Péricles Capanema
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Presépio no Palácio
Schoenbrunn, Viena, Áustria
|
Anima ouvir “Feliz
Natal”! Soa agradável Natal de muita saúde e paz. “Santo Natal”, expressão
afável, cada vez menos comum. Escutei sem-número de vezes votos de alegre
Natal. Óbvio, jamais me deram votos de tristes festividades natalinas.
E nem de sério Natal. Cairia
estranho, poderia parecer censura a um brincalhão. Pensando bem, nem tão
estranho assim. Pelo menos uma vez, gostaria que alguém me tivesse dito: “um
sério Natal”.
Desejar “Feliz Natal” é querer
as festas em ambiente leve. “Sério Natal”, que continuem presentes as graves
questões que povoam a vida de cada um de nós. Gravidade e leveza não se
excluem, nunca se excluíram, complementam-se. Leveza sem gravidade despenca
para a leviandade.
Gravidade sem leveza descamba
para caturrice. Sábia é a pessoa que alia leveza e gravidade. Minha ambição
hoje é alcandorar a seriedade, raiz da sabedoria, caminho para a felicidade. Se
conseguir bem, será brilhante bola vermelha na árvore da sala, meu presente de
Natal para os leitores.
Já no começo, faz falta acabar
com a confusão entre alegria e felicidade. Em geral, as pessoas querem ser
vistas alegres para assim parecer felizes. E é comum um abismo entre as duas
realidades. Le bonheur n’est pas gai (a felicidade não é
alegre), frase que retumbou mundo afora, resumia o filme Le Plaisir,
baseado em três contos de Guy de Maupassant.
Continuando no tema, mudo o
cenário. Li, faz pouco, o mesmo por aqui: “Sou alegre, mas não feliz”,
lamento de Dadá Maravilha, o futebolista folgazão. O mais alegre dos jogadores
se vê como um infeliz. Uma mãe que trabalha de sol a sol para pagar os estudos
da filha aplicada pode não estar alegre, mas será intensamente feliz, animada
com o cumprimento do dever e por abrir boas perspectivas para a moça.
Todos percebem, o esforço e o
dever estão mais ligados à felicidade que à alegria. Enfim, são várias as
formas de alegria. A felicidade pode ser alegre, pode estar triste, pode
brilhar num rosto esgotado. Um menino brincando sozinho com um carrinho em
geral tem semblante sério e feliz. Nietzsche afirmava, o homem se torna maduro
quando reencontra a seriedade que tinha quando brincava em criança.
Temos aqui, não a procura, mas
o reencontro de um tempo às vezes perdido durante a adolescência e a juventude.
O Natal autêntico tem isso, festa familiar com nota infantil séria. A alegria
natalina — calma, temperante, esperançosa, entendendo o sofrimento — é átrio
para entrar no palácio da felicidade.
Sem seriedade, não alcançamos
ser felizes. A alegria contemporânea desembesta para o rumo oposto. Para
esconder a infelicidade, procura saída artificial, aparece vestida com roupagem
extravagante. Basta examinar os role models atuais,
celebridades do entretenimento em primeiro lugar, a mais de outras nos mais
variados espaços da vida humana. Inautênticos, estadeiam estilos de vida
estapafúrdios, sorrisos exagerados, risadas desatinadas. Ali pululam as drogas,
o suicídio, as separações matrimoniais contínuas, tanta coisa mais. O que são
em suas representações enganadoras? Embusteiros, alguns geniais, juntos na
promoção de uma fraude.
O bem não faz barulho e o
barulho não faz bem, escreveu São Francisco de Sales, o suave doutor da
Igreja. Discreta, a verdadeira felicidade pode conviver com a tristeza, a dor,
o fracasso; também com a alegria, os êxitos, as grandes conquistas. Mas sempre
se manifestará veraz. Assoma agora à porta uma irmã da seriedade, a
autenticidade, saudemo-la.
Verazes, autênticos e sérios
caminhemos até a manjedoura onde dorme placidamente o Menino-Deus. Súplices,
peçamos a Ele que nos sustente em todos os passos da peregrinação ao encontro
da Felicidade infinita.
Título, Imagem e Texto: Péricles Capanema, ABIM,
28-12-2017
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