O Irã está a duas semanas, ou
menos, de conseguir enriquecer urânio suficiente para montar uma bomba atômica.
Francisco Vianna
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Delegados do P5+1 reunidos com negociadores do Irã, em Genebra, no começo das conversações de dois dias sobre o programa nuclear persa, em 15 de outubro último. Foto: AP |
O Irã poderá produzir urânio
enriquecido no nível exigido para produzir uma arma atômica dentro de duas
semanas e, "de certa forma", já atingiu “o ponto de onde não se pode
retornar” no seu programa nuclear, declarou um ex-alto funcionário da AIEA,
nesta segunda-feira. "Acredito que, se certos arranjos forem feitos,
isso poderia ocorrer em menos de duas semanas. Portanto, há uma série de
preocupações no mundo de que o Irã possa se entender com o P5 +1, nessa nova
fase e com a AIEA", explicou o vice-diretor da AIEA, Olli Heinonen, confirmando
um relatório divulgado na semana passada pelo Instituto de Washington para
Ciência e Segurança Internacional, que declarou que o Irã poderia reunir urânio
suficiente para uma bomba, convertendo todo o seu estoque de urânio enriquecido
a 20 por cento dentro de um mês a um mês e meio.
Ontem, o diretor da AIEA,
Yukiya Amano se reuniu em Viena, com o vice-chanceler iraniano Abbas Araqchi,
principal negociador nuclear do Irã, com a junta de fiscalização nuclear da
ONU. Amano descreveu o encontro como importante para enfrentar "as
questões pendentes em relação ao programa nuclear do Irã".
Falando aos jornalistas numa
teleconferência organizada pelo Projeto Israel, Heinonen descreveu as
conversações como importantes para que se possa tratar “dos relevantes assuntos
relacionados com o programa nuclear iraniano” e se absteve de parecer otimista
ou pessimista ao mesmo tempo, mantendo-se centrado em suas considerações.
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Olli Heinonen |
"Eles estão buscando seus
objetivos", e agora acenam fazê-lo dentro das regras internacionais. Acho
que eles perceberam que não ficarão longe de conseguir o que querem se, ao
menos, responderem corretamente às questões levantadas pela AIEA e aliviarem as
preocupações da comunidade internacional. Então, resta-me alguma esperança.
“Mas temos que ter certeza de que tudo estará coberto" e que as garantias
serão dadas por Teerã a começar pela permissão da AIEA em vistoriar sem
restrições todo o programa. A ONU, inclusive já acenou com a possibilidade de a
comunidade internacional ajudar o Irã a produzir os efeitos pacíficos de seu
programa, em troca. Tais efeitos consistem em montar centrais eletronucleares e
produção de isótopos para uso médico, entre outros.
Questionado especificamente se
o Irã tinha ultrapassado o "ponto em que não há retorno” em seu programa
nuclear, Heinonen, hoje pesquisador sênior na Escola Kennedy do Centro Belfer
do Governo para a Ciência e Assuntos Internacionais, em Harvard, respondeu:
"Sim, de certa maneira, eles já passaram desse ponto. Mas temos que ter em
mente quais são realmente as capacidades do Irã. As pessoas têm definições que
diferem um pouco umas das outras sobre a capacidade iraniana de conseguir
produzir uma bomba nuclear".
Em sua avaliação, que parece
concordar com a do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, um nível crítico é
atingido quando os iranianos chegaram ao ponto de enriquecer urânio em grau
suficiente para fins militares, na forma de enriquecimento do gás hexafluoreto,
para criar uma bomba nuclear. Mas, mesmo nesse ponto não se tem ainda uma bomba
nuclear, acrescentou Heinonen.
“Preparar o urânio altamente
enriquecido para uma bomba nuclear leva mais um mês ou dois", pressupondo
que seus cientistas têm todo o conhecimento para esse passo decisivo. Depois
disso, montar uma arma nuclear real que pode ser usada numa ogiva transportada
por um balístico levaria, talvez, mais um ano, correndo tudo bem”, disse ele.
Enquanto isso, o Irã continua
a instalar centenas de novas centrífugas avançadas a cada mês, reduzindo
drasticamente o chamado tempo de conquista do objetivo, o que seria necessário
apenas se o país tivesse alguma urgência em produzir tal armamento, disse ele.
Israel insiste em que o Irã
deve ser impedido de qualquer capacidade militar de enriquecimento de urânio e,
até mesmo, do urânio de baixo grau de enriquecimento que, processado de forma
adequada pode produzir bombas nuclear, limpas ou sujas, num curto espaço de
tempo, desde que haja bastante centrífugas a funcionar. "No que diz
respeito ao Irã, não estamos impressionados com a discussão em torno da questão
de 20% de enriquecimento", disse Netanyahu no último domingo, referindo-se
a relatos de que Teerã tem insistido em manter a capacidade de enriquecer
urânio a esse nível. "Sua importância é supérflua, como resultado das
melhorias que os iranianos fizeram no ano passado, que lhes permitem saltar
sobre a barreira dos 20% de enriquecimento e proceder diretamente a partir de
3,5% de enriquecimento a 90% dentro de algumas semanas, no máximo"...
Heinonen disse que entende as
preocupações de Netanyahu, pois que, a partir do momento que o Irã produza
urânio para fins militares a partir do que já tem com 20 % de enriquecimento,
90% do trabalho já estará feito para a produção da bomba atômica. Dá uma ideia
falsa da realidade, dizer que o urânio enriquecido a 20 seja "de
enriquecimento médio”, uma vez que “basta enriquecê-lo mais 10 a 15% para se
ter tório suficiente para a fusão nuclear", disse ele. O Irã agora tem um
grande estoque de sete toneladas de urânio enriquecido de 3,6 a 20% que, na
verdade, com pouco esforço e muitas centrífugas em operação pode ser
rapidamente enriquecido a 60 ou 70%, mais do que necessário para criar um
núcleo de tório para reação em cadeia, o que equivale à bomba A.
Logo após a reunião entre
Araqchi e Amano, na segunda-feira, técnicos e especialistas em direito do Irã e
os fiscais da AIEA agendaram o começo das conversações de dois dias sobre o programa
nuclear iraniano. Especialistas da AIEA visam investigar a fundo e
supervisionarem de forma irrestrita as atividades nucleares nas usinas
iranianas de Qom e Natanz e tentar descobrir por que o Irã desenvolveu seu
programa secretamente durante dezessete anos.
Representantes dos dois lados
já se encontraram 11 vezes desde janeiro, com a AIEA tentando negociar o acesso
a algumas das instalações nucleares do Irã, a fim de monitorar a atividade
dentro das usinas. Ambos estão programados para realizar reuniões de nível
diplomático em Viena, em 07 e 08 de novembro próximo.
O fato é que o Irã, com o
atual estoque de hexafluoreto de urânio enriquecido a 20%, pode transformar
esse material num artefato nuclear bélico no prazo de um mês. Se precisarem
usar o que têm de urânio enriquecido a 3,5% de enriquecimento, o prazo aumenta
um pouco para dois ou três meses, explicou ele.
A reunião deste mês de outubro
entre o Irã e o P5 +1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha)
produziu um otimismo cauteloso com relação a um possível acordo a ser alcançado
para impedir que o programa nuclear do Irã se direcione a produção da bomba
atômica. Depois de muitas reuniões inúteis, onde a intenção foi apenas de
ganhar tempo por parte de Teerã, as negociações em Genebra deverão ser focadas
exatamente para impedir que os persas consigam produzir uma ogiva termonuclear
físsil.
Os pontos centrais de tais
negociações são a monitoração irrestrita das atividades de enriquecimento de
urânio do Irã e seu plutônio de instalações de reatores de água pesada. Os
países ocidentais afirmam que urânio enriquecido a 20 por cento e plutônio, que
o Irã está a produzir, não são necessários para a geração de energia elétrica
ou tampouco a geração de isótopos para uso médico-nuclear e que, portanto, a
sua produção deve ser interrompida imediatamente, pois, até que se prove o
contrário, o material só pode ter a finalidade militar.
O conselho de segurança da ONU
já aplicou uma série de sanções que vem se tornando cada vez mais restritivas
ao país na área econômica ao ponto de dificultar a venda de seu petróleo para
antigos compradores tem sido o esforço para pressionar Teerã a concordar com as
exigências da AIEA, nos últimos anos. Teerã espera negociar uma flexibilização
das sanções sem desistir seu programa de enriquecimento.
Ali Larijani disse, no domingo
passado à rede de notícias Phoenix da China que acredita que um acordo possa
ser alcançado dentro de um ano, mas disse que Teerã não irá interromper o
programa se as negociações falharem. Disse ainda que “a solução das questões
nucleares depende inteiramente da forma como elas serão abordadas e discutidas,
onde se espera seriedade de ambas as partes".
O Irã continua negando que
trabalhar para a produção de armas nucleares, alegando que todas as suas
atividades nucleares são pacíficas. No ocidente, pelos motivos já expostos,
pouca gente parece acreditar nisso. Enquanto isso as atenções agora se voltam
para as negociações com a AIEA e o P5 +1, que surgem numa tênue aura de
otimismo, graças à atitude pública de equilíbrio do novo presidente Hassan
Rouhani, considerado mais moderado do que o seu antecessor, Mahmoud
Ahmadinejad, e que parece melhorar a atmosfera e as perspectivas diplomáticas
persas no mundo.
Desde que Ahmadinejad prometeu
publicamente “varrer o Estado de Israel do Mapa”, os israelenses têm estado em
alto estado de alerta com relação a Teerã e só ainda não destruíram suas
instalações nucleares graças a uma ação intensa de seus aliados ocidentais no
sentido de evitar tal ação militar.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 30-10-2013
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