domingo, 24 de maio de 2015

O Deus do filósofo Sartre...

Valdemar Habitzreuter

Se Deus é nosso criador, então já somos alguém com uma essência, somos seres humanos já com uma bagagem, um conteúdo existencial, uma semente já plantada que se desenvolverá. Mas aí, segundo Sartre, restringe-se de certa forma nossa liberdade, pois estaríamos dependentes de um agente externo que já antecipou nossa essência, o que somos potencialmente; seria como se Deus tivesse plantado uma semente em nós para se desenvolver segundo Sua vontade.

De outro lado, se o homem/mulher se considera alguém que autonomamente constrói o que quer ser, prescindindo de um Criador, teria que admitir que está condenado à liberdade, sempre obrigado a agir com liberdade, sem coação de um Ser superior, pois teria que esforçar-se a ser seu próprio projeto de vida, teria sempre que fazer escolhas do que quer ser, construir sua própria essência, seu caráter.

Para Sartre, viemos ao mundo nus, sem bagagem alguma, sem essência alguma, e é a partir do nada que precisamos construir o que queremos ser. Nossa existência, assim, antecede nossa essência; primeiro existimos e depois segue-se o que queremos ser; somos nada de ser ao nascermos, mas conseguimos ser alguém ao longo de nossa existência pelo fato de sermos condenados à liberdade, sermos obrigados a fazer escolhas. Por isso, o homem é condenado a ser livre. A isto Sartre dá o nome de existencialismo: existimos para essencializar-nos.

O que é melhor: sermos dirigidos de fora por alguém, por um Deus determinista, ou sermos autônomos na construção de nossa essência, na formação de nosso caráter? Sartre prefere a segunda alternativa. Aliás, ele não prefere, ele só tem essa alternativa, pois ele se autoproclama ateu.

Diz Sartre que o homem está lançado no mundo diferentemente das coisas. Estas são aquilo que são e não outra coisa, são coisas em si – ser em-si. O homem, por seu turno, é um ser para-si, isto é, tem consciência de si e das coisas, e a partir da consciência de sua existência agirá no mundo para erigir sua própria essência, através de escolhas, segundo seu projeto de vida.  

Essa liberdade sartriana seria o projeto do próprio homem auto realizando-se, projetando-se a ser ele mesmo ‘deus’, sem forças externas (um Criador) influenciando no que ele quer ser....
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 24-5-2015

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