Joel Pinheiro
Não sei o que dizer sobre a
abdicação de Bento XVI, por isso decidi escrever um texto a respeito. Quanto
aos motivos da renúncia, sem dúvida o que o papa disse é verdade: ele está fraco
para os fardos que o ofício exige. Entre esses fardos, deve figurar a intensa
oposição que enfrenta dentro da própria Igreja.
A grande mídia, como de
costume, foi muito injusta com o papa, selecionando apenas aqueles pontos de
seu pontificado que reforçam, para quem olha de longe, a imagem de um
retrógrado altamente reacionário a vociferar contra um mundo liberal que deseja
apenas ser feliz. Olha só os “pontos principais” do pontificado selecionados pelo G1: “O papado do conservador alemão foi marcado por algumas crises,
com várias denúncias de abuso sexual de crianças e adolescentes e acobertamento
por parte do clero católico em vários países, que abalou a igreja, por um
discurso que desagradou aos muçulmanos e também por um escândalo envolvendo o
vazamento de documentos privados por intermédio de seu mordomo pessoal, o
chamado ‘VatiLeaks’, que revelou os bastidores da luta interna pelo poder na
Santa Sé.”
Faltou dizer: o abuso sexual
sistemático – que acometeu igualmente a diversas instituições, não só
religiosas (o ensino público americano, por exemplo, foi palco da mesma exata
dinâmica perversa) – é um problema de décadas, bem como seu acobertamento. E
Bento XVI foi, tudo considerado, alguém que se portou de forma exemplar, com
tolerância zero para com abusos e sem conivências vergonhosas para salvar “a
imagem” da Igreja. É uma crise, mas não começou no pontificado dele e nem
consta que a postura dele tenha deixado a desejar.
O discurso que “desagradou aos
muçulmanos” é um enorme não evento, a não ser por seu valor filosófico e
histórico, que era muito bom. A revolta muçulmana foi comparável à das charges
de jornal com Maomé. E de todo o modo, se irritar alguns muçulmanos fanáticos
for uma falha, é, se tanto, de relações públicas, e não de substância.
O Vatileaks de fato marcou o
fim do papado, mas novamente ele não evidenciou nada que desabone ao papa, e
como até hoje o vazamento das cartas em si tem recebido muito mais destaque do
que o conteúdo de qualquer uma delas, é bem provável que o “escândalo” caia no
esquecimento em breve.
(…)
Título, Imagem e Texto: Joel Pinheiro, “Dicta&Contradicta”
Continue lendo aqui.
Indicação: Vitor Grando
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