Reinaldo Azevedo
Há notícias cuja leitura
provoca vergonha e constrangimento. É o que me ocorre ao ler a fala do petista
Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, que se comporta como um
chicaneiro de primeira grandeza. Ele está menos interessado em governar Minas do
que em criar dificuldades para gestores de partidos adversários. Vejamos.
Este senhor fechou um acordo
com o sindicato dos professores da rede estadual de ensino que garante um
reajuste de 31,78% até 2017. Na verdade, tudo bem pensado, estende-se até 2018.
É nesse prazo que Minas vai chegar ao piso de R$ 1.917,78.
Pimentel montou uma grande
solenidade para assinar o acordo. O sindicato, filiado à CUT, estava lá para
aplaudi-lo. E ele não se fez de rogado: “Queremos garantir que os professores
tratados com dignidade, remunerados adequadamente, possam assegurar às nossas
crianças ensino de qualidade, sem greves e paralisações. É uma conquista dos
mineiros, ao contrário de outros Estados, onde assistimos espetáculos
lamentáveis de agressão aos professores. Em Minas, praticamos o diálogo”.
É claro que ele estava fazendo
uma referência ao Paraná, onde se assistiram, de fato, a “espetáculos
lamentáveis”, com bandidos disfarçados de profissionais da educação tentando
invadir a Assembleia Legislativa, depredando patrimônio público. Querem ver que
graça? Parcela dos professores está em greve em cinco Estados, quatro
governados pelo PSDB: São Paulo, Goiás, Paraná e Pará; o quinto, Santa
Catarina, tem o PSD no comando.
Quer dizer que os tucanos são
maus para os professores? Não! Quer dizer que os sindicatos ligados ao PT ou a
esquerdistas ainda mais cretinos insuflam greves contra os governos que não são
do seu agrado; quer dizer que o partido do senhor Luiz Inácio Lula da Silva usa
os sindicatos e a greve para desestabilizar adversários.
Vejam lá: Pimentel fez um
acordo para reajuste de 31,78%, distribuídos em quatro anos. Em São Paulo, a
Apeoesp pede 75% de aumento de uma vez só. O Paraná está entre os Estados que
pagam os maiores salários para os professores. Para comparação: o ganho médio
de um profissional da área em Minas com jornada de 40 horas é hoje de R$
2.061,68; no Paraná, R$ 3.194,71. A greve no Estado nada tem a ver com
salários. Trata-se de uma rinha de caráter ideológico envolvendo o pagamento de
inativos, cujas obrigações foram transferidas do Tesouro estadual para o fundo
de pensão, igualmente alimentado por recursos públicos. A mudança não implica
perdas salariais.
É dispensável demonstrar quão
irresponsável é um governador que, na prática, insufla movimentos sindicais em
outros Estados. Atacar antecessores e adversários políticos tem sido a prática
constante de Pimentel desde que assumiu o governo de Minas. Alguns dizem se
surpreender, já que tentava se mostrar um petista light em anos recentes.
Light?
Quem não conhece que compre.
Este senhor foi aluno da Escolinha de Marxismo da Professora Dilma Rousseff
quando ainda era um adolescente. Ele acabou ingressando em seu grupo político,
o Colina (Comando de Libertação Nacional), que tinha sua base principal em Belo
Horizonte. Mais tarde, o Colina se fundiu com a VPR (Vanguarda Popular
Revolucionária), liderada por Carlos Lamarca, dando origem à VAR-Palmares.
O então marido de Dilma, um
dos chefes da organização, despachou Pimentel para Porto Alegre. Lamarca não
gostou da “holding” e decidiu desfazê-la, refundando a VPR, e Pimentel preferiu
segui-lo. Foi como seguidor do militar desertor e ladrão de armas que o agora
governador e ex-ministro “consultor” assaltou o carro pagador de um banco e
tentou sequestrar o cônsul americano, que se safou, saindo ferido, com um tiro
no ombro. Consta que Dilma nunca pegou num berro. Pimentel já.
Se esquerdistas não querem
acreditar em mim, acreditem em Jacob Gorender, historiador de esquerda e autor
do livro Combate nas Trevas. É lá que ele afirma que o Colina, o primeiro grupo
a que Dilma e Pimentel pertenceram, foi um dos poucos a fazer a defesa aberta e
inequívoca do terrorismo.
É claro que as circunstâncias
nos levam, muitas vezes, a fazer bobagem. Mas pensem que, para certas práticas,
é preciso ter uma natureza, não é? A de Pimentel estava demonstrada lá atrás.
Enquanto lhe foi útil posar de petista moderado e do diálogo, ele o fez. Agora,
chegou a hora de usar o Palácio da Liberdade para fazer guerrilha política
contra adversários.
Eis aí: quando digo que o PT
tem de ser banido do país pelas urnas, é por práticas como essa. Em Minas, o
sindicato, mero braço do PT, faz a política do governo; nos Estados em que o
partido é oposição, escolhe-se o caminho da reivindicação absurda, do confronto
e da violência.
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