terça-feira, 14 de junho de 2011

Entenda a gramática luliana

Os bem-falantes continuam tagarelando sobre a fonte da selvageria produzida por Jared Lee Loughner no atentado de Tucson. Muitos na esquerda tem tentado e falhado infamar os Tea Parties pelo massacre de Tucson; ou então, mais apelativo, atribuí-lo a Sarah Palin. Enquanto isso, o gorila de 400 quilos permanece ignorado e incontestável no quarto de interrogatório. O nome disto é “desconstrucionismo”.
O desconstrucionismo é o relativismo histórico em papelotes de crack. A “teoria” está sendo livremente e abertamente distribuída a quase todos os estudantes das universidades na América [mas menos que por aqui][1]. Cursos na maioria das humanidades incluem os trabalhos de Jacques Derrida e Michel Foucault. De fato, é quase impossível encontrar um livro-texto recente sobre literatura ou cultura ou crítica de arte que não contenha frase tais qual “Como Derrida tem demonstrado...” ou, “Como Foucault tem mostrado...”, (i). Que Derrida e/ou Foucault tem “demonstrado” suas teorias simplórias é a coisa mais certa no ambiente acadêmico contemporâneo.
O que exatamente é desconstrucionismo? Vou tentar explicar estes disparate da forma mais simples e compreensível quanto possível. Os dois mais influentes proponentes do desconstrucionismo foram os filósofos franceses Derrida (1930-2004) e Foucault (1926-1984). Derrida enfocou a filosofia da linguagem e da gramática e Foucault enfatizou temas culturais (ii). O presente artigo está centrado particularmente sobre o trabalho de Jacques Derrida (iii).
Derrida desafia seus leitores a
inventar em sua própria linguagem, se [é que] você pode, ou ouça a minha; invente se você pode, ou [se expresse pela] minha linguagem para ser compreendido” [uma ironia para dizer que ele manda em você]

Postula ele,
“... esta distância, divergência, delay, este diferimento deve ser capaz de uma certa absolutidade de ausência se a estrutura da escrita, assumindo que a escrita existe, constitui a si mesma” (iv).
Tais avenidas de “pensamento” (se é que essa bobajada pode ser chamada pensamento --- imagine a afetação para dizer: “assumindo que a escrita existe”) tem um lado negro. De acordo com Derrida, a escrita é um signo que significa “diferença” ou “traço”. (Ele ficou famoso por esta suposta sutileza ao usar o termo “diferença” e “traço”. Isto levou Derrida a concluir que “a escrita é parricídio” (v) porque a escrita “abre uma série de oposições denominadas ‘dentro/fora’ ” (vi):
“...que, em todos os seus domínios, por todos os caminhos e apesar de todas as diferenças, a reflexão universal receba hoje um impulso espantoso de uma inquietação sobre a linguagem — que só pode ser uma inquietação da linguagem e na própria linguagem —, eis um estranho concerto cuja natureza consiste em não poder ser apresentada em toda a sua superfície como um espetáculo para o historiador, se por acaso este tentar reconhecer nela a marca de uma época, a moda de uma estação ou o sintonia de uma crise. Qualquer que seja a pobreza do nosso saber a esse respeito, é certo que a pergunta sobre o sinal é ela própria algo mais ou algo menos --- em todo caso, diferente --- de um sinal dos tempos. Sonhar reduzi-la a isso é sonhar com a violência”. (vii)
A filosofia de Derrida, vista como um sinal dos tempos, é um sonho de violência [3]. Como ele defende em seu mais influente trabalho, De la grammatologie (Gramatologia, 1967): “a escrita não é o signo de um signo, a não ser que se diga isso em relação a todos os signos, o que seria mais profundamente verdadeiro”. Um signo de todos os signos é certamente um sinal dos tempos. Assim, Derrida invoca, pelo menos implicitamente, para seus leitores completar o “sonho de violência”. Em outro lugar, ele urge seus leitores para
ir aonde vocês não foram, ao impossível, que é de fato a única e verdadeira via para ir e vir”.
Desde que a escrita, de acordo com Derrida, é ou sem sentido ou já não pode deixar de ser uma mudança de interpretação imposta pelo leitor, o “impossível” está inextrincavelmente ligado, para Derrida, à violência. Um dos capítulos de Derrida em A escritura e a diferença é “Violência e metafísica”. A Metafísica --- que significa literalmente “além da física” --- parece ser, ipso facto, para além da violência. Não pode haver violência sem que algo físico ocorra. De acordo com Derrida:
“A dimensão dativa ou vocativa que abre a dimensão original da linguagem, não se presta a si mesma à inclusão e modificação pela dimensão acusativa ou atributiva do objeto sem [um ato de] violência [i.e., ato arbitrário de fundação de referência]. A linguagem, portanto, não pode perfazer sua própria possibilidade numa totalidade [ter sentido em si mesma para com um referente] e incluir em si mesma sua própria origem ou seu próprio fim” (grifado).
Aqueles leitores que estão treinados em gramática reconhecerão que estas sentenças não fazem sentido desde que [expressem-se] escritas --- mas isto é um aparte (viii). Derrida está explicitamente induzindo seus leitores a acreditarem que a linguagem é impotente a menos que seja completada [ou efetivada] pela violência. [4]
Derrida nos dá sua solução para o seu falso dilema da linguagem poucas páginas depois:
“Como a fala e o olhar, a face não estão no mundo [i.e., a negação da presença do ser], desde que isto abre e excede a totalidade [v.g., a “unidade/identidade” das totalidades parciais]. E por isto marca os limites de todo o poder, de toda a violência e da origem da ética. De certo modo, o assassinato está sempre direcionado à face, mas pelo qual sempre a perde.” Assassinar é o exercício de um poder sobre aquele que o poder escapa”. (ix)
A escrita é fugaz. O falar é impotente. Quer poder real? Atire em alguém... preferivelmente no rosto. Isso não é filosofia. Isso não tem nada a ver com metafísica. É apenas gíria de gangster abstrusamente mascarada de filosofia. E para muitos estudantes universitários influenciáveis, estas coisas são leitura obrigatória [e as linhas inteiras de desenvolvimento da maioria das universidades brasileiras nas cadeiras de humanas].
Agora, vamos a um breve exposição das motivações e inspirações de alguns assassinos em massa recentes e alguns outros, frustrados.
Em 1972, quando Derrida começou a ficar famoso na América, Arthur Bremer tentou assassinar George Wallace. Bremer não foi motivado pela política --- ele queria fama. Ele manteve um diário de seus planos (o qual inclui o possível assassinato de Richard Nixon --- Bremer não era particularmente político ou incorrigível). Seu diário foi publicado em 1973.
O livro de Bremer formou a linha central básica do caráter no filme de Martin Scorsese, “Taxi Driver”. Este é o filme que inspirou a tentativa de assassinato de 1981 de John Hinkley contra Ronald Reagan. (Por aquele tempo, Derrida estava no auge de sua fama. Ele era lido abundantemente nos Estados Unidos.) Hinckley se julgava um poeta e um escritor. Em 1978 ele mudou sua área na Texas Tech de Administração de Negócios para o curso de Inglês. Ele atualmente escreve poesia e canções de uma instituição mental.
O assassino em massa Seung-Hui Cho estava também no curso de Inglês --- um aluno Senior na Virrginia Tech onde ele massacrou 32 pessoas antes de cometer suicídio e terminar a sua carreira literária. Não surpreendentemente, sua estória curta, “Richard McBeef”, é baseada em um fracassado parricídio onde o filho ataca a face do pai:
“John [o filho] parte sua barra de cereal de banana pela metade e tenta enfiá-la na boca de seu padastro e nele empurrá-la goela abaixo”.
Como Cho, Jared Lee Loughner também estudava Inglês e poesia no colégio. A obsessão de Loughner com a gramática e com Nietzsche deveria dizer-nos algo dele. ...Algo óbvio. [5]
Como está na busca de Sócrates por tentar responder a respeito da verdadeira natureza filosófica contra suas deformações, diz na República,
“Devemos agora considerar as degradações [da melhor natureza filosófica]: como ela se perde entre o maior número, como não escapa à corrupção, exceto em alguns poucos, aqueles a quem se cognomina, não perversos, porém inúteis [os de natureza débil]; consideraremos, em seguida, aquele que finge imitá-la e se atribui seu papel: quais as índoles que, usurpando uma profissão de que são indignas e que as ultrapassa, resultam em mil desvios e prestam à filosofia esta irritante reputação que assinalas” (490c-491b). (x) [6]
É tempo de desconstruir o “desconstrucionismo”. Sabemos muito bem que devemos começar a levar a sério esta praga e seus possíveis efeitos sobre os jovens em nossas instituições de educação “superiores”.

Notas do autor
(i) Aqui alguns poucos scholars que li que escrevem nessa mesma linha: Stanley Fish, Mas'd Zavarzadeh, J. Hillis Miller, Michael Riffaterre, Rosalind Krauss, Nicholas Fox, Paul Fry, Michael Fried, Cornel West, Christopher Norris, Svetlana Alpers, E. Ann Kaplan, Geoffrey H. Hartman, and Griselda Pollack... para iniciantes.
(ii) Foucault, por exemplo, teve a audácia de afirmar que a sexualidade “é o nome que pode ser dado a um construto histórico” (A história da sexualidade, Vol. I, cap. 3). Isso poderia ser surpresa, não apenas para pessoas sãs, mas para todos os animais que procriam via gênero (assumindo que eles jamais leram Foucault). Foucault atribui a culpa de todas as nossas doenças mentais à burguesia --- incluindo moléstias mentais. E.g., seu trabalho influenciou grandemente o psiquiatra R.D. Laing. Escrevi sobre o assunto aqui.
(iii) Derrida foi influenciado por Nietzsche, Ferdinand de Saussure, Heidegger e Paul de Man. O trabalho de todos estes escritores foram promovidos na academia. (Veja o programa). Os dois últimos homens na lista foram membros do Partido Nazista e/ou abertamente antissemitas. Derrida, cujos parentes eram judeus, vociferou e publicamente denunciou seus familiares e sua herança judaica. Ele defendeu os escritos de Man --- alguns dos quais conclamando por uma “solução final” ao “problema” Judeu.
(iv) Ênfase minha. Tomado do artigo “O contexto do evento da assinatura”. Parte do subtítulo desse artigo é “Do escrever: Que Talvez Não Exista”. Experimente, então, pensar, por um momento --- já que Derrida parece ter se negado a isso ---, sobre ter escrito esse subtítulo nonsense.
(v) Derrida, "La Pharmacie de Platon," 1972, p. 189. Ênfase minha.
(vi) Citado em Hermeneutics as Politics, de Stanley Rosen, Oxford University Press, 1987, p. 82. “Interior/Exterior” é também do livro Pharmacie, p. 118, de Derrida. Hermeneutics as Politics é provavelmente o melhor livro sobre a relação do desconstrucionismo à cultura e política contemporâneas.
(vii) Ênfase. Jacques Derrida, A escritura e a diferença, cap. 1, “Força e significação”. Tradução ao Inglês de Alan Bass, p. 3; [ao Português, de Maria Beatriz Marques Nizza da Silva (Ed. Presença), p. 12.] Observem o título. O capítulo inteiro é digno de ser lido para se compreender a ligação entre o uso da força e a noção de Derrida de que o leitor é escritor, ou différence. Algumas páginas abaixo, imagine um estudante tentando entender a seguinte passagem:
“Este assombramento que a impede aqui de voltar a ser natureza é talvez em geral o modo de presença ou de ausência da própria coisa na linguagem pura. Linguagem pura que gostaria de abrigar a literatura pura, objeto da crítica literária pura. Nada há portanto de paradoxal no fato de a consciência estruturalista ser consciência catastrófica, simultaneamente destruída e destruidora... [p. 16]. Para apreender mais de perto a operação da imaginação criadora, é preciso portanto virarmo-nos para o invisível interior da liberdade poética. É preciso separarmo-nos para atingir na sua noite, a origem cega da obra [p. 19].”
(viii) Como pode a violência modificar a relação entre denotação de substantivos, pronomes ou adjetivos? Estas relações são estabelecidas pelas leis da gramática, pelo exame que se faz do uso tradicional das palavras.
N. do T. – A razão disso é que quando o desconstrucionismo fala em “relação” ele está se referindo ao ato de violência que estabelece esta relação. Como disse uma professora universitário alhures:
O problema foi quando se estabeleceu essa relação [perversa] de uma estrutura onde há um sujeito que age [sobre algo ou alguém paciente]...”.
Para essa linguística do desvio, o uso tradicional das palavras é o substrato sedimentado de um “ato de violência” esquecido e feito no hábito “normal”ou “consagrado” no seu “momento de estabelecimento” por um grupo predominante. Uma de suas fontes é o preceito baseado em Ludwig Wittgenstein, de que o ato de estabelecimento das regras do jogo já faz parte do jogo em si. Daí por que voltar até o ato obscuro de instauração, um ato de criação poética, então já comparado a um puro ato violência, porque arbitrário.
(ix) Grifado. A citação final é de Emmanuel Levinas. Um dos últimos trabalhos de Derrida tem o título A bênção da morte. Uma retrospectiva positiva de seu livro diz:
“Derrida pretende libertar-nos da suposição comum de que a responsabilidade está associada a um comportamento que se ajusta a princípios gerais que podem ser justificados publicamente (i.e., liberalismo). Contrária a esse julgamento, ele enfatiza a… “singularidade radical” ...” [sic.] [grifei].
(x) 490c-491b.
Notas do tradutor
[1] Larrey Anderson é escritor, filósofo e Editor Senior do American Thinker. Ele é autor de um premiado romance, The Order of the Beloved, e das memórias Underground. Trabalha hoje num novo livro: The Death of Culture.
[2] O desconstrucionismo parece ter somente um fim, o de levar ao chão toda capacidade da inteligência onde ele é ministrado criando linhas de desenvolvimento supérfluas e que danificam a mente dos estudantes até o fim.
[3] E ao dizer isto, fazemos com que o que descrevemos já fazemos uso, que significa que, pelo menos, se estivermos errados, tenhamos criado o que descrevemos.
[4] A linguagem como um “construto” que se impõe num determinado ato onde as relações de referência (e relação) se originam. Que para romper com estas relações a criatividade poética se confunda com um ato de violência, já não estranha. Que ela possa justificar todo tipo de mito pessoal e possa ser mesmo um Zeitgeist, a medida que se acredite que exista o Zeitgeist, parce já uma conseqüência inevitável.
[5] O existencialismo de Jean-Paul Sartre não pode ser desprezado no contexto desse passo adiante que foi o desconstrucionismo de Derrida. Admitir que a existência precede a essência, coloca sobre o ato moral a ênfase mais no “ato” que na moralidade desse ato. O homem é completamente responsável pelos seus atos, mas a medida de julgamento dessa “responsabilidade” simplesmente já não existe. O existencialismo de Sartre é o solipsismo imoral que Dostoievsky denuncia quando diz “Se Deus não existe, tudo é permitido”. No mesmo sentido está a referência à “autenticidade”, merecida e não aprendida. O termo é largamente usado pela esquerda para dizer qualquer coisa como a substituição da consciência, que em Sartre entra em um círculo auto-referente, para dizer, por fim, a adesão sem maiores explicações a uma causa.
[6] A alma débil ou medíocre, instruída como uma alma vigorosa, pode não ser capaz daquele mal que perverte, mas pode ser a força de ignição do mal (ou de adesão) na sua expressão mais torpe. Id., v. entre 491b-e e 492e.
*
“Death by Desconstrucionism”
Larrey Anderson
American Thinker, 24 de janeiro de 2011
Recebido por e-mail de Gracia La Vida, Resistência Democrática, 14-06-2011

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