João Bosco Leal
Nos últimos dias uma
declaração tem causado muitos debates na imprensa de Mato Grosso do Sul e sobre
a mesma, ao que parece, também foram realizadas veiculações de campanhas
publicitárias pagas em países da Europa e dos Estados Unidos.
A frase “A Europa vai
parar de comprar carne do Mato Grosso do Sul, porque a carne daqui tem sangue
de criança indígena. A Europa vai parar de comprar soja do Mato Grosso do Sul,
porque a soja daqui tem sangue de criança indígena”, primeiramente foi
atribuída ao bispo de Dourados, Dom Redovino Rizzardo.
Ela teria sido dita em um
encontro ocorrido no dia 08 de outubro de 2015 no Ipad – Instituto Pastoral da
Diocese de Dourados, e dela participaram religiosos e outros defensores da
causa indígena, de vários Estados do Brasil e do exterior, que vieram conferir, in
loco, a real situação dos indígenas que vivem em Mato Grosso do Sul.
O bispo alega que só esteve no
início da reunião para cumprimentar os participantes, e que já não estava no
local quando a frase foi dita, mas admite que soube depois que algumas pessoas
presentes no encontro fizeram essas declarações.
O próprio bispo alegou ainda
que considerou a reunião inoportuna, por estar ocorrendo em um momento de muita
tensão entre as partes envolvidas, com muitas áreas invadidas e com a justiça
determinando a reintegração de posse das mesmas, devolvendo-as aos produtores,
seus proprietários legais.
Independente de quem quer que
tenha dito tamanha estupidez, que obviamente pode destruir a economia do Estado
de Mato Grosso do Sul, penso ser muito importante esclarecer a estas pessoas o
que representa o agronegócio em nosso Estado.
No MS, a produção estimada de cana-de-açúcar
para a safra de 2015, de acordo com a Conab – Companhia Nacional de
Abastecimento -, é de 50,2 milhões de toneladas.
Mesmo em razão das condições
climáticas desfavoráveis, neste ano o MS deve colher 6,6 milhões de toneladas
de soja, o que proporcionará uma receita estimada em R$ 5,52 bilhões, conforme
dados da Aprosoja/MS – Associação dos Produtores de Soja.
Segundo dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Valor Bruto da Produção
Agropecuária (VBP) de Mato Grosso do Sul deve
chegar aos R$ 26,571 bilhões em 2015. O VBP é um indicador da atividade
calculado com base nos volumes de produção e preços médios da agricultura e
pecuária do estado e, neste ano, 59,01% deve vir da agricultura, que deve
atingir os R$ 15,681 bilhões e 40,98% da pecuária, que deve totalizar R$ 10,890
bilhões.
Os três principais produtos da
agricultura em Mato Grosso do Sul, no que se refere ao VBP, devem registrar,
conforme a previsão dos técnicos do Mapa, crescimento em 2015 em relação a
2014. A soja deve ter um incremento de 7,60% (de R$ 6,848 bilhões para R$
7,369 bilhões), o milho de 9,58% (de R$ 3,922 bilhões para R$ 4,298 bilhões) e
a cana-de-açúcar de 10,59% (de R$ 3,039 bilhões para R$ 3,361 bilhões).
Já na pecuária, na criação de
bovinos, a projeção é de um aumento de 2,26% no VBP deste ano em comparação com
o anterior (de R$ 8,330 bilhões para R$ 8,519 bilhões). Também está previsto um
acréscimo de 3,49% na produção de suínos (de R$ 481,005 milhões para R$ 497,812
milhões) e de 3,39% na de frangos (de R$ 1,457 bilhão para R$ 1,507 bilhão).
Diante destes números – que,
apesar da crise política e econômica que vive o país, continuam crescendo -, da
geração de empregos proporcionados e dos impostos que o governo arrecada do
agronegócio, é no mínimo irresponsável e criminoso fazer declarações como as
que foram feitas.
Os produtores rurais de
Mato Grosso do Sul só querem poder continuar trabalhando e produzindo em paz.
Não precisam de declarações irresponsáveis, que não melhorarão em nada a vida
de nenhum brasileiro, seja ele de qualquer etnia, índio ou não.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, jornalista, escritor e empresário, 23-10-2015
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