Eduardo Oliveira Silva
A experiência de Francisco
Louçã e dos líderes mais velhos do Bloco de Esquerda é valiosa para manter viva
uma agremiação política que tem uma
expressão mediática muito superior à sua adesão popular.
No dia em que comemorava os
treze anos do BE, Louçã atirou cá para fora mais um tópico político para marcar
a agenda: aexigência de eleições antecipadas, caso Portugal tenha de recorrer a um novo empréstimo para fugir à ruptura. Louçã foi hábil. Por um lado, porque
evitou toda e qualquer palavra sobre a situação do BE, no momento em que a
organização passa por um período de convulsão interna. Trata-se de uma crise
bem mais profunda do que se pensa e sobretudo do que se noticia. Por outro,
porque foi o primeiro dirigente a colocar a questão sobre a necessidade de
renovar a legitimidade democrática (para usar uma expressão cara a Mário
Soares,) se a situação económica se degradar.
Esta antecipação discursiva de
Louçã introduz uma variante na temática política que, na realidade, pouco mais
é do que ruído, uma vez que o governo está assente numa coligação que, apesar
de ter os seus problemas internos, não apresenta evidentes sinais de fissura.
Isto não significa que um agravar da situação económica e financeira portuguesa
não possa suscitar a questão do reforço da base social de apoio ao governo, por
via da entrada do PS para um executivo de salvação nacional.
Embora se saiba à partida que
nem o PS aceitaria uma solução dessas, nem Cavaco Silva estaria disponível para
a patrocinar, a jogada de Louçã marca o terreno. É, de resto, de apostar que o
tema será retomado por outros.
O aniversário do BE suscita,
entretanto, uma reflexão sobre a sua influência na sociedade. Há que reconhecer
que a projecção dos seus dirigentes está muito para além da força que a
organização tem no terreno. Não há canal de televisão, emissora de rádio ou
qualquer outro tipo de media, clássico ou de nova geração, que não conte com a
presença activa e dinâmica dos rostos mais conhecidos da organização.
Partindo desta análise
verifica-se que são, na verdade, sempre os mesmos, Francisco Louçã, Fernando
Rosas, Miguel Portas, João Semedo e Luís Fazenda, para além de Ana Drago a
fazer de jovem, a tomarem conta da palavra. Embora sejam figuras que valem por si
próprias do ponto de vista intelectual, há que reconhecer que monopolizam o
discurso. A questão está em saber se além desta primeira linha mediática há
outros nomes portadores de valores capazes de influenciar a sociedade, com
ideias e propostas. Aparentemente há, mas são poucos e não lhes é dado grande
espaço de afirmação. De qualquer forma, é forçoso constatar que, nesta fase, a
organização está a distanciar-se dos movimentos sociais que pretende
representar.
A diminuta expressão
autárquica do BE sempre foi um retrato dessa limitação. Numa fase em que já
tanto se fala de eleições locais, talvez seja interessante conferir a real
implantação da organização através desse indicador. A representação local, mais
perto da cidadania, é talvez a prova de vida mais essencial na política. Este
sim, seria um desafio para Louçã e a sua equipa. Mas é de apostar que não vão
querer enfrentá-lo. A política TV é bem mais fácil.
Título e Texto: Eduardo Oliveira Silva, jornal “i”,
09-04-2012
Edição: JP
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