Sérgio Barreto Costa

Apostei forte, nestes 40 anos,
em filas. Entre as de trânsito, as dos supermercados, as dos bancos, as dos CTT
e as da caixa de pagamento do Sardinha Biba, avalio em 6240 o número de horas
destinadas a essa civilizada forma de organização social, inspirada, segundo
lendas, nas tribos índias da América do Norte. Como só tive telemóvel em
aproximadamente metade da minha vida, gastei apenas 800 ou 900 horas a dizer
que não estava interessado no produto ou serviço que me tentavam afincadamente
vender; sobrou-me assim mais tempo para levar a cabo os vários rituais de
higiene que me foram transmitidos pelas gerações precedentes. Contando com
banhos, lavagens de dentes, corte de unhas e manuseamento de desodorizantes,
não é descabido um cálculo aproximado de 7300 horas para estes exercícios de
urbanidade. Também não poupei no tratamento da correspondência e no
relacionamento com os vários níveis do poder político-administrativo. Nunca, ao
longo destes muitos anos, fui esquecido pela EDP, SMAS, PT, etc.; é por isso
justo que tenha consumido entre 1 000 e 1 500 horas a dar seguimento às cartas
que simpaticamente me foram enviando. Já no que se refere ao Estado, nele
incluindo as várias repartições públicas, os inúmeros institutos e os múltiplos
departamentos autárquicos, estimo ter dissipado nas suas instalações físicas
cerca de 1 500 horas, 800 das quais em primeiros contatos, 500 para entregar o
papel que estava em falta aquando da visita inicial, e 200 para entregar o
papel que se descobriu faltar já durante a segunda visita.
Hoje faço 40 anos. Contando
com os anos bissextos, passei, até agora, 350 640 horas vivo. Algumas das quais
a viver.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias, 13-9-2017
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