Se os governantes passassem
pelo menos uma semana ao lado de artistas e autores brasileiros que não têm o
amparo de qualquer recurso ou suporte de política cultural eficaz, talvez
descobrissem a notável importância do trabalho desenvolvido pelos que militam
no campo da produção artística independente.
Assistimos, na primeira
quinzena do mês de fevereiro de 2013, ao esforço desenvolvido por Maria Ortélia
de Castro Melo (mais conhecida como Telinha), alma de imensa vocação teatral,
em torno da montagem e apresentação de peça sobre os perigos da dengue para a
saúde, numa iniciativa da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Monte, que foi
prontamente acolhida pela Secretaria de Cultura da cidade, que abriu espaço aos
ensaios necessários, auxiliando a idealista Telinha em tudo aquilo que podia,
no sentido de atender a contento a ideia manifestada pelo chefe do Executivo
Municipal.
Pois bem, mesmo nos momentos
em que se sentia literalmente abandonada, uma vez que não é fácil encontrar
pessoas que abracem com o devido empenho as causas culturais, Telinha jamais se
deu por vencida ou se nos mostrou disposta a entregar os pontos. Poderia desistir,
alegando não ter saúde para enfrentar tamanhos dissabores, mas ao contrário, a
cada pedra no caminho ela se agigantava e se sobrepunha aos entraves que a
indiferença do ser humano no tocante à cultura lhe soerguia.
É uma pena, que prefeituras
que não conseguem cuidar minimamente de sua cultura local, se disponham a
alocar recursos para a contratação de nomes consagrados, sem se incomodar com o
abandono dos artistas da terra, que são tratados como se não existissem,
enquanto distantes valores banhados no ouro de tolo da grande mídia são
elevados à condição de semideuses.
Deveria haver uma lei que
exigisse dos poderes públicos municipais apoio adequado a seus agentes
culturais, com a abertura de espaços para a apresentação de seus valores no
campo da arte cênica, da poesia, da literatura, da música, das artes plásticas,
do artesanato, do humor etc. Incrivelmente, ainda que maltratada, toda cidade
tem a sua banda de música, sua fanfarra, o seu coral, seus conjuntos musicais,
seus compositores, seus instrumentistas, seus cantores, suas cantoras, seus
poetas, seus escritores, seus pintores e seus artesãos. E isso acontece, porque
as “Telinhas” se multiplicam Brasil afora e estão inseridas no contexto de toda
a sociedade, colocando-se acima da ignorância cada vez mais agressiva e exposta
nas vitrines como produto de primeira necessidade, para os que se recusam a
visualizar na reflexão permitida pelo conhecimento uma forma de lazer, uma
fonte de felicidade.
Nos dias de hoje, a cultura
nos surge como ferramenta integrada a todo e qualquer programa de combate à
violência, por ser fator indispensável para a construção de cidadãos mais
capazes de exercitar o amor pelo próximo e o respeito pela vida alheia. Muito
mais que eliminar o temido mosquito da dengue da face da Terra, é desejo de uma
artista da grandeza de Telinha, banir da sociedade os que só encontram tempo,
como se vampiros fossem, para sugar o sangue e o trabalho dos outros, que tomam
a sociedade como fonte de suas refeições, pois literalmente eles encenam no dia-a-dia
a peça teatral em que todos nós somos inocentes “chapeuzinhos vermelhos” a lhes
saciar a fome de impostos sempre elevados e toda a espécie de benesses à custa
do sacrifício e da miséria material (e intelectual) da grande maioria.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e jornalista, Secretário
de Cultura de Santo Antônio do Monte/MG, 19-02-2013
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