A desonestidade intelectual no
PT é um método. Mais do que isso: é uma essência. O partido dará início aos
tais seminários para comemorar os dez anos no poder. Leio na Folha de hoje o que segue. Volto em seguida.
A comparação de dados com as
gestões do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) na Presidência vai
nortear os seminários que o PT fará, a partir desta quarta-feira, para exaltar
os dez anos do partido à frente do Palácio do Planalto. O PT elaborou o
documento confrontando indicadores sociais e econômicos do governo “neoliberal”
do PSDB aos dos mandatos “desenvolvimentistas” de Lula e Dilma Rousseff,
estrelas do evento inaugural, em São Paulo, onde a cartilha será distribuída.
“O objetivo, além de resgatar o que foi realizado nos últimos dez anos, é
comparar e mostrar como o Brasil mudou a partir de um outro modelo de
desenvolvimento”, diz o presidente do PT, Rui Falcão.
Serão usados dados oficiais de
órgãos como o Banco Central e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Na lista, índices de inflação, desemprego, dívida pública,
desigualdade e o valor do salário mínimo. Após o seminário de quarta, debates
ocorrerão em dez Estados até maio, sempre com a presença de Lula. A ida de
Dilma a todos os atos ainda não está confirmada.
(…)
Voltei
É impressionante! Lula existe
para tentar se provar melhor do que FHC e para destruir a obra do antecessor. A
esses seminários, vocês verão, comparecerão muitos “intelectuais do partido” —
como se essas coisas pudessem se juntar numa só pessoa… Tivessem um mínimo de
vergonha na cara e respeito pela academia (a que muitos deles pertencem),
jamais endossariam uma patuscada como essa. Por quê?
Justamente porque se trata de
uma desonestidade com a história e com o pensamento. Antes que avance, lembro
que o PT, nesse cotejo, costuma mentir bastante e trabalhar com dados
selecionados, dando destaque apenas àqueles que lhe são favoráveis. ATENÇÃO!
Ainda que dissesse só a verdade e ainda que todos os indicadores fossem
favoráveis ao petismo, faz sentido comparar os dois períodos? A resposta,
obviamente, é “não!” Qual era a realidade do país quando cada um deles chegou
ao poder?
Se Lula tivesse vencido a
eleição de 1994, por exemplo, o Plano Real teria ido para o vinagre, e Deus
sabe em que estado miserável estaríamos hoje. As condições, muito especialmente
as externas, em que FHC governou foram muito mais inóspitas do que as destes
dez anos de petismo, por exemplo. A balança comercial sorriu para o PT não
porque o Brasil começou a exportar muito mais, mas porque o preço das
commodities disparou.
Uma coisa é recompor o valor
real do salário mínimo, por exemplo, como fez FHC, no curso de um esforço para
debelar a inflação; outra, distinta, é manter essa recomposição com as
principais variáveis da inflação já domadas. O assunto é longuíssimo. Teremos
muitas outras oportunidades de voltar ao tema à medida que as mistificações
forem sendo propagadas. Notem bem: partidos têm todo o direito — e até o dever
— de puxar a brasa para a sua sardinha. Mas é preciso um mínimo de decoro
nessas coisas.
A rigor, o PT jogou no lixo o
seu próprio programa quando chegou ao poder, fazendo do estelionato eleitoral
uma categoria de pensamento, e governou, como disse então Luiz Carlos Mendonça
de Barros, com o software que roubou do inimigo. O país começou a se encalacrar
sob a gestão de Guido Mantega porque a realidade do mundo mudou, e os petistas
não conseguiram criar o seu próprio software. Eram e são muito mais talentosos
como piratas — inclusive da biografia alheia.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 18-02-2013
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