Carlos Lúcio Gontijo
Não suportamos mais a
divulgação seletiva de denúncias que ocorre na grande mídia. Temos acompanhado,
principalmente por intermédio da internet, o rumoroso caso Carlinhos Cachoeira
e estamos cada vez mais convencidos de que urge a democrática elaboração de um
marco regulatório para os meios de comunicação, sob o objetivo de salvar tanto
a liberdade de expressão quanto o direito à informação, que de maneira alguma
podem deixar de ser fruto da realidade e reduzidos a simples peça de ficção
determinada pelos escusos interesses políticos de uma mídia partidarizada.
Definitivamente, não dá mais
para assistir à transformação da notícia em mero enredo para a pretensa
capacidade de escamotear os fatos através de edições jornalísticas pontuadas pela
criatividade dos editores. É somente sob esse prisma que podemos analisar a
intencional decisão de os grandes meios de comunicação não levarem em
consideração os cerca de 200 telefonemas (detectados em operação policial)
trocados entre Policarpo Júnior, editor da revista Veja, e o Carlinhos
Cachoeira, que numa ingênua versão parcial pode ser tomada como uma espécie de
união salutar em prol do indispensável jornalismo investigativo. Ou seja, a
revista detinha (ou detém), no caso, a magia de exorcizar o diabo impregnado em
sua fonte (ou cachoeira) interlocutora e sair-se livre de toda contaminação,
após a manutenção de estreito contato durante oito anos.
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Carlos Cachoeira, foto: AE |
Infelizmente, a grande mídia
abandonou sua simbólica, porém real, condição de quarto poder, para se inscrever
como partido político, galgando um falso patamar em que não é reconhecido,
angariando desconfiança e descrédito junto à população, com evidente perda de
influência no campo da opinião. A população não aceita mais os dois pesos, as
várias medidas e a parcialidade com que a mídia maior vem tratando os assuntos,
mostrando-se cada vez mais especializada em descortinar e defenestrar seus
supostos desafetos ou pedras no caminho de suas intenções sempre acima de
qualquer suspeita, quanto capaz de elevar aos píncaros da fama e notoriedade
parlamentares como Demóstenes Torres, que vinha pousando de paladino diante das
câmaras de tevê e páginas de jornal, que lhe destinavam uma cachoeira de espaço
e louvores pelo exercício de xerife da moral e da ordem republicana.
Os tentáculos do escândalo
Carlinhos Cachoeira derramam sobre a nação brasileira o horizonte explícito de
quanto nossa democracia ainda é frágil e desprotegida, uma vez que a união de
uns poucos delinquentes com poder de trânsito e influência junto às elites
políticas e poderes da República é suficiente para desestabilizar e até
encantoar o próprio governo. Nesse sentido, o escândalo Carlinhos Cachoeira é
tão potencialmente grave e bárbaro que nos conduz ao pensamento de que
liberdade de expressão e informação desprovida de qualquer regulação é o mesmo
que abolir a prisão de cidadão criminoso em nome do supremo direito
constitucional de ir e vir, numa extrema adoção do dístico “é proibido proibir”
de que se valem os inimigos da verdadeira democracia, que não sobrevive em
ambiente de anarquia, desordem e vale tudo.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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