Mansões na “Côte d’Azur”,
jatos particulares em hangares na África, carros esportivos de alto luxo, entre
outros ítens, mostram a vida nababesca dos “executivos estatais” que formam a
elite da minoria burguesa do politburo comunista de Pequim.
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Ex-dirigente do Partido
Comunista Chinês (PCC), Bo Xilai, durante seu julgamento por corrupção em
Pequim. Foto: AFP
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Tenho sido interpelado por alguns leitores que, ingenuamente, me replicam dizendo que estou errado quando falo em capitalismo de estado e de uma burguesia rica que compõe o politburo da maioria dos países ditos socialistas. “Como pode haver burguesia privilegiada num país que privilegia a classe proletária?”, retrucam, ingenuamente, esses leitores. “Aonde é que já se viu ‘capitalismo de estado’ num regime que é, ‘por natureza’, anticapitalista?”, dizem outros.
Poderia usar aqui os
argumentos de Bakunin para acordar essa gente crente num socialismo que nunca
existiu. Mas não preciso. Basta descrever o tipo de vida que os socialistas
passam a levar uma vez que chegam ao poder.
Geralmente pessoas que não
conseguem vencer, ou enriquecer, por seus próprios méritos ou iniciativas
empresariais privadas, os socialistas vêm no Estado, antes de uma fonte de
realização de tudo – como afirmam sempre – um meio de vida e de conseguir, com
o dinheiro do povo, levar uma vida milionária, que de outro modo jamais
conseguiriam ter.
Para se ter uma ideia
aproximada do que afirmo, vamos fazer, a seguir, um rápido tour pela
China, um país cujo regime político é o socialismo, mas que migra agora para um
regime econômico que mistura o capitalismo estatal com o incipiente capitalismo
privado, onde os chamados “executivos estatais vermelhos”, estabeleceram para
si um padrão de vida só comparável aos dos principais capitalistas privados do
mundo livre.
Têm mansões na “Côte d’Azur”,
no Mediterrâneo, jatinhos de luxo particulares para irem ao Kilimanjaro,
“filhinhos de papai” estudando em universidades como a inglesa Oxford ou
as americanas Harvard e Yale, conseguem entradas para as Copas do Mundo em
camarotes exclusivos, têm à sua disposição carros esportivos de luxo e desfilam
com estrelas do cinema americano como Jackie Chan.
O recente julgamento de Bo
Xilai, o carismático gerentão do PCC, que acabou exagerando e sendo condenado à
prisão perpétua por seus múltiplos e sistemáticos crimes de corrupção, revelou
o ostentoso e nababesco estilo de vida da “aristocracia vermelha”, que
floresceu graças ao capitalismo de estado – o mais selvagem e inoperante de
todos – proliferado graças ao chamado “milagre econômico” chinês. Tal milagre
só foi possível pela abertura da economia aos principais capitalistas privados
do Ocidente – mormente estadunidenses – que foram para a China para lucrar como
nunca com a mão de obra quase escrava proporcionada pelo sistema socialista do
país, como ocorre em qualquer outro que o instale.
Filho de uma figura da
revolução maoista, tornado herói, Bo Xilai se permitia ter um ‘futuro
brilhante’, porque pertencia ao Politburo do Parido Único e se supunha que no
ano passado entraria para a sua Comissão Permanente, que reúne os sete
homens mais poderosos do regime. Todavia, poucos meses antes de passar a
pertencer a essa “camarilha dos sete”, acabou sendo defenestrado como
secretário do PCC em Chongqing, uma megalópole do sudoeste da
China nas cercanias de Yangtsé, tendo ‘caído em desgraça’ após uma
luta pelo poder que continua em aberto.
O estopim do escândalo foi a
morte, em novembro de 2011, de Neil Heywood, seu sócio britânico com o
qual Gu Kailai, a esposa de Bo Xilai, tinha uma mansão em Cannes avaliada
em 2,2 milhões de euros. Conforme as transcrições do julgamento difundidas pelo
tribunal de Weibo, que supre na China o censurado Twitter, essa tão
suntuosa propriedade foi um “presente” de Xu Ming, um empresário petroquímico
que enriqueceu na década de 1990 embelezando a cidade de Dalian, onde Bo
Xilai era prefeito.
Em troca de seus favores, o
rico capitalista privado cobria de atenções a mulher de Bo e seu filho, Bo
Guagua, a quem presenteou com um Segway (um caríssimo veículo elétrico de
duas rodas) e pagou por diversas férias passadas na África com mais cinco
amigos e que custaram a bagatela de 100.000 euros, uma vez que voaram para lá
num jatinho particular de Dubai à Tanzânia.
Bo Guagua trouxe de lá, para o
seu pai, carne seca de uma valiosa espécie animal. Além de cobrir os gastos de
30 mil euros com seu cartão de crédito, o empresário assumiu para si os custos
com outras passagens aéreas e estadas em hotéis de luxo da viagem que fez à
China em março de 2011 uma delegação de 40 pessoas da Escola
Kennedy de Harvard, onde o filho de Bo Xilai estudava. “Era conveniente
pedir a Xu Ming que pagasse por todas essas coisas porque ele sempre o fazia e
não o considerávamos uma pessoa estranha”, depôs em juízo Gu Kailai, a mulher
do político.
Para que ninguém relacionasse
a mansão no Mediterrâneo com seu “popular” marido, que fazia carreira como
marqueteiro de campanhas “neomaoístas” em favor dos mais humildes, Gu Kailai a
registrou em nome de uma empresa laranja inicialmente dirigida por um
misterioso arquiteto francês, “amigo” da família, Patrick Devillers, e em
seguida por Heywood.
Segundo relatou Devillers numa
declaração lida em juízo, Heywood ameaçou Gu Kailai em revelar que ela possuía
a mansão quando quis retirá-lo da empresa e, além disso, exigiu que ele
calculasse o quanto tinha investido em suas “obras de reforma” de sua cidade de
Dalian: 1,7 milhões de euros.
Temendo que Heywood
sequestrasse e matasse seu filho por causa desta disputa monetária, Gu Kailai o
envenenou em 14 de novembro de 2011 no quarto do hotel onde se hospedava em
Chongqing, de acordo com a versão oficial, mantida pelo regime chinês, mais
própria de uma rocambolesca novela de espionagem. Essa foi a confissão de Gu
Kailai no julgamento de seu marido, em agosto do ano passado, da qual resultou
a condenação à pena de morte. A sentença ficou suspensa por dois anos, e acabou
se transformando em prisão perpétua.
CAPITALISTAS
ESTATAIS VERMELHOS
A família Bo, longe de ser a
única a ser agraciada pelo empresario Xu Ming, conforme o jornal americano The New York Times, ele chegou a sair
com a filha do ex-primeiro ministro Wen Jiabao, inimigo declarado de Bo
Xilai, e a ter negócios de diamantes com sua esposa e de seguros com outros
parentes. Esse mesmo jornal também tornou público em outubro do ano passado que
a família de Wen Jiabao entesoura mais de 2 bilhões de euros.
Essa descoberta gerou um
escândalo semelhante ao suscitado em maio pela fortuna da neta de Mao Tsé
Tung, Kong Dongmei, estimada em 600 milhões de euros. Embora esta ilustre
descendente de Mao tenha fundado em 2001 uma biblioteca em Pequim que se dedica
a promover os ideais comunistas do “Grande Timoneiro”, está muito longe de ser
uma ‘revolucionária’. Conforme publicou a revista “Nova Fortuna”, ela chegou
até a violar a “política do filho único” ao ter duas meninas e um menino com
seu marido, um magnata proprietário de uma companhia de seguros, uma casa de
leilões e um serviço de embalagens, com quem se casou depois de manter com ele
relações extraconjugais durante quinze anos.
E, com base em Bloomberg, o patrimônio familiar do presidente chinês, Xi
Jinping, ascende a 310 milhões de euros e a 18 por cento de uma empresa de
minerais raros avaliada em 1,34 bilhões de euros. Tais cifras que parecem
excessivas não só para quem continua se definindo como comunista, como deixa
exposta a realidade de que todo o sistema é montado para tornar seus membros
“aristocratas vermelhos” de uma pequena burguesia que vive nababescamente à
custa do trabalho semiescravo do seu povo.
No Brasil, ainda não exista
uma realidade desse tipo, o que vemos é o “sucialismo” tupiniquim (de
socialismo de súcia, de quadrilheiros e ladrões do erário) a desenvolver um
ensaio geral para quando se tornarem, de fato, um país socialista. Resta saber
se o brasileiro irá ou não permitir que tal desgraça aconteça.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 20-10-2013
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