Luciano Henrique
Se há mais coisas entre o céu
e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia, igualmente é difícil
entender o que se passa pela mente de Cunha [foto] com certeza. Certeza, por enquanto,
só temos em relação ao seu desempenho político nos últimos dias: é uma grande
decepção. (É claro que ele pode ter tocado o “foda-se” em um momento onde se
preocupa com outras coisas, mas isso não pode mudar uma avaliação de
desempenho)
O fato é que o capital de
Cunha é esmagado a cada dia que passa. Mas qualquer pessoa que tenha prestado
atenção – realmente prestado atenção – no que ocorreu nas eleições 2014 já
perceberia o óbvio. Como em política, o agressor geralmente prevalece, e como o
PT sabe disso, a ação do partido resume-se a deixar esta regra fluir, além de
tentar controlar o fluxo de informações no grau máximo em que suas verbas
estatais o tenham capacitado.
Quando não se percebe esta
regra, a pessoa pode achar que a derrocada moral do PT vai derrubar o partido.
Porém, mesmo nesta situação, ao atacar o oponente em quantidade muito mais
volumosa (e muito mais propagada, pelo controle do fluxo de informações), a
tendência é que, embora a rejeição ao partido diminua muito pouco, a do
adversário com certeza vai crescer em escala considerável. Nas eleições de
2014, todas as semanas de embate direto contra Marina, e depois contra Aécio
seguiram o mesmo padrão: a popularidade de Dilma subia muito pouco, mas a
rejeição de cada um de seus adversários sob foco principal de ataque aumentava
3% a 4% por semana.
Algumas pessoas saíram
reclamando de urnas fraudadas após o término das eleições – e, curiosamente, em
um ritmo muito superior ao de antes dos resultados saírem, como sempre acontece
nesses casos -, mas na verdade já se percebia que Aécio escolheu a linguagem
dos derrotados, tal como Marina havia feito anteriormente. E, hoje, Cunha fez
este mesmo tipo de escolha.
Ontem, por exemplo, Cunha deu
a declaração frouxa dizendo: “O fato de ter a pedalada, por si só, não
significa que isso seja razão para o pedido de impeachment. Tem que configurar
que há a atuação da presidente num processo que descumpriu a lei”. Pode parecer
um discurso de barganha, em uma época em que ele já se queimou publicamente,
pelos fatores expostos anteriormente. Independentemente de quais sejam suas
intenções, elas aumentam o capital político do PT, jamais o dele.
E o PT tem sede de sangue,
especialmente ativado quando o adversário afrouxa ainda mais no discurso. Daí
foram três estocadas em um só dia.
Primeiro: o vice-líder do
governo, Silvio Costa, entrou com representação na PGR pedindo o imediato
afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. A alegação de Costa é
que Cunha está usando o cargo de presidente da Câmara para retardar o processo
contra o último no Conselho de Ética. Na representação, Costa escreveu: “Não é
possível que a gente tenha que conviver com uma situação inusitada como essa,
onde um presidente que está denunciado com contas na Suíça diz que não renuncia
e essa Casa está nesse marasmo”. Observe: um lado vem com discurso frouxo. E o
outro surge com uma ação direta. Não dá para comparar. É uma briga de adulto
com criança. (Aliás, eu peço que prestem atenção nos discursos de Silvio Costa.
Eis um adulto em política.)
Segundo: a título de
humilhação pública de Cunha – mais uma vez, para destruir o capital político do
presidente da Câmara -, Teori Zavascki negou o pedido para tramitação em sigilo
do inquérito para investigação das contas na Suíça. Claro que os petistas terão
direito a sigilo se vierem mesmo a serem investigados – e se o STF não for
pressionado -, o que deixará claro para o público que se trata de uma ação seletiva.
A coisa é tão descarada que eles nem se preocupam em esconder o seletivismo. E,
pensando bem, o seletivismo também serve como humilhação.
Terceiro: o mesmo Teori
Zavascki decretou o sequestro do dinheiro que Cunha tinha em contas na Suíça,
totalizando R$ 9 milhões. Quer dizer, enquanto os petistas morrem de rir, usufruindo
tudo que receberam, Cunha perdeu sua grana. Ele deve estar se sentindo muito
humilhado perante seus pares – e com razão.
Pelo menos ninguém pode dizer
que tudo isto é surpreendente.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 23-10-2015
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