sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cachoeira de interesses escusos

Carlos Lúcio Gontijo
Não suportamos mais a divulgação seletiva de denúncias que ocorre na grande mídia. Temos acompanhado, principalmente por intermédio da internet, o rumoroso caso Carlinhos Cachoeira e estamos cada vez mais convencidos de que urge a democrática elaboração de um marco regulatório para os meios de comunicação, sob o objetivo de salvar tanto a liberdade de expressão quanto o direito à informação, que de maneira alguma podem deixar de ser fruto da realidade e reduzidos a simples peça de ficção determinada pelos escusos interesses políticos de uma mídia partidarizada.
Definitivamente, não dá mais para assistir à transformação da notícia em mero enredo para a pretensa capacidade de escamotear os fatos através de edições jornalísticas pontuadas pela criatividade dos editores. É somente sob esse prisma que podemos analisar a intencional decisão de os grandes meios de comunicação não levarem em consideração os cerca de 200 telefonemas (detectados em operação policial) trocados entre Policarpo Júnior, editor da revista Veja, e o Carlinhos Cachoeira, que numa ingênua versão parcial pode ser tomada como uma espécie de união salutar em prol do indispensável jornalismo investigativo. Ou seja, a revista detinha (ou detém), no caso, a magia de exorcizar o diabo impregnado em sua fonte (ou cachoeira) interlocutora e sair-se livre de toda contaminação, após a manutenção de estreito contato durante oito anos.

Carlos Cachoeira, foto: AE
Infelizmente, a grande mídia abandonou sua simbólica, porém real, condição de quarto poder, para se inscrever como partido político, galgando um falso patamar em que não é reconhecido, angariando desconfiança e descrédito junto à população, com evidente perda de influência no campo da opinião. A população não aceita mais os dois pesos, as várias medidas e a parcialidade com que a mídia maior vem tratando os assuntos, mostrando-se cada vez mais especializada em descortinar e defenestrar seus supostos desafetos ou pedras no caminho de suas intenções sempre acima de qualquer suspeita, quanto capaz de elevar aos píncaros da fama e notoriedade parlamentares como Demóstenes Torres, que vinha pousando de paladino diante das câmaras de tevê e páginas de jornal, que lhe destinavam uma cachoeira de espaço e louvores pelo exercício de xerife da moral e da ordem republicana.
Os tentáculos do escândalo Carlinhos Cachoeira derramam sobre a nação brasileira o horizonte explícito de quanto nossa democracia ainda é frágil e desprotegida, uma vez que a união de uns poucos delinquentes com poder de trânsito e influência junto às elites políticas e poderes da República é suficiente para desestabilizar e até encantoar o próprio governo. Nesse sentido, o escândalo Carlinhos Cachoeira é tão potencialmente grave e bárbaro que nos conduz ao pensamento de que liberdade de expressão e informação desprovida de qualquer regulação é o mesmo que abolir a prisão de cidadão criminoso em nome do supremo direito constitucional de ir e vir, numa extrema adoção do dístico “é proibido proibir” de que se valem os inimigos da verdadeira democracia, que não sobrevive em ambiente de anarquia, desordem e vale tudo.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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