O governo de Rafael Correa, do
Equador – um dos chefes de estado mais antiamericanistas da América latina –
anunciou na quinta-feira de ontem que, “em virtude das pressões de Washington
para que repatrie o procurado espião americano Edward Snowden”, a quem deu salvo-conduto
e estuda a outorga de refugiado político, “o Equador renuncia às preferências
alfandegárias que recebe dos EUA”.
O comunista Rafael Correa, que
se define como seguidor do “socialismo do século XXI”, a versão chavezista do
regime cubano, disse à imprensa que “Washington
nos tem pressionado com ameaças de retirar do Equador as preferências
alfandegárias cedidas por interesses comerciais por causa do caso Snowden.
Nossa dignidade não tem preço e, assim sendo, renunciamos unilateral e
irrevogavelmente a essas preferências alfandegárias, e mais, o Equador oferece
uma ajuda econômica aos Estados Unidos... Com objetivo de melhorar a
capacitação estadunidense em matéria de direitos humanos”.
Disse ainda que “o Equador não se considera moralmente
superior a nenhuma nação do mundo… Mas, tampouco, vamos a aceitar posicionamentos
cínicos cheios de moral dúbia que não têm como fundamento nem a razão nem a
verdade, mas apenas a força e o poder”. “Entendemos que é preciso ter
instrumentos para lutar contra o terrorismo, mas não podemos aceitar que neste
afã se vulnerem os direitos humanos e dos povos”.
Por sua vez, o secretário de comunicação da presidência equatoriana, Fernando Alvarado, disse que “o Equador não aceita pressões nem ameaças de ninguém e não comercializa com princípios nem os submete a interesses mercantis por mais importantes que estes sejam”. “As preferências alfandegárias foram outorgadas pelos EUA aos países andinos como compensação pela sua luta contra as drogas, mas logo se tornaram um novo instrumento de chantagem por parte de Washington. Em consequência disso, o Equador renuncia de maneira unilateral e irrevogável a tais preferências”, declarou Alvarado à imprensa.
A atitude do governo
equatoriano mostra o quanto poderá ser sacrificado o interesse nacional em nome
da ideologia que move o atual regime do pequeno país sulamericano, uma vez que
quase a metade do comércio exterior do Equador é efetuada com os EUA. Os
negócios externos entre os dois países compreendem os de petróleo, de vegetais
congelados, bananas, flores e de camarões, os quais, com o resto dos demais
produtos foram responsáveis por um volume de mais de 10 bilhões de dólares.
Alvarado ironizou dizendo que
“o Equador passa, assim, a oferecer a
Washington uma ajuda econômica em torno de 33 milhões de dólares anuais –
quantia essa que corresponde ao que o país vinha recebendo graças às citadas
preferências alfandegárias, ora renunciadas – com o objetivo de melhorar a capacitação americana sobre direitos
humanos de forma que contribua para evitar atentados à privacidade das pessoas,
torturas, execuções extrajudiciais sumárias e demais atos que denigrem a
humanidade”.
Tal proselitismo não parou por
aí. Se estendeu quando Alvarado disse ainda que “o governo dos EUA não tem qualquer autoridade moral para exigir que
Quito repatrie com urgência o Sr. Snowden, uma vez que Washington nunca atendeu
aos pedidos de repatriamento de diversos fugitivos da justiça equatoriana,
particularmente os banqueiros corruptos que quebraram o país em 1999, cuja
extradição tem sido reiteradamente negada pelos Estados Unidos”.
Tal referência de Alvarado
traz à memória o fato de uma dezena de banqueiros equatorianos, que fugiu do
país depois que seus bancos não puderam honrar os depósitos de seus clientes, e
causou milhares de dramas familiares. Nessa época, metade dos 42 bancos em
operação no Equador fecharam suas portas e causaram uma profunda crise
econômica que empurrou o país à beira da hiperinflação.
O ex-espião estadunidense
disse que “está sendo acusado de traição
por Washington, e sua fuga ocorreu por considerar improvável que tivesse um
tratamento justo e humano com o risco de pegar prisão perpétua em seu país”.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 28-06-2013
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