A presidente Dilma Rousseff
usou a rede nacional de rádio e TV para fazer um pronunciamento sobre o leilão
do campo de Libra. É evidente que é um despropósito. Qual era a matéria urgente
que ela tinha a comunicar? Que tipo de serviço prestou que a imprensa já não
tivesse prestado? Esclareceu o quê? Tratou-se de uma fala escancaradamente
eleitoreira, em desacordo, de resto, com os fatos e com doses estupendas de
sonho.
Os especialistas no Brasil e a
própria imprensa internacional tiveram de reconhecer o que salta aos olhos: o
leilão, com um único consórcio, não foi bem-sucedido. Algumas das gigantes
simplesmente não se interessaram, e a partilha saiu pelo mínimo estabelecido:
41,65% do excedente ficam com a União. Já se falou muitas coisas das
petroleiras gigantes, menos que não sabem ganhar dinheiro. Se Libra fosse mesmo
essa oportunidade de ouro, é evidente que a concorrência teria sido acirrada.
Não foi. Já se falou aqui e em toda parte dos motivos. Assim, prestemos um
pouco de atenção ao discurso da presidente (íntegra aqui).
Dilma começou chamando o leilão
por aquilo que ele não foi: “um sucesso”. Ah, bom: então agora a gente começa a
entender a razão do pronunciamento. A presidente queria falar aquilo que a
imprensa séria não diria mesmo. Leilão a que comparece um único consórcio, no
qual a Petrobras é obrigada a aumentar a sua participação de 30% para 40% — ou
nada feito! — não é, obviamente, bem-sucedido. A coisa foi toda atrapalhada. Os
tucanos poderiam, por exemplo, apontar os erros. Em vez disso, já ouço vozes
aqui e ali: “Estão vendo? Eles fizeram como nós… Eles também privatizam…”
Acabam, sem querer, vendo um sucesso onde houve um mico.
Dilma contou com muitos
bilhões de ovos na barriga da galinha. Não! Dilma contou mais de um trilhão! No
momento mais entusiasmado da sua fala, mandou brasa:
“Nos próximos 35 anos,
Libra pagará os seguintes valores ao Estado brasileiro: primeiro, R$ 270
bilhões em royalties; segundo, R$ 736 bilhões a título de excedente em óleo sob
o regime de partilha; terceiro, R$ 15 bilhões, pagos como bônus de assinatura
do contrato. Isso alcança um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito:
mais de R$ 1 trilhão.”
A presidente sabe exatamente
quanto petróleo tem em Libra, conhece o ritmo da exploração — o resto do mundo
não conta —, sabe qual será o valor do barril, sabe quanto será investido. O
importante era ultrapassar o número mágico de R$ 1 trilhão. Multiplicados os
pães, que é a parte mais difícil, distribuir é fácil: R$ 736 bilhões para saúde
e educação e R$ 368 bilhões para o combate à pobreza etc e tal. A conta aqui já
chegou a R$ 1,104 trilhão.
Estamos em plena campanha
eleitoral. No passado, os candidatos faziam propostas para os quatro ou cinco
anos seguintes. Dilma chegou à metade do século praticamente — 2048. Lula se
encarregará, na campanha, de fazer anúncios para a outra metade.
A presidente afirmou ainda: “Pelos
resultados do leilão, 85% de toda a renda a ser produzida no Campo de Libra vão
pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isso é bem diferente de
privatização”. Não entendi a conta. O consórcio repassará 41,65% do
excedente para a União; os outros 58,35% ficam com ele. Dessa sobra, a
Petrobras tem direito a 40% (23,34%). União mais Petrobras terão 64,99%. Talvez
dados novos que venham à luz expliquem como chegar aos 85%.
E a presidente encerrou, depois
de anunciar o futuro glorioso: “Que Deus continue abençoando o Brasil!”
O discurso de Dilma abriu a
campanha eleitoral de 2014. Contra lei, é claro!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 22-10-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-