Lucília Tiago
Valor de rendimentos prediais declarados neste ano ao fisco ultrapassou
pela primeira vez a fasquia dos três mil milhões de euros.
A dinamização do mercado de arrendamento e as medidas de combate às
rendas clandestinas permitiram que os rendimentos prediais declarados neste ano
ao fisco tivessem aumentado cem milhões de euros, ultrapassando pela primeira
vez os três mil milhões de euros. E o número de pessoas que declararam rendas
subiu 51% em dois anos.
Entre os quase dois milhões de pessoas que neste ano entregaram
declaração na 2.ª fase do IRS, mais de um quarto (570 mil) reportaram ter
recebido em 2014 rendimentos de rendas (categoria F). É o maior número de
sempre e bem acima dos 376,3 mil de 2013. Os valores declarados têm igualmente
subido: em 2013 foram 2,88 mil milhões de euros (relativos ao exercício de
2012), no ano passado cerca de 2,90 mil milhões e neste ano chegaram aos 3,01
mil milhões de euros. Para o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
"este resultado significa que as medidas de combate ao arrendamento
clandestino têm atingido os objetivos definidos".
Em resposta ao DN/Dinheiro Vivo, fonte oficial do Ministério das Finanças
acentua que as estimativas apontam para que 80% da subida dos valores de
rendimentos prediais declarados em 2015 "decorram" de medidas de
combate a rendas não declaradas. As rendas clandestinas foram um dos problemas
identificado pela troika, levando à tomada de várias medidas. Ao mesmo tempo
foram promovidas várias ações de fiscalização, sobretudo junto de alugueres de
curta duração e férias e dos sites de reservas. "Neste verão tornou-se
comum os donos de casas de férias dizerem aos clientes - alguns já de há vários
anos - que tinham um recibo para lhes passar", referiu ao DN/Dinheiro Vivo
fonte do setor.
Entre as soluções criadas para reforçar a declaração das rendas inclui-se
o envio de milhares de e-mails de aviso antes da entrega da declaração do IRS e
um aperto no cruzamento de dados através da transmissão mais frequente (quatro
vezes por ano) dos consumos de água, luz e gás. Ao mesmo tempo, a administração
fiscal passou a fazer um controlo centralizado dos contratos de arrendamento e
de subarrendamento, que desde maio passaram a ter de ser declarados por via
eletrónica. A isto soma-se o controlo centralizado dos recibos de rendas
eletrónicos - igualmente obrigatórios desde maio, mas com prazo de adesão até
novembro.
Os dados mostram que entre maio e setembro foram comunicados 244 366
contratos, o que traduz uma média mensal de cerca de 54 mil. Daquele total, 88
473 referem-se a contratos novos e os restantes aos que vão sendo submetidos
por os respetivos senhorios estarem a aderir aos recibos eletrónicos. Até ao
momento, foram emitidos 979 mil destes recibos, com um valor superior a 400
milhões de euros.
Para quem acompanha o setor imobiliário, todos estes números traduzem
também uma maior dinamização do mercado de arrendamento. De acordo com as
estimativas da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária
de Portugal (APEMIP), cerca de 23% dos portugueses vivem atualmente em casas
arrendas. O número compara com os 19% registados em 2011 e revela maior procura
de casas para arrendar. Uma procura, refere o presidente da APEMIP,
impulsionada pela maior dificuldade que as famílias sentiram nos anos da crise
em conseguir um crédito para comprar casa e também pelo crescimento da oferta
de casas para arrendar. Ainda assim, acentua Luís Lima, o mercado cresceu menos
do que inicialmente estimava esta associação, devido "aos impostos muito
elevados" a que estão sujeitos os senhorios. "As rendas deviam ser
taxadas pelo rendimento [em sede de IRS] e não pela posse do imóvel [através do
IMI], mas o que acontece é que atualmente têm de se pagar estes dois
impostos."
Desde 2013 que é possível pagar uma taxa autónoma de 28% sobre as rendas.
Título e Texto: Lucília Tiago, Diário de Notícias, 15-9-2015
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