terça-feira, 29 de outubro de 2013

Carta de um velho desacreditado

Jorge Curvello
Quando menino, via nos dias de eleições aquelas filas enormes e gente se queixando por ter que ir votar, e todos ali dependendo de uma assinatura em um título ou ficariam sem muitos direitos. Isso foi nos anos 50 e tem sido assim até hoje, em 2013, todos esses anos depois sem mudar, ou melhorar, a não ser as filas. E de lá pra cá nada modificou na política brasileira e, ainda assim, há os que acreditem nela ou esperem milagres acontecendo.

Homem velho triste, de Vincent Van Gogh
Hoje, vendo aos meus setenta e dois anos de idade toda essa droga que, como diz a música do Cazuza, já vem malhada antes de eu nascer, me admiro que ainda tenha esperançosos do amanhã, de mudanças e benfeitorias neste terreno. E olhe que também acredito no ditado que diz “Esperança é a última que morre”. Pois é, a minha também continua viva, mas não sobre bondade vinda de quem governa o país, seja o nosso, ou dos outros.

Fico aqui me perguntando como pode tudo isso estar acontecendo e até aquele espírito de luta mudou, já não há revolucionários como antigamente. Será que hoje o maldito dinheiro comprou até todas as honras, todos os deveres, toda a justiça federal? Onde anda a obrigação de fazer valer lei e justiça? Onde andam defensores, onde se esconde o poder tão superior que até a voz militar faz calar? Ainda existe a proteção ao cidadão, lei ao cidadão, justiça ao cidadão, ou só existe na folha?

Sou um dos mais de dez mil aposentados da Varig e vejo um simples grupo de advogados burlando a lei, descumprindo obrigações, não temerários a nada, confiantes em tudo, como se soubessem ser inatingíveis. Não serão eles também apenas advogados?

No terreno geral dos aposentados do país também sou atingido pelo encolhimento de benefício e onde está aquela lei da correção que mesmo se pedida por judicial, não se cumpre? E ainda se acredita que, se pedindo eles farão, que se intimidando, eles cumprirão, que se forçando, eles recuarão. Seja lá por meio do protesto que se faz para chocar a opinião pública, penso nunca ser a dos nossos algozes, mas onde anda a nossa também, o poder dessa opinião quando hoje qualquer homem vestindo uma farda, ao ser interpelado de mau serviço diz logo estar sendo desacatado, quando alguns políticos defensores dos direitos humanos, gente do meio, não tem poder de obrigar a nada, apenas pedir e pedir, como nós, os sofridos, que se cumpra a lei, parecendo falar com paredes. Mas ainda há os que fazem apelos.

Acusa-se um partido (PT) de ser o culpado de tanta desordem e corrupção, mas ele continua atuando, gente vai às ruas protestar e logo chegam baderneiros destruindo tudo, e não são do povo, mas pagos justo por quem deveria estar tremendo de medo do povo e ri dele. O fato é que acabou a justiça no Brasil onde a lei é válida somente para o interesse de alguns, a ordem fica para quem tem grana e manda no país e nós, escravos que agora somos de todas as cores, vivemos dentro de uma garrafa.

E me pergunto onde anda a antiga força existente (Armadas) que podia pelo menos significar esperanças?

Eu me confesso desde criança desacreditado no sistema de um só homem (ou mulher) governando milhões, de vários unidos contra milhões, e no que atualmente está acontecendo conosco, aposentados da Varig, me perguntando o que podem fazer aqueles que se dizem a nosso favor se o considerado oposicionista é tão contrário à causa. Por essa razão acho inútil pedidos ainda, sacrifícios ainda, protestos ainda e tudo que somente faça passar os talvez nossos últimos dias dentro de um inexorável estresse.
Título e Texto: Jorge Curvello, ex-comissário de bordo da Varig, 29-10-2013

Um comentário:

  1. Eles sao poucos, e nós o povo somos milhares. Mas não existe solidariedade e tão pouco respeito ao cidadão. É o caos', baderna, anarquia,apocalipse
    abs JANDA

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