sábado, 14 de abril de 2012

Argentina ameaça repetir com a Espanha o que a Bolívia fez com o Brasil

Espanha diz que a Argentina será relegada à condição de “pária internacional” caso desaproprie a REPSOL-YPF


Jorge Sainz
O governo espanhol advertiu hoje a Argentina que a desapropriação da REPSOL-YFP, de propriedade espanhola, converterá o país sul-americano num “pária internacional”, cuja consequência mais imediata seria o isolamento não só nas suas relações com o país ibérico, como também com toda a União Europeia.

Madri, com o apoio de seus sócios europeus em Bruxelas, elevou o tom do protesto diplomático pelos últimos acontecimentos em torno da empresa espanhola de petróleo que atua na Argentina. O governo deixou claro que está pondo fim ao apoio de seus aliados ao país sul-americano e fez ver que a estatização da REPSOL-YPF pela Casa Rosada implicará numa ruptura das relações, não apenas econômicas, entre os dois países. Após uma conversa de uma hora com o embaixador argentino em Madri, o chanceler espanhol José Manuel García-Margallo confiou na possibilidade de se encontrar uma solução negociada para o contencioso, mas foi categórico em afirmar que qualquer "agressão" à REPSOL será considerada também "uma agressão à soberania e ao governo da Espanha".

Nesse sentido, o Secretário de Estado para a União Europeia da chancelaria, Iñigo Méndez de Vigo, precisou que a estatização por confisco pura e simples da REPSOL-YPF afetará as negociações comerciais em curso entre os 27 sócios da União Europeia com os países do MERCOSUL, que são compostos pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. "Mudar as regras do jogo tem um custo e a Argentina vai se converter num país pária internacional", disse Méndez de Vigo à rádio ‘Onda Zero’. Pouco depois, a vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría assinalou que não tem consistência o fato de a Argentina ter iniciado um processo de expropriação da empresa petrolífera espanhola, mas asseverou que, se tal ocorrer, o governo espanhol responderá ‘à altura’.

"Medidas não são anunciadas, são adotadas", afirmou Sáenz de Santamaría ao ser perguntada, numa entrevista de imprensa, se a Espanha se proporia a suspender as importações e retirar os seus investimentos desse país sul-americano. "A obrigação deste governo é defender com todos os instrumentos que tem a seu alcance os interesses gerais da Espanha e das empresas espanholas, aqui e no exterior", acrescentou.

Em Bruxelas, a União Europeia pediu à Argentina que respeite os compromissos assumidos e disse que tinha feito chegar uma "notificação diplomática" a um membro do governo de Cristina Fernández Kirchner. "Estamos ao lado da Espanha nesta situação", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly. "Esperamos que o governo argentino tenha o bom senso de respeitar seus compromissos internacionais e proteja os investimentos estrangeiros em seu território".

A Espanha é o primeiro investidor externo na Argentina, à frente dos EUA. O investimento direto espanhol nesse país sulamericano alcançou os 23,2 bilhões de dólares em 2010, 26,3% do total do capital externo que entrou no país, em comparação com os 16,8% dos EUA, de acordo com os dados do Banco Central da República Argentina. Enquanto isso, a REPSOL remeteu anteontem um comunicado ao órgão regulador da Bolsa de Valores na Espanha no qual assegura não ter recebido ainda "notificação alguma por parte das autoridades argentinas em relação a sua participação acionária em sua filial argentina a YPF S.A."

As ações da petroleira se desvalorizaram a uma média de 2,6% numa jornada de perdas generalizadas na Bolsa de Madri. O comunicado da empresa e a dura reação do governo espanhol vieram horas depois de circularem intensos rumores em ambos os lados do Atlântico sobre a possibilidade de a Argentina expropriar a REPSOL-YPF, adquirindo, por decreto, o controle acionário da filial espanhola na Argentina. Mas, a presidente CFK evitou tocar no assunto da petroleira numa ‘mensagem à nação’ na tarde de ontem. A REPSOL tem 57,43% de suas ações pertencentes à espanhola REPSOL e 25,46% ao grupo argentino Petersen, que é responsável por sua gestão (?).

O estado argentino tem uma participação minoritária. A filial argentina representa 42% das reservas totais da REPSOL, avaliadas em 2,1 bilhões de barris de petróleo cru, e 25% de sua extração e refino. Seis estados argentinos suspenderam recentemente as concessões de diversas áreas de prospecção e extração da YPF, alegando o descumprimento de metas de investimento. Isso compõe 19% da produção nacional de petróleo cru da empresa, segundo estimativas do setor energético. Em resposta, a YPF, que nega as acusações de falta de investimento, interpôs ações judiciais contra as medidas estaduais.

Muitos analistas, no entanto, consideram que, por trás da pressão governamental para que a empresa espanhola aumente seus investimentos na extração e refino de petróleo e gás, há uma vontade política de reestatizar a petroleira, que foi privatizada na década de 1990 e que as medidas coercitivas tomadas por estados contra elas se destina a desvalorizar suas ações e a baratear a compra do seu controle acionário por parte do grupo Petersen tendo a Casa Rosada por trás, ou simplesmente pela compra direta pelo estado argentino.
Texto: Jorge Sainz, para a Associated Press (A jornalista da ‘Associated Press’ em Bruxelas, Gabriele Steinhauser, contribuiu para esta matéria).
Título e Tradução: Francisco Vianna

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