
Esta é a nova França de François Hollande, hoje o país com a mais alta carga tributária do mundo. Neste ano,
estima-se que as receitas tributárias irão chegar a 46,3% do PIB. O
primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, do Partido Socialista, criou nada menos
que 84 novos impostos apenas nos últimos dois anos. E essa cifra ainda não
contém aquela que seria a mais egrégia de suas façanhas: um imposto de 75%
sobre rendas superiores a um milhão de euros. Tal proposta foi considerada
inconstitucional. Mas os social-democratas não devem se preocupar, pois alguns
políticos franceses não irão deixar essa mera decisão judicial atrapalhar seus
planos: a proposta ainda continua sendo discutida na assembléia nacional
francesa, com algumas pequenas alterações.
E a possibilidade de essa
proposta ser aprovada vem gerando algumas consequências inesperadas. Uma das
diversões favoritas dos franceses — junto com os queijos brie e as baguettes —
poderá ser duramente atingida: o futebol. Os times franceses correm o risco de
serem relegados às pequenas ligas caso esta nova proposta seja aprovada. Afinal,
seus melhores jogadores ganham altos salários. Uma alíquota de 75% sobre seus
salários fará com que eles exijam salários ainda maiores, apenas para manter o
mesmo valor real de antes. E dado que os custos dos jogadores já são hoje uma
grande preocupação, acrescentar um pesado tributo sobre salários já
historicamente altos será um fardo insuportável para a maioria dos times
franceses, que terão muitas dificuldades em se manterem competitivos.
Como consequência, já se fala
em isenções para times de futebol. O jornal francês Le Figaro estima que uma isenção tributária criada especificamente para os jogadores de futebol
poderia poupar à liga francesa 82 milhões de euros por ano. O time com a mais
alta folha de pagamento, o Paris
Saint-Germain, pouparia 32 milhões de euros. O Olympique de Marseille, 14,2 milhões. E o Lyon, 12,5 milhões.
Salvar o futebol é uma atitude
que pode manter as massas pacificadas, mas é curioso notar como tal medida
ensina uma lição bem mais ampla: ora, se times e jogadores de futebol
necessitam de isenções tributárias para se manter competitivos, por que não
todo o resto da economia? É verdade que os salários dos jogadores são maiores e
as alíquotas tributárias são mais altas, mas a lógica básica também se aplica
ao proletariado e às demais classes trabalhadoras. Estes também são escorchados
por impostos, e poucos saem em sua defesa pedindo isenções ou impostos menores.
Mas prossigamos.
Algumas pessoas poderiam
pensar que os 84 novos impostos criados ao menos teriam o efeito benéfico de
reduzir um pouco o fardo da dívida pública do governo. Afinal, há outros países
que aparentemente também seguem este receituário. A Noruega, por exemplo, é
famosa por ter altos impostos. Mas a diferença crucial é que o governo
norueguês apresenta incríveis superávits orçamentários de dois dígitos.
Mas não é isso o que ocorre na
França. Tendo a maior carga tributária do mundo, é natural que o gasto público
também já tenha se tornado o maior do mundo, de 57% do PIB. Apenas para se ter
uma ideia de como as coisas funcionam por lá, a França tem pelo menos 30.000
funcionários públicos cuja única função é supervisionar empresas de consultoria
privada que são pagas pelo governo para elaborar planos de governo. Apenas uma
amostra de como o capitalismo de estado e o socialismo são grandes parceiros de
cama.
Essa diferença entre receitas
e gastos faz com que o governo tenha de contrair empréstimos para fechar suas
contas. Naturalmente, esses empréstimos não advêm dos cidadãos franceses, que
praticamente ficam sem nenhum dinheiro para investir após a Receita Federal
abocanhar sua fatia. Logo, os empréstimos vêm de fora. A consequência é que a
França possui hoje uma dívida externa de mais de $5 trilhões. Isso é o
equivalente a quase $75.000 por pessoa (para se ter uma ideia, esse valor é 50%
maior do que a dívida per capita dos EUA, que são um país notoriamente
endividado).
Como os próprios franceses
gostam de dizer, plus ça change, plus
c'est la même chose. Mais de 200 anos atrás, Jean-Baptiste Colbert alertou
o rei Luis XIV que "A arte da tributação consiste em depenar o ganso de
modo a obter a maior quantidade de penas com o menor volume possível de grasnido".
O som que hoje se ouve na França é o de franceses grasnando indignados. Os
gansos com mais penugem — Gérard
Depardieu, membros da família Peugeot
e da Chanel — já deixaram o país em
busca de um futuro melhor.
Título, Imagem e Texto: David Howden, professor assistente de
economia na Universidade de St. Louis, no campus de Madri, e vencedor do prêmio
do Mises Institute de melhor aluno da Mises University. Instituto Ludwig von Mises,
24-10-2013
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