quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Irã na iminência de construir a Bomba A

O Irã está a duas semanas, ou menos, de conseguir enriquecer urânio suficiente para montar uma bomba atômica.
Francisco Vianna

Delegados do P5+1 reunidos com negociadores do Irã, em Genebra, no começo das conversações de dois dias sobre o programa nuclear persa, em 15 de outubro último. Foto: AP
“Teerã já atingiu o ‘ponto que não tem retorno’ e está instalando novas centrífugas o tempo todo, mas ainda há espaço para o otimismo das negociações em curso”, diz o vice-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU.
O Irã poderá produzir urânio enriquecido no nível exigido para produzir uma arma atômica dentro de duas semanas e, "de certa forma", já atingiu “o ponto de onde não se pode retornar” no seu programa nuclear, declarou um ex-alto funcionário da AIEA, nesta segunda-feira.  "Acredito que, se certos arranjos forem feitos, isso poderia ocorrer em menos de duas semanas. Portanto, há uma série de preocupações no mundo de que o Irã possa se entender com o P5 +1, nessa nova fase e com a AIEA", explicou o vice-diretor da AIEA, Olli Heinonen, confirmando um relatório divulgado na semana passada pelo Instituto de Washington para Ciência e Segurança Internacional, que declarou que o Irã poderia reunir urânio suficiente para uma bomba, convertendo todo o seu estoque de urânio enriquecido a 20 por cento dentro de um mês a um mês e meio.

Ontem, o diretor da AIEA, Yukiya Amano se reuniu em Viena, com o vice-chanceler iraniano Abbas Araqchi, principal negociador nuclear do Irã, com a junta de fiscalização nuclear da ONU. Amano descreveu o encontro como importante para enfrentar "as questões pendentes em relação ao programa nuclear do Irã".
Falando aos jornalistas numa teleconferência organizada pelo Projeto Israel, Heinonen descreveu as conversações como importantes para que se possa tratar “dos relevantes assuntos relacionados com o programa nuclear iraniano” e se absteve de parecer otimista ou pessimista ao mesmo tempo, mantendo-se centrado em suas considerações.

Olli Heinonen
"Eles estão buscando seus objetivos", e agora acenam fazê-lo dentro das regras internacionais. Acho que eles perceberam que não ficarão longe de conseguir o que querem se, ao menos, responderem corretamente às questões levantadas pela AIEA e aliviarem as preocupações da comunidade internacional. Então, resta-me alguma esperança. “Mas temos que ter certeza de que tudo estará coberto" e que as garantias serão dadas por Teerã a começar pela permissão da AIEA em vistoriar sem restrições todo o programa. A ONU, inclusive já acenou com a possibilidade de a comunidade internacional ajudar o Irã a produzir os efeitos pacíficos de seu programa, em troca. Tais efeitos consistem em montar centrais eletronucleares e produção de isótopos para uso médico, entre outros.

Questionado especificamente se o Irã tinha ultrapassado o "ponto em que não há retorno” em seu programa nuclear, Heinonen, hoje pesquisador sênior na Escola Kennedy do Centro Belfer do Governo para a Ciência e Assuntos Internacionais, em Harvard, respondeu: "Sim, de certa maneira, eles já passaram desse ponto. Mas temos que ter em mente quais são realmente as capacidades do Irã. As pessoas têm definições que diferem um pouco umas das outras sobre a capacidade iraniana de conseguir produzir uma bomba nuclear".

Em sua avaliação, que parece concordar com a do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, um nível crítico é atingido quando os iranianos chegaram ao ponto de enriquecer urânio em grau suficiente para fins militares, na forma de enriquecimento do gás hexafluoreto, para criar uma bomba nuclear. Mas, mesmo nesse ponto não se tem ainda uma bomba nuclear, acrescentou Heinonen.

“Preparar o urânio altamente enriquecido para uma bomba nuclear leva mais um mês ou dois", pressupondo que seus cientistas têm todo o conhecimento para esse passo decisivo. Depois disso, montar uma arma nuclear real que pode ser usada numa ogiva transportada por um balístico levaria, talvez, mais um ano, correndo tudo bem”, disse ele.

Enquanto isso, o Irã continua a instalar centenas de novas centrífugas avançadas a cada mês, reduzindo drasticamente o chamado tempo de conquista do objetivo, o que seria necessário apenas se o país tivesse alguma urgência em produzir tal armamento, disse ele.
Israel insiste em que o Irã deve ser impedido de qualquer capacidade militar de enriquecimento de urânio e, até mesmo, do urânio de baixo grau de enriquecimento que, processado de forma adequada pode produzir bombas nuclear, limpas ou sujas, num curto espaço de tempo, desde que haja bastante centrífugas a funcionar. "No que diz respeito ao Irã, não estamos impressionados com a discussão em torno da questão de 20% de enriquecimento", disse Netanyahu no último domingo, referindo-se a relatos de que Teerã tem insistido em manter a capacidade de enriquecer urânio a esse nível. "Sua importância é supérflua, como resultado das melhorias que os iranianos fizeram no ano passado, que lhes permitem saltar sobre a barreira dos 20% de enriquecimento e proceder diretamente a partir de 3,5% de enriquecimento a 90% dentro de algumas semanas, no máximo"...

Heinonen disse que entende as preocupações de Netanyahu, pois que, a partir do momento que o Irã produza urânio para fins militares a partir do que já tem com 20 % de enriquecimento, 90% do trabalho já estará feito para a produção da bomba atômica. Dá uma ideia falsa da realidade, dizer que o urânio enriquecido a 20 seja "de enriquecimento médio”, uma vez que “basta enriquecê-lo mais 10 a 15% para se ter tório suficiente para a fusão nuclear", disse ele. O Irã agora tem um grande estoque de sete toneladas de urânio enriquecido de 3,6 a 20% que, na verdade, com pouco esforço e muitas centrífugas em operação pode ser rapidamente enriquecido a 60 ou 70%, mais do que necessário para criar um núcleo de tório para reação em cadeia, o que equivale à bomba A.

O orador do Parlamento iraniano, Ali Larijani, durante uma conferência de imprensa à margem da 129ª Assembleia da União Inter-Parlamentar (UIP), em Genebra, na Suíça, na quarta-feira, 9 de outubro de 2013. Foto: AP
A comunidade internacional também tem motivos para se preocupar com outros aspectos das ambições nucleares do Irã, adverte Heinonen, já que no passado o Irã sempre procurou esconder a maior parte dos objetivos de seu programa nuclear. "Então, a pergunta é: será que agora tudo será posto em discussão? Será que o Irã vai declarar tudo sobre o programa e permitir uma fiscalização irrestrita da AIEA, ou há ainda algo que a comunidade internacional não sabe? Ou, quem sabe, não é mais uma manobra,das muitas que os persas estão acostumados a empreender, para ganharem o pouco mais de tempo que têm até conseguirem causar um estrago considerável ao Ocidente e a Israel, sob a desculpa das sanções impostas pela ONU"?

Logo após a reunião entre Araqchi e Amano, na segunda-feira, técnicos e especialistas em direito do Irã e os fiscais da AIEA agendaram o começo das conversações de dois dias sobre o programa nuclear iraniano. Especialistas da AIEA visam investigar a fundo e supervisionarem de forma irrestrita as atividades nucleares nas usinas iranianas de Qom e Natanz e tentar descobrir por que o Irã desenvolveu seu programa secretamente durante dezessete anos.

Representantes dos dois lados já se encontraram 11 vezes desde janeiro, com a AIEA tentando negociar o acesso a algumas das instalações nucleares do Irã, a fim de monitorar a atividade dentro das usinas. Ambos estão programados para realizar reuniões de nível diplomático em Viena, em 07 e 08 de novembro próximo.

O fato é que o Irã, com o atual estoque de hexafluoreto de urânio enriquecido a 20%, pode transformar esse material num artefato nuclear bélico no prazo de um mês. Se precisarem usar o que têm de urânio enriquecido a 3,5% de enriquecimento, o prazo aumenta um pouco para dois ou três meses, explicou ele.

A reunião deste mês de outubro entre o Irã e o P5 +1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) produziu um otimismo cauteloso com relação a um possível acordo a ser alcançado para impedir que o programa nuclear do Irã se direcione a produção da bomba atômica. Depois de muitas reuniões inúteis, onde a intenção foi apenas de ganhar tempo por parte de Teerã, as negociações em Genebra deverão ser focadas exatamente para impedir que os persas consigam produzir uma ogiva termonuclear físsil.

Os pontos centrais de tais negociações são a monitoração irrestrita das atividades de enriquecimento de urânio do Irã e seu plutônio de instalações de reatores de água pesada. Os países ocidentais afirmam que urânio enriquecido a 20 por cento e plutônio, que o Irã está a produzir, não são necessários para a geração de energia elétrica ou tampouco a geração de isótopos para uso médico-nuclear e que, portanto, a sua produção deve ser interrompida imediatamente, pois, até que se prove o contrário, o material só pode ter a finalidade militar.

O conselho de segurança da ONU já aplicou uma série de sanções que vem se tornando cada vez mais restritivas ao país na área econômica ao ponto de dificultar a venda de seu petróleo para antigos compradores tem sido o esforço para pressionar Teerã a concordar com as exigências da AIEA, nos últimos anos. Teerã espera negociar uma flexibilização das sanções sem desistir seu programa de enriquecimento.

Ali Larijani disse, no domingo passado à rede de notícias Phoenix da China que acredita que um acordo possa ser alcançado dentro de um ano, mas disse que Teerã não irá interromper o programa se as negociações falharem. Disse ainda que “a solução das questões nucleares depende inteiramente da forma como elas serão abordadas e discutidas, onde se espera seriedade de ambas as partes". 

O Irã continua negando que trabalhar para a produção de armas nucleares, alegando que todas as suas atividades nucleares são pacíficas. No ocidente, pelos motivos já expostos, pouca gente parece acreditar nisso. Enquanto isso as atenções agora se voltam para as negociações com a AIEA e o P5 +1, que surgem numa tênue aura de otimismo, graças à atitude pública de equilíbrio do novo presidente Hassan Rouhani, considerado mais moderado do que o seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, e que parece melhorar a atmosfera e as perspectivas diplomáticas persas no mundo.

Desde que Ahmadinejad prometeu publicamente “varrer o Estado de Israel do Mapa”, os israelenses têm estado em alto estado de alerta com relação a Teerã e só ainda não destruíram suas instalações nucleares graças a uma ação intensa de seus aliados ocidentais no sentido de evitar tal ação militar.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 30-10-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-