José Mendonça da Cruz
A reacção do Partido
Socialista e da restante oposição aos números do INE que confirmam o
crescimento da economia (e o aumento das exportações, e a diminuição das
importações e o aumento do consumo interno) é embaraçosa e confrangedora. É
confrangedora para os Portugueses. É embaraçosa para a esquerda. Ou, com rigor,
talvez se devesse dizer que a reacção da esquerda é embaraçada, reflecte o
profundo embaraço dos socialistas perante o mundo moderno que lhes é estranho,
perante o sucesso desse mundo cuja falência profetizaram, perante o êxito de
mecanismos e soluções que contrariam e esvaziam as velhas fantasias
socialistas.

Há, por fim, a realidade mais
importante e que espanta nunca ver creditada a este governo (e à troika,
também, obviamente): é que Portugal mudou. Acabaram-se os grandes projectos
públicos ruinosos, sempre apresentados como alvoradas de futuros risonhos.
Acabaram-se os grandes grupos a que os governos socialistas recorriam para
promover negócios e esconder dívida (e perante os quais ficavam obrigados);
acabaram-se as grandes empresas nacionais com gestores premiados cujo sucesso
se media não pelos lucros para o país, mas pelo acolhimento de amigos e as
tramas em circuito fechado. E acabou-se também a impunidade zelosamente
preservada por redes de que bem suspeitamos.
Deve-se dar o justo valor às
destemperadas reacções socialistas – e não apenas às de Soares – perante a
falência de BES e PT. É que essas falências eram peças da falência do seu Mundo
(«Quando ele falar vai dizer tudo» dizia Soares de Salgado, imprudentemente).
Agarram-se agora aos transportes públicos (o programa de Costa para o seu
financiamento é todo um programa de trapalhadas e opacidade) e à TAP. Bem se
compreende.
Que conseguiram os socialistas
com a sua «política de crescimento», com a sua «defesa do Estado Social», com a
sua «política para as pessoas»? Conseguiram a recessão; conseguiram a quase
ruína da Saúde, da Educação, da Segurança Social; conseguiram décadas de
estagnação económica e empobrecimento geral, acompanhados de enriquecimento sem
causa para alguns, alguns dos quais estão presos. E socialmente, que
conseguiram? Que conseguiram os socialistas ao abraçarem, numa tentativa vã de
se distinguirem, as causas fracturante do aborto, do casamento homossexual – em
breve, talvez, a da bestialidade – e o desinteresse pela família? Conseguiram o
país com a mais baixa taxa de natalidade da Europa e a mais séria ameaça à
sustentabilidade do Estado Social. (O Estado Social – os socialistas
esquecem-se sempre disto – foi um presente que lhes ofereceu a direita)
Embaraçados, os socialistas
portugueses olham em redor, e já não citam o Hollande que os desiludiu e traiu,
não se lembram de Renzi; arrependem-se depressa das ilusões patéticas que do
conto (de terror) para crianças de Tsipras; horrorizam-se com a derrocada de
Milliband. E apesar da militância e parcialidade vergonhosa de muitos órgãos de
comunicação social em que travestis de jornalistas praticam intoxicação
grosseira e ridícula, não sobem nas sondagens. Com o proverbial atraso, o
eleitorado português, parece, também está a perder a cegueira, a exemplo da
Europa toda (Grécia excluída).
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