João Marques de Almeida
O PSOE enfrenta um duplo
drama: não consegue votos ao centro para evitar a vitória do PP e não consegue
conter as forças à sua esquerda. Se não conseguir alterar esta situação perderá
as legislativas.
É verdade que o PP perdeu
votos e as maiorias absolutas em várias regiões. É igualmente verdade que o
PSOE está mais próximo do PP do que há quatro anos. É ainda verdade que as
esquerdas radicais aumentaram os seus votos e conseguiram bons resultados nas eleições
municipais, conquistando por exemplo a cidade de Barcelona (e possivelmente
Madrid, em coligação com o PSOE). Por tudo isto, o título do artigo pode
parecer estranho.
Discordo da maioria das
análises que sublinha a derrota do PP e o fim do bipartidarismo em Espanha.
Acho que são conclusões prematuras e, desconfio, que as eleições legislativas
no fim do ano irão demonstrá-lo. Comecemos pelo suposto “fim do
bipartidarismo”. A crise económica e a corrupção nos dois principais partidos
permitiram o aparecimento de dois novos partidos, o Podemos e o Cidadanos, com
uma expressão política significativa. De qualquer modo, é necessário mais tempo
para se confirmar o fim do bipartidarismo.
Ao contrário do que apontavam
algumas sondagens, os dois partidos tradicionais foram os mais votados e juntos
conquistaram mais de metade dos votos. Além disso, em termos nacionais, as
eleições regionais – as leituras nacionais são bem mais complicadas no caso das
municipais – mostram que os dois novos partidos não alcançaram os dois dígitos.
E, em grande medida, o Podemos recebeu os votos da Esquerda Unida. De certo
modo, o Podemos está a ocupar o lugar da velha extrema-esquerda. Convém ainda
referir que se o Cidadanos parece estar a crescer, o Podemos está em queda. O
seu resultado foi bem pior do que sugeriram as sondagens durante meses. Temos
que esperar pelas eleições legislativas para testar o “fim do bipartidarismo”.
Desconfio mesmo que o PP e o PSOE vão aumentar os seus votos.
Passemos agora à “derrota do
PP.” Quem viu as reações do líder do PSOE, percebe bem que a derrota do PP está
longe de contar a história destas eleições. Aliás, um dos fatos mais
extraordinários foi o fato do PP ter sido o partido mais votado. No Reino
Unido, os Conservadores passaram anos a perder todo o tipo de eleições. Ninguém
lhes dava uma maioria – e muitos previam uma derrota nas eleições do passado
dia 7. Comparativamente, o PP fez melhor nas eleições intercalares. No Reino
Unido, chegou o dia das eleições e os Conservadores alcançaram uma maioria
absoluta. Comparem também com os resultados do PP com os do PS francês nas
eleições regionais e municipais em França. Em ambos os casos, os socialistas
sofreram derrotas enormes e acabaram em terceiro lugar em termos de votos
nacionais. E em França a austeridade não se comparou ao que aconteceu em
Espanha.
Os dirigentes e militantes do
PSOE devem estar muito preocupados. Depois de quatro anos de austeridade e de
desemprego elevadíssimo, não conseguiram derrotar o PP. O PSOE enfrenta um
duplo drama: não consegue votos ao centro para evitar a vitória do PP e não
consegue conter as forças à sua esquerda. Se não conseguir alterar esta
situação, até ao fim do ano, perde as eleições. Com a economia a crescer e o
desemprego a baixar, o PP deverá aumentar a sua votação nas eleições
legislativas. Depois do que aconteceu ontem, a questão central será se o PP
alcança a maioria absoluta, ou se necessitará de se aliar aos Cidadanos para
formar governo.
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