sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

[Para que servem as borboletas?] As benesses das religiões...

Valdemar Habitzreuter

Todas as religiões são boas em si, ao menos intencionalmente. Embora possamos admitir que são invenções humanas em que a inteligência toma à frente em celebrar um contrato de garantia de proteção e salvação com um ente abstrato Todo Poderoso, não podemos esquecer que isso é próprio do eu superficial sempre às voltas com as vicissitudes da vida das quais procura se livrar. Tal contrato estabelece um corpo doutrinário que normalmente é recheado de dogmas misteriosos relevando o lado frágil da inteligência humana e glorificando a absoluta luminosidade intelectual da suposta deidade protetora.

Essas religiões oriundas da inteligência fabuladora são, no entanto, de grande valia para um entendimento pacífico entre os homens. Quando se faz esse pacto entre o humano e a entidade divina em que a vida é orientada por normas e diretrizes a fomentar a paz e o amor entre os homens e, desse modo, esperançosos pelas graças do Todo Poderoso, isso beneficia a comunidade de prática religiosa, promovendo a tolerância e ajuda mútua.

Não resta dúvida que se pratica aí uma religiosidade externa, um comportamento de ostentação. Esse comprometimento comportamental da observância da doutrina religiosa delineia uma homogeneidade moral, fazendo com que cada indivíduo colabore para uma comunidade coesa e forte que beneficie a todos no enfrentamento das dificuldades que possam advir.

No entanto, tudo o que a inteligência projeta e planeja tem suas incongruências e dificuldades no que tange a realizar em profundidade o sentido da vida. Ela em si é egoísta e vê a vida por um viés superficial. O indivíduo, inserido no contexto da exterioridade da religião tradicional a que pertence, nada mais faz que movimentar-se junto com a boiada porque assim lhe é conveniente, fazendo-se merecedor da proteção divina, segundo o contrato assinado entre o homem e um Deus.

Mas, como observamos ao longo da História das religiões, problemas graves sempre pulularam no seio das religiões. A relatividade e egoidade características da inteligência sempre vem à tona e o indivíduo tenta dar novos enfoques ao corpo doutrinário ao qual aderiu, adaptando-os à realidade do momento para sua conveniência.  Desavenças internas, muitas vezes, são patentes em que conflitos antagônicos surgem, perturbando a ordem. Um bom exemplo foi Lutero quando exigiu uma reforma da religião católica à qual pertencia.

Não menos conflitante são as posições radicais que certas religiões defendem anatematizando outras e a beligerância instalando-se entre elas, cada qual querendo impor sua verdade, seus dogmas e seus ideais de moralidade. Não poucas vezes a intolerância foge do contexto religioso e toma um viés político envolvendo o Estado e toda a sociedade então sob o reino da violência em nome de um deus.

Portanto, a exterioridade da prática religiosa é norteada pela inteligência em que normas morais são impostas com a finalidade de uma vivência pacifica em comunidade, o que é bastante louvável, mas não uma garantia de sucesso de erradicar ou amainar do ser humano sua egocentridade. Sua prática religiosa pauta-se apenas a ter um conforto emocional e que seu ego não seja perturbado pelos egos dos seus semelhantes.

Tal prática religiosa, que se submete pateticamente a normas morais para um convívio pacífico e de tolerância, diz-se tratar-se de uma religião estática e fechada em si onde não se tolera comportamentos fora de seus ditames estabelecidos. Não há uma abertura a que um sentimento mais profundo de religiosidade emerja.

Mas essa abertura tem de ser feita se se quer uma prática religiosa de valores morais genuínos. Para isso é preciso deixar aflorar o eu profundo intuitivo que confere à vida um sentido diferente do eu superficial da inteligência. O conhecimento intuitivo estabelece-se no interior da vida e a experimenta de um viés místico em que o divino da vida se deixa revelar e a alegria espiritual é a tônica.

Quem obtiver esse conhecimento intuitivo da vida pratica uma religião dinâmica sem as normas e prescrições da inteligência que tolhem a verdadeira religiosidade. A dinâmica da vida espiritual é uma vivência intima pessoal em que se sente um movimento vital de pura satisfação interior que se expande em ação para o exterior onde o amor é o elemento transformador de tudo e de todos para uma vida exultante e com sentido.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter (filosofando no dia de seu aniversário), 29-12-2017

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