sexta-feira, 28 de junho de 2013

Equador aproveita caso Snowden para fazer proselitismo antiamericano

Francisco Vianna
O governo de Rafael Correa, do Equador – um dos chefes de estado mais antiamericanistas da América latina – anunciou na quinta-feira de ontem que, “em virtude das pressões de Washington para que repatrie o procurado espião americano Edward Snowden”, a quem deu salvo-conduto e estuda a outorga de refugiado político, “o Equador renuncia às preferências alfandegárias que recebe dos EUA”.

O presidente do Equador, Rafael Correa, durante sua intervenção na sessão plenária da XXII Cúpula Iberoamericana de Chefes de Estado e de Governo, que ocorre no Palacio de Congresos de Cadiz em que decisões são tomadas pelos chefes de Estado (E) [EFE/ J.J.Guilla¬On/POOL J.J. Guillén/EFE]. O mandatário ao discursar numa conferência de imprensa em Quevedo, ao sul de Quito. Correia renunciou "de forma irrevogável" às preferências comerciais outorgadas pelos EUA  (D) [Rodrigo Buendia / AFP/Getty Images]

O comunista Rafael Correa, que se define como seguidor do “socialismo do século XXI”, a versão chavezista do regime cubano, disse à imprensa que “Washington nos tem pressionado com ameaças de retirar do Equador as preferências alfandegárias cedidas por interesses comerciais por causa do caso Snowden. Nossa dignidade não tem preço e, assim sendo, renunciamos unilateral e irrevogavelmente a essas preferências alfandegárias, e mais, o Equador oferece uma ajuda econômica aos Estados Unidos... Com objetivo de melhorar a capacitação estadunidense em matéria de direitos humanos”.

Disse ainda que “o Equador não se considera moralmente superior a nenhuma nação do mundo… Mas, tampouco, vamos a aceitar posicionamentos cínicos cheios de moral dúbia que não têm como fundamento nem a razão nem a verdade, mas apenas a força e o poder”. “Entendemos que é preciso ter instrumentos para lutar contra o terrorismo, mas não podemos aceitar que neste afã se vulnerem os direitos humanos e dos povos”.

Por sua vez, o secretário de comunicação da presidência equatoriana, Fernando Alvarado, disse que “o Equador não aceita pressões nem ameaças de ninguém e não comercializa com princípios nem os submete a interesses mercantis por mais importantes que estes sejam”. “As preferências alfandegárias foram outorgadas pelos EUA aos países andinos como compensação pela sua luta contra as drogas, mas logo se tornaram um novo instrumento de chantagem por parte de Washington. Em consequência disso, o Equador renuncia de maneira unilateral e irrevogável a tais preferências”, declarou Alvarado à imprensa.

A atitude do governo equatoriano mostra o quanto poderá ser sacrificado o interesse nacional em nome da ideologia que move o atual regime do pequeno país sulamericano, uma vez que quase a metade do comércio exterior do Equador é efetuada com os EUA. Os negócios externos entre os dois países compreendem os de petróleo, de vegetais congelados, bananas, flores e de camarões, os quais, com o resto dos demais produtos foram responsáveis por um volume de mais de 10 bilhões de dólares.
Alvarado ironizou dizendo que “o Equador passa, assim, a oferecer a Washington uma ajuda econômica em torno de 33 milhões de dólares anuais – quantia essa que corresponde ao que o país vinha recebendo graças às citadas preferências alfandegárias, ora renunciadas – com o objetivo de melhorar a capacitação americana sobre direitos humanos de forma que contribua para evitar atentados à privacidade das pessoas, torturas, execuções extrajudiciais sumárias e demais atos que denigrem a humanidade”.

Tal proselitismo não parou por aí. Se estendeu quando Alvarado disse ainda que “o governo dos EUA não tem qualquer autoridade moral para exigir que Quito repatrie com urgência o Sr. Snowden, uma vez que Washington nunca atendeu aos pedidos de repatriamento de diversos fugitivos da justiça equatoriana, particularmente os banqueiros corruptos que quebraram o país em 1999, cuja extradição tem sido reiteradamente negada pelos Estados Unidos”.
Tal referência de Alvarado traz à memória o fato de uma dezena de banqueiros equatorianos, que fugiu do país depois que seus bancos não puderam honrar os depósitos de seus clientes, e causou milhares de dramas familiares. Nessa época, metade dos 42 bancos em operação no Equador fecharam suas portas e causaram uma profunda crise econômica que empurrou o país à beira da hiperinflação.

Esta foto é uma gentileza do jornal britânico The Guardian, de Londres, e mostra Edward Snowden, ex-agente da Agência de Segurança Nacional dos EUA, em Hong Kong, no domingo 9 de junho de 2013. (The Guardian / Foto AP)
Snowden, o ex-empregado da Agência de Segurança Nacional dos EUA e que divulgou os planos de espionagem contra cidadãos e estados americanos por parte da CIA e da Casa Branca, tem um pedido de asilo político sendo analisado pelo governo do Equador, depois de períodos onde esteve escondido em Hong Kong e depois em Moscou, onde permanecia até ontem à espera de uma definição de seu futuro.
O ex-espião estadunidense disse que “está sendo acusado de traição por Washington, e sua fuga ocorreu por considerar improvável que tivesse um tratamento justo e humano com o risco de pegar prisão perpétua em seu país”.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 28-06-2013

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