de
trânsito, infraestrutura do passado, crise ética, desorganização urbana e
tantas outras mazelas. O que vem preocupando os políticos são as eleições no
ano que vem. Como conquistar o poder? - perguntam os opositores. Como
permanecer no poder? - perguntam os governistas. Eles estão atrás das respostas. Será que
terão respostas para as demandas da população? Dá um calafrio na espinha só de
pensar que temos elegido, com o nosso voto, pessoas que só tem contribuído para
afundar o país. Mas insisto que pode haver trigo nesse joio. Afinal, brasileiro
é esperançoso.
Título e Texto: Alexandre Garcia, Só Notícias,
6-12-2017
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